Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Erika Andreassy, da Secretaria de Mulheres do PSTU

Erika Andreassy, do ILAESE

O Brasil, que já é um dos países mais desiguais do mundo, conseguiu ver a concentração de renda aumentar ainda mais. Segundo o IBGE, em 2018, o 1% da população mais bem remunerada recebeu cerca de 34 vezes mais que os 50% mais pobres, maior patamar desde 2012, quando o órgão passou a medir os dados.

Enquanto o ganho médio do setor mais abastado foi estimado em R$ 27.744 mensais, a renda dos mais pobres ficou em R$ 820, ou seja, mais da metade da população teve rendimento menor que um salário mínimo por mês em 2018, sendo que 5% ou cerca de 10 milhões de pessoas, tiveram ingresso de apenas R$ 153 reais.

Esses dados indicam de forma nítida aquilo que há muito tempo vimos denunciando. Quem paga a conta da crise capitalista é a classe trabalhadora. Não é coincidência que esse aumento da desigualdade ocorra em meio a uma enorme taxa de desemprego e precarização cada vez maior das relações de trabalho. O Brasil possui hoje 12,6 milhões de desempregados e outros 38,8 milhões de trabalhadores no mercado informal, um recorde.

RACISMO REVELADO
Trabalhador branco recebe salário 75% maior do que negros

O IBGE revela ainda o abismo que separa negros e brancos no país e como o mercado de trabalho brasileiro reflete o racismo. No ano passado, os brancos recebiam, em média, R$ 2.897, enquanto pretos e pardos tinham rendimentos de R$ 1.636 e R$ 1.659 respectivamente. Isso significa que o valor recebido por um trabalhador branco foi 77% a mais do que pretos e 74% maior do salário recebido uma pessoa parda segundo os critérios de raça do IBGE.

Se é verdade que a desigualdade salarial entre homens e mulheres caiu, o rendimento dos homens continua sendo 26,9% maior que o das mulheres, sendo que no caso das mulheres negras, a combinação de racismo com machismo tem como consequência, além de índices de desemprego e desalento maiores, também os menores rendimentos, que representam pouco mais de 40% do rendimento do homem branco.

VAI FICAR PIOR
Reforma da Previdência vai aumentar desigualdade

A pesquisa do IBGE apurou que a participação de aposentadoria e pensão vem ganhando importância na composição do rendimento médio das famílias. Embora a maior fonte de renda ainda seja o trabalho (72,4%), o peso das aposentadorias e pensões subiu de 19,9% para 20,5% entre 2017 e 2018. Entre as famílias mais pobres esse peso é ainda maior, 28,8%.

As aposentadorias e pensões, programas sociais e bolsas de estudo, por um lado, e os rendimentos não monetários, que são as aquisições que as famílias não precisaram pagar e vão desde uma doação recebida a um remédio retirado no posto de saúde, respondem por quase 60% da renda das famílias que ganham até 2 salários mínimos. São quase 25% das famílias brasileiras ou 16,5 milhões de lares nos quais vivem 44,8 milhões de pessoas cuja renda dependem majoritariamente desses recursos.

A reforma da Previdência de Bolsonaro, aprovada pelo Senado no dia 22 de outubro, deve agravar ainda mais a desigualdade, na medida em que os mais pobres serão os mais impactados. Ao mesmo tempo, a proposta de reforma administrativa que o governo quer implementar também representa um enorme ataque, pois vai rebaixar salários, promover terceirizações e piorar os serviços à população.

RICOS + RICOS
O que dizem os dados do IBGE

Esses dados demonstram de maneira evidente quem paga a conta da crise capitalista. Aliás a pergunta é: crise para quem?

Vale destacar que esses dados só podem vir a público pelo trabalho do IBGE que o governo Bolsonaro tanto crítica e ataca. Se um setor da burguesia tenta a todo custo manipular dados e informações a seu favor, para outro setor burguês que hoje está no governo, as informações sequer devem existir, como se esconder a verdade pudesse apagá-la em definitivo.

Contudo, vale destacar que embora que os dados do IBGE sejam importantes, eles se baseiam principalmente na renda do trabalho e quase não levam em conta ganhos financeiros ou provenientes das grandes fortunas. Portanto, medem sobretudo as mudanças no interior da classe trabalhadora, ainda que englobem um setor muito abastado.

Nesse sentido, o relatório da Oxfam “A distância que nos une – Um retrato das desigualdades brasileiras”, publicado em 2017, é mais preciso. De acordo com ele, seis bilionários brasileiros concentram uma riqueza equivalente ao patrimônio da metade mais pobre da população do país.

Essa desigualdade crescente entre ricos e pobres, entre os que produzem a riqueza e os que se apropriam dela, é o que está na base das explosões sociais que tomam conta da América Latina e do mundo. É preciso seguir o exemplo do povo equatoriano e chileno e dizer não à exploração e à opressão, derrotar nas lutas e nas ruas Bolsonaro e seu projeto de semiescravidão e construir uma alternativa socialista dos trabalhadores.