Resultado da empresa não justifica demissões, único prejuízo se refere a perdas em na especulação financeiraA Embraer utilizou a crise econômica internacional para justificar as mais de 4.200 demissões anunciadas pela empresa no dia 19 de fevereiro. A fabricante de aeronaves afirmou que a queda nas encomendas para 2009 forçou uma redução nos investimentos e o conseqüente corte de 20% em seu quadro de funcionários.

De acordo com dados disponibilizados pela própria Embraer, a receita e o lucro da empresa não diminuíram nos últimos anos. Pelo contrário. A receita líquida da Embraer foi, em 2005, de R$ 9 bilhões. No ano seguinte, conquistou R$ 8,2 bilhões, resultado também nada desprezível. Em 2007 voltou novamente a ter R$ 9,9 bilhões. Em 2008, até novembro, a empresa havia tido R$ 7,6 bilhões.

Esses bons resultados coincidem com a produção da empresa e o aumento na entrega de aeronaves. Em 2007 a Embraer entregou 169 aviões. Em 2008 a produção aumentou para 204. A previsão para 2009 era a entrega de 270 aeronaves, estimativa reduzida para 243 aviões quando a empresa anunciou os cortes.

A empresa contava, em novembro de 2008, com 23.653 trabalhadores no total. Com as demissões, passa a ter 19.383, pouco mais do que tinha em 2006. A diferença é que, naquele ano, a Embraer entregou 130 aviões, menos do que o previsto para 2009, mesmo com a queda na demanda que a empresa afirma sofrer.

Especulação
Os lucros da empresa também cresceram nos últimos anos. Em 2006, foram R$ 622 milhões. No ano seguinte, R$ 657 milhões. No ano passado, porém, houve uma desaceleração. Até novembro de 2008, os lucros líquidos da empresa eram de R$ 191 milhões. Por que os lucros caíram? As razões tem relação com as perdas que a empresa teve especulando no mercado financeiro.

O demonstrativo da própria empresa no terceiro trimestre de 2008 mostra que ela especulou com aplicações de derivativos baseadas na variação cambial e perdeu muito dinheiro. O tipo de investimento de risco assumido pela Embraer seria o mesmo realizado por empresas como Sadia, Aracruz e Votorantim.

Segundo o Comunicado ao Mercado divulgado pela Embraer em 10 de outubro de 2008, a empresa teria perdido R$ 189 milhões no terceiro trimestre do ano com derivativos.
De acordo com o comunicado ao mercado, os gastos financeiros da empresa foram de R$ 924 milhões até o terceiro trimestre de 2008, enquanto que, em 2007, os gastos financeiros acumulados até esse período somavam R$ 85 milhões.

A empresa diz que perdeu em torno de R$ 189 milhões. Isso representa algo em torno de 30% do lucro líquido de 2007. Logo, podemos admitir que R$ 189 milhões representa cerca de 20% do lucro líquido de 2008, que seria menor. Ou seja, os 20% nos cortes com salários que representaram as demissões é para compensar essas perdas.

Por que demitir?
Isso significa que a empresa demite para cobrir custos com perdas que teve com a especulação. Os dados, porém, mostram que mesmo com essas perdas a empresa ainda tem muito dinheiro em caixa, estando longe de uma situação de dificuldades financeiras.

A empresa contaria com R$ 10,9 bilhões em caixa. Para se ter uma idéia, para cada R$ 1 que ela deve, conta com R$ 1,54 para gastar na hora. Ou seja, a Embraer é uma empresa lucrativa, perdeu com especulação financeira, mas ainda assim tem muito dinheiro em caixa. Não há razão para demitir.

Uma possível explicação para as demissões da Embraer é um avanço na internacionalização da empresa, com a transferência de suas atividades no Brasil para outros países.

Hoje, embora o governo e os fundos de pensão controlados pelo PT detenham grande parte do controle da empresa, a maior parte dela está nas mãos de grupos estrangeiros – 51% das ações da Embraer estão na Bolsa de Nova Iorque ou pertencem a grandes grupos de investimentos norte-americanos.

É preciso exigir da empresa a abertura de todas as suas contas, a fim de se verificar realmente quais são os lucros levados pelos acionistas estrangeiros.

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