Comboio reuniu cerca de 40 ativistas e levou oito toneladas em ajuda para os trabalhadores de Nova Friburgo. No próximo dia 13, a entidade enviará um segundo comboio a regiãoSete carros de ativistas e sindicatos, um caminhão baú com oito toneladas de mantimentos, roupas, material de higiene e limpeza, fraldas, absorventes, e água, muita água.

Este foi o saldo inicial que permitiu a construção do Comboio Classista de Solidariedade. Impulsionado pela CSP-Conlutas do Rio de Janeiro rumou, no último dia 20, para Nova Friburgo e levar a solidariedade de classe aos trabalhadores e ao povo pobre atingidos, por um lado pela fúria da natureza, mas principalmente pela irresponsabilidade dos diferentes governos que não investiram em medidas preventivas que pudessem evitar as mortes e minimizar as perdas materiais.

Foram poucos dias de muita agitação na sede da CSP-Conlutas – RJ. Organizar o Comboio, arrecadar os fundos junto aos sindicatos, comprar os itens levados até a cidade serrana.

O Comboio Classista de Solidariedade reuniu cerca de 40 ativistas e dirigentes da CSP-Conlutas, da Anel, do DCE da UFRJ, e de sindicatos como o Sindsprev, Sindjustiça, Comerciários da Baixada, Petroleiros do Rio, SEPE (trabalhadores em educação do estado), Oposição Bancária. Além de uma representação do mandato do Vereador de Niterói, Renatinho (PSOL) o Comboio teve a ativa participação das dirigentes da Associação de Moradores da Comunidade do Metrô. Comunidade que está na linha de frente contra as injustificadas remoções que o prefeito do Rio – Eduardo Paes (PMDB) – pretende impor em função das Olimpíadas e da Copa do Mundo. Aliás, foram estas dirigentes que conseguiram o caminhão que permitiu o transporte de toda a carga até Nova Friburgo. No próximo dia 13, a entidade enviará um segundo comboio a região serrana do Rio.

Uma cidade embaixo da lama
Os pequenos barrancos desmoronados na entrada da cidade não preparavam ninguém para as cenas que veríamos. A agradável cidade serrana de Nova Friburgo hoje se parece mais com uma cidade bombardeada. Toneladas de lama se espalham em monturos pelas vias. Em cada rua se vê cenas da destruição. São armários, camas, mesas, cadeiras, colchões colocados nas calçadas. Tudo destruído pelas águas. No Rio Bengalas, que corta a cidade, automóveis submersos dão conta da tragédia. Nas encostas casas e casas literalmente destruídas. Nas ruas casas e mais casas desmoronando, tomadas pela lama. As pessoas caminham apressadas, algumas ainda atônitas. Muita gente usando máscaras cirúrgicas para se proteger da poeira constantes, que gruda na pela, mas também da possibilidade de doenças transmissíveis pelo ar. Aqui e ali galochas de borracha para proteger-se dos riscos da água e da lama contaminadas.

Olhar para o céu na região serrana ainda é preocupar-se quando nuvens cinzentas se formam. Mesmo após a tragédia não há nenhuma tipo de alarme para emergência. Assim como não havia nenhum tipo de precaução desde os governos municipais, estadual ou federal que pudesse minimizar ou evitar a magnitude da tragédia. Não havia plano de evacuação, nada.

Entretanto por trás destas cenas de filme apocalíptico estão as tragédias humanas. As famílias com vítimas fatais, A casa que foi, literalmente, destruída. A comida que acabou, a água potável que falta. A idéia que alguém possa perder tudo, em Nova Friburgo é real.

Chegar à cidade e ver os companheiros de luta vivos. Abraçar cada um e cada uma foi uma emoção que somente a militância e os desafios em comum são capazes de expressar. Porém havia muito a fazer.

Afinal chegar do Rio a Nova Friburgo, subindo uma serra com um caminhão carregado tomou horas. Havia que aproveitar enquanto havia luz do dia para chegar ao Distrito de Conselheiro Paulino e fazer a distribuição aos trabalhadores e ao povo.
O Comboio Classista de Solidariedade reuniu-se então com os militantes e ativistas locais na sede do Sindicato dos Metalúrgicos e aí terminou-se de organizar como seria a distribuição.

Abrimos as portas do caminhão e logo uma fila de forma organizada se formou. Muitas famílias abriam mão da cesta básica dizendo preciso mesmo é da água. Outros diziam: “Água ainda tenho, levarei a alimentação”. Alguns até mesmo abriam mão da água ou da cesta dizendo: “Nesse momento a necessidade maior é das fraldas descartáveis para as crianças”.

Seguir com a solidariedade, mas cobras dosgovernos
É preciso seguir com a solidariedade aos trabalhadores e ao povo pobre das cidades atingidas, mesmo depois que a grande mídia deixar de por em evidencia a tragédia.
Porém também precisamos afirmar: Tudo o que o poder público, as diferentes esferas de governo, fizeram até agora é muito pouco diante da magnitude da tragédia.

Não há saída, nós trabalhadores devemos tomar nosso destino em nossas próprias mãos. É necessário levantar um programa que responda ao problema imediato, mas também às questões mais de fundo (ver páginas 6 e 7). Também é possível construir uma associação das vítimas, dar um caráter orgânico ao processo embrionário de organização para a superação dos problemas causados por essa tragédia.

Assim é possível reagrupar o conjunto dos trabalhadores, de todas as regiões atingidas, para que tragédias como essa nunca mais caiam no esquecimento e não aconteçam mais mediante a qualquer queda de chuva.
Post author Milguel Malheiros, do Rio de Janeiro
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