Foto: Daryan Dornelles
Redação

Cyro Garcia, do Rio de Janeiro

Por duas vezes minha vida se cruzou com a de Marcelo Yuka. Fora, é claro, a sua arte que sempre me inspirou com a força da sua poesia. A primeira vez foi quando integramos o rol de entrevistados do documentário “Alma Suburbana”, dirigido por Luiz Claudio Lima, Hugo Labanca, Leonardo Oliveira e Joana D’Arc. O filme mergulha na alma suburbana através das experiências de diversas pessoas: Marcelo Yuka falou de sua trajetória em Campo Grande, eu falei da minha infância e juventude em Vista Alegre, além dos depoimentos de Luis Carlos da Vila, também falecido, Tico Santa-Cruz, Eryk Rocha, filho de Glauber Rocha, entre vários outros depoentes. Orgulho-me de ter participado deste filme, e a participação do Yuka foi contundente como sempre. Dentre outras coisas ele falou: “A falta de políticas públicas, de empenho econômico da região não é positivo, mas o jeito que a gente se vira pra não ser massacrado por isto, é!“.

Posteriormente tive o privilégio de ser recebido por ele em sua casa, juntamente com meu amigo Felipe Demier. Fomos fazer uma discussão sobre a conjuntura política e tive a satisfação de ouvir dele que eu fazia parte do seu time de candidatos e que era meu eleitor. Na ocasião colocou sua preocupação com a unidade da esquerda para combater o governo petista e a direita. Foi um papo muito bom. Apesar da tragédia que lhe abateu, nunca deixou de ter clareza em relação às verdadeiras vítimas desta sociedade excludente: “Todo camburão tem um pouco de navio negreiro“. Seu corpo se foi, mas vamos estar com ele presente todos os dias lutando pela paz que ele queria: “A minha alma tá armada e apontada para a cara do sossego, pois paz sem voz, não é paz é medo“.