A convite do International Labour Research and Information Group (ILRIG, Grupo de Pesquisa e Informação Internacional sobre o Trabalho), a CSP-Conlutas e o Quilombo Raça e Classe, representada pelos autores deste artigo, irá participar, esta semana, na Cidade do Cabo (África do Sul) do curso “Novas formas: organizando na Era do Neoliberalismo”.

A Escola de Formação, que contará com a participação de cerca de 200 representantes de vários países da região e outras partes do mundo, é destinada a discutir a reorganização dos movimentos sociais que vem sendo provocada tanto pelos desafios impostos pela lógica neoliberal, quanto pela cooptação e traições das direção tradicionais e majoritárias dos movimento sociais, a exemplo do PT, CUT e UNE (no Brasil) ou do Congresso Nacional Africano (CNA) e do Congresso Sul Africano de Sindicatos (Cosatu).

O curso terá início no sábado, dia 22, e neste artigo (que pretendemos ser o primeiro de uma série) iremos apresentar sua pauta, que já dá a dimensão da atividade e o quanto ela tem a ver com o que estamos lutando para construir no Brasil.

Muitas vozes, um só luta
Este foi o lema da Reunião Internacional, realizada em maio de 2012, logo após o primeiro 1º Congresso Nacional da CSP-Conlutas, do qual participaram entidades dos movimentos sociais representantes de algumas dezenas de países, dentre eles o ILRIG, da África do Sul, com a qual a nossa central tem mantido um diálogo constante, em torno de temas relativos à reorganização e de diversas lutas, particularmente no setor de mineração e os atingidos pela Vale.

Fruto desta relação e das proximidades que existem entre o que vemos no Brasil, com o governo do PT, e na África do Sul, hoje governada pelo CNA, a CSP-Conlutas e o Quilombo foram convidados não só para participar da Escola, mas também integrar  duas mesas para compartilhar a experiência que estamos construindo no Brasil.

A luta pela reorganização: África, Brasil e Canadá
Não por acaso, a primeira atividade programada é uma mesa intitulada “A situação das lutas da classe trabalhadora antes e depois de Marikana” (onde ocorreu, no ano passado, o vergonhoso e lamentável massacre, promovido pela policia, que deixou 34 mortos e cerca de 70 feridos).

A mesa será coordenada por um representante do Sindicato Geral dos Trabalhadores da Indústria da África do Sul (GIWUSA) – uma entidade independente que organiza diversos setores da classe operária, como construção civil, químicos, e trabalhadores do transporte – e por uma organização do movimento popular chamada Khanya, que irá debater o massacre de Marikana dentro do processo de globalização.

Na sequência, será a vez da CSP-Conlutas compartilhar sua experiência na mesa “Organizando: antes e agora, no Brasil” , na qual iremos contar um pouco de nossa história, o porquê da ruptura com a CUT e, principalmente, como nos organizamos e funcionamos nos dias de hoje. Este primeiro bloco de debates será fechado pela USW, a entidade sindical canadense que organiza os trabalhadores da mineração e aço.

Ainda no domingo, os participantes serão divididos em grupos de trabalho que se deterão sobre setores e movimentos específicos no processo de reorganização: sindical, popular, das mulheres e da juventude. 

Aprendendo com as novas experiências
O curso propriamente dito terá início com um painel conduzido por Leonard Gentle, coordenador do ILRIG e intitulado “Experiências de organização, no passado e no presente: lições e desafios para os movimentos atuais”. Logo após, os participantes serão divididos em grupos que, no decorrer da semana, irão intercalar sessões de estudos e reuniões dos grupos de trabalho mencionados acima, com mesas e painéis (coordenados por entidades sindicais e populares de diversas regiões e setores) com os seguintes temas:

  •  Greves e protestos populares na atualidade: oportunidades e desafios para nossos movimentos.
  • Qual deve ser a posição dos sul-africanos diante das eleições de 2014?
  • Exemplos de novas formas de organização: ativismo cultural, novos locais de trabalho, novas formas de internacionalismo e distintas formas de organização.
  • Movimentos popular e sem-terra.
     

O segundo painel coordenado pelos representantes da CSP-Conlutas e do Quilombo Raça e Classe, intitulado “Exemplos de novas formas de organização” será na quinta, em uma mesa que também contará com a participação da USW e da entidade que dirige os trabalhadores das minas de ouro da Tanzânia.

As atividades serão finalizadas com outro painel sobre o massacre – “Marikana, um ano depois: rumo a um novo movimento”.

E, como ninguém é de ferro, tudo isto será acompanhado por apresentações culturais (saraus, teatro e cinema), além de visitas a movimentos e regiões da Cidade do Cabo.

Um aprendizado inestimável
Como fica evidente pela programação, o evento tem enorme importância para o processo político e organizativo que estamos vivendo no Brasil desde a chegada do PT ao poder e, particularmente, desde a fundação da CSP-Conlutas, o que nos dá a certeza de que iremos aprender muito (e contribuir da forma que for possível) em relação a um debate fundamental para os rumos das lutas mundo afora: a necessidade de buscar novas formas de organização, independente dos governos, dos patrões e, também, das velhas direções que, hoje, viraram as costas para os trabalhadores e abraçaram o projeto neoliberal.

Um aprendizado ainda mais importante na medida em que aponta para o único caminho para superar a atual situação: o internacionalismo. Por isso, no decorrer das atividades iremos tentar manter nossos companheiros e companheiras acompanhando estes debates através de artigos diários.

Wilson Silva é membro do Quilombo Raça e Classe e da Secretaria de Negras e Negros do PSTU e Rafael Ávila é do Metabase de Inconfidentes