É possível que o capitalismo retorne pelas mãos dos mesmos dirigentes que fizeram a revolução? Certamente este é outro debate muito polêmico entre a esquerda. Contudo, a história recente comprovou que isso não só aconteceu de fato, como foi realizado sob o discurso de “fortalecer o socialismo”.

Um exemplo disso foi a restauração do capitalismo na China, realizada pelas mãos daqueles que tomaram o poder em 1949.

O debate dentro do Partido Comunista Chinês sobre a abertura da economia ao capital estrangeiro ganhou força após a morte de Mao Tse Tung. Em 1979, a ala da burocracia dirigida por Deng Xiaoping (dirigente da revolução ao lado de Mao), tomou o controle do partido e iniciou a abertura econômica, estabelecendo zonas econômicas especiais para as multinacionais operarem livremente dentro do país.

Em seguida, o PC chinês pôs fim ao monopólio do estado do comércio exterior que, em essência, era uma medida protetora da economia estatal contra a penetração do capital externo. Ao longo dos últimos anos o processo se aprofundou com privatizações, maiores benefícios aos investidores estrangeiros, o ingresso do país na OMC, etc.

É importante lembrar que todas estas medidas foram implementadas em nome do “marxismo” e do ” socialismo com características chinesas”, como repetem a exaustão os dirigentes em todos os congressos do partido.

A experiência chinesa mostrou claramente de que é possível restaurar o capitalismo, ou seja, modificar o caráter socioeconômico do Estado, sem mudar o regime político.

Em nossa opinião se dá algo similar em Cuba. O retorno do capitalismo foi impulsionada pelo PC e pela cúpula castrista, que hoje (assim como a burocracia do PC Chinês) também obteve grandes benefícios.

É a ditadura do PC chinês que garante os investimentos estrangeiros e a superexploração dos trabalhadores do país. Não foi por outro motivo que foi a China, e não os países do Leste Europeu e a Rússia, que recebeu grandes investimentos estrangeiros após 1989 – ano do massacre da Praça da Paz Celestial.

Na China, a média do salário por hora é atualmente de 0,90 dólares – abaixo da Indonésia, que é de U$ 1,8, das Filipinas, de U$ 1,3, e da Tailândia, de U$ 3. O custo da mão de obra chinesa na produção de uma carro é de U$ 200. Um paraíso para os capitalistas estrangeiros, assegurado pela ditadura férrea do PC chinês.

O regime castrista também é uma garantia para os investimentos estrangeiros. Afinal, dificilmente trabalhadores cubanos do grupo empresarial espanhol Sol Meliá, que controla a rede hoteleira da ilha, terão permissão para realizar uma greve por melhores salários.

A “via chinesa” parece ser o caminho adotado pelo PC cubano para aprofundar a restauração.