Uma das resoluções do encontro é a reativação da Câmara Setorial, um “espaço para a negociação”. O pacto social está de voltaO Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, filiado à CUT, promoveu um seminário com a presença de representantes das prefeituras da região, do governo estadual, do governo federal, sindicatos e patrões. Participaram dirigentes das associações patronais de São Paulo, como FIESP e CIESP, e das montadoras, através da Anfavea.

O evento, chamado de “ABC do Diálogo e do Desenvolvimento” ocorreu na semana passada, nos dias 11 e 12 de março, no ABC paulista. Na semana em que se comemoram 30 anos da poderosa greve dos metalúrgicos do ABC de 1979, em plena ditadura, os sindicalistas da CUT resolvem dialogar sobre a crise com aqueles que fazem de tudo para jogá-la nas costas dos trabalhadores.

A região do ABC, assim como os centros industriais do país, tem sentido o drama do desemprego, do fechamento de fábricas, da redução de salários e direitos. A produção de automóveis no país caiu 24,1% em janeiro e fevereiro, comparando com o mesmo período de 2008. Grandes montadoras estão instaladas no ABC, como a Ford e a Volkswagen, além de centenas de autopeças. Os números da indústria são igualmente assustadores. Desde o início da crise, o estado de São Paulo já perdeu 236 mil postos de trabalho na indústria.

As demissões ocorrem após anos de crescimento econômico, onde os patrões lucraram como nunca. Agora, para manter seus lucros, demitem em massa. São estes empresários que a CUT e o sindicato convidaram para conversar.

PACTO SOCIAL
A imprensa da região destacou a presença da ministra Dilma Rousseff. Além de já estar em plena campanha para 2010, o PT e a CUT construíram o evento para debater as bases de um pacto social na região.

A carta aprovada defende a reinstalação imediata da Câmara Regional do Grande ABC, “que será o fórum de articulação para a consolidação e implementação das propostas”, segundo definido na Carta ABC, aprovada ao final do seminário. Analisando o conteúdo da carta, o que se percebe é a completa ausência de medidas ou sequer exigências em defesa dos empregos dos trabalhadores.

O texto repete as linhas gerais, com defesa do mercado interno e crédito para as empresas, com dinheiro público. E desemboca para um mundo de fantasias, onde somos todos amigos, patrões e empregados. Os trechos a seguir ilustram a que ponto chegou a CUT desde que abandonou a luta de classes e passou a acreditar nos patrões. “O Grande ABC afirma que a crise será superada com a valorização da negociação, do trabalho, da produção, das pessoas e da cidadania, tendo como valores fundamentais a pluralidade, o respeito à pessoa humana e a democracia.” “O sucesso de nossas ações permitirá que saiamos desta crise mais fortes e unidos do que quando entramos”.

Nos últimos dias, os números da economia derrubaram a tese de uma crise passageira. Mas o presidente do sindicato dos metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, permanece acreditando que dias melhores virão em breve. Em entrevista ao site do sindicato do ABC, ele supera as previsões mais otimistas, e aposta que as negociações entre patrões e empregados, na Câmara Regional, possam pôr fim à crise. “Temos a chance de uma participação efetiva, não só para discutir como superar a crise, mas também discutir como é possível melhorar o ABC”, afirmou.

Até um passado recente, os aliados da CUT neste seminário (o governo estadual, do PSDB; a FIESP e a Anfavea) defendiam um estado mínimo, receitando as privatizações como saídas para todos os males. Hoje, os novos aliados da CUT defendem que o estado é o máximo, que tem de ajudar os pobres empresários, com crédito barato, financiamentos a perder de vista etc. Enquanto isso, os trabalhadores terão que se contentar com o aumento das parcelas do seguro desemprego, caso tenham carteira assinada. E amargarão o desemprego, que já assola duramente os grandes centros industriais do país.

LUTA
Enquanto a CUT tenta reproduzir um embrião de pacto social, os lutadores e socialistas deste país sairão às ruas para defender aqueles que esta, que já foi a central mais combativa do país, deixou de defender, os trabalhadores. Defendemos a redução da jornada de trabalho para 36 horas semanais sem redução dos salários, uma MP (Medida Provisória) em caráter emergencial que garanta a estabilidade no emprego, o controle de capitais, e a reestatização das ex-estatais, como Embraer, Vale, CSN e Cosipa.

O caminho não é o de câmaras e pactos entre patrões e empregados. O que os patrões, com seus bônus e lucros guardados, podem nos ensinar? Eles sabem como fazer para pagar as contas sem o salário no fim do mês?

É preciso seguir o exemplo dos trabalhadores da Arteb, de São Bernardo do Campo, que recusaram o acordo proposto de redução salarial. O acordo era defendido pelo sindicato e pela empresa, mas os trabalhadores disseram não ao golpe, que logo se transformaria em demissões.

É hora de dar o troco. É possível que vejamos a primeira grande resposta dos trabalhadores contra a crise, em um dia de luta com trabalhadores convocados por diversas centrais sindicais. A Conlutas está discutindo se deixa a data de 1º de abril, para construir um grande e unitário dia de luta em 30 de março.

* Com Rogério Romancini, de São Bernardo do Campo (SP)

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Leia a íntegra da Carta ABC