15º dia de resistência
Luiz Gustavo Porfírio

Relatamos aqui os principais fatos da revolução árabe. Acompanhe a luta para derrubar a ditadura de Mubarak, com informações de nosso enviado especial25/1
Encorajada pelo recente processo da Tunísia, onde a ação das massas acabara de derrubar o ditador Ben Alí, a convocatória para uma “Jornada de Protestos”, realizada por várias organizações de oposição ao regime de Hosni Mubarak, foi respondida por milhares de pessoas no Cairo e em outras cidades do Egito. Exigiam liberdade, a renúncia de Mubarak e mudanças econômicas. Houve uma dura repressão policial que deixou os primeiros mortos e feridos.

Leia a Declaração da LIT-QI sobre a intifada tunisiana

26/1
A mobilização continua no Cairo. Em Suez, uma marcha de 10 mil pessoas enfrenta a polícia e ataca seus veículos.

27/1
Apesar da forte repressão policial, o processo se consolida no Cairo e tem como objetivo a ocupação da praça Tahrir (Liberdade). Num discurso na televisão, Mubarak diz que “não cederᔠe que “a democracia tem limites”. A Irmandade Muçulmana muda sua posição e começa a apoiar a rebelião. Mohamed El Baradei volta ao Cairo e declara que vai trabalhar por uma “mudança pacífica e ordenada”. O governo de Israel, de Benjamín Netanyahu, através de seu chanceler Avigdor Lieberman, apoia Mubarak e diz que é “garantia de estabilidade e de manutenção dos acordos de paz” entre Egito e Israel.

Leia: O povo sai às ruas para derrubar ditador

28/1
Inflamadas pelo discurso de Mubarak, as mobilizações se consolidam e crescem no Cairo. Mubarak faz mudanças em seu gabinete e nomeia um vice-presidente, Omar Suleiman, ex-chefe dos serviços secretos, de grande prestígio no exército. Nas mobilizações, os manifestantes e as tropas do exército começam a confraternizar. Nos mercados internacionais, a situação do Egito faz disparar o preço do barril de petróleo para cerca de US$ 100.

29/1
As mudanças no governo não enfraquecem a mobilização. Pelo contrário, elas continuam crescendo. Acontece o Dia da Cólera. “Queremos uma mudança de regime e não de rostos”, dizem os manifestantes. Adaptando-se ao ânimo das massas, El Baradei declara que “se o regime não cair, a intifada egípcia vai seguir: Mubarak deve sair”. O exército se limita a controlar, e todo o peso da repressão está nas mãos da polícia.

30/1

A mobilização obriga a polícia a recuar. A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, pede uma “transição ordenada”, a “abertura de diálogo com a oposição” e “mudanças”. Num acontecimento muito confuso, milhares de presos comuns “fugiram” das prisões do Cairo. Nos bairros mais ricos da cidade, encorajados pelo ministro do Interior, se formam grupos armados de “defesa contra os saques”. A rede de TV árabe Al Jazeera estima que já são 150 mortos (oficialmente, admitia-se 120).

31/1
As organizações de oposição chamam o Dia do Milhão e a coordenação da organização “6 de abril” (formada em 2008, depois de uma onda de greves dos trabalhadores têxteis de Mahalla, no delta do Nilo) convoca uma greve geral. O exército declara oficialmente que as exigências dos manifestantes são “legítimas” e que “não vai utilizar a força” contra os mesmo.

Leia o Suplemento do Correio Internacional da LIT-QI

1º/2
Acontece o Dia do Milhão. Segundo os cálculos da imprensa, um milhão e meio de pessoas se manifestaram no Cairo, concentrando-se, principalmente, na Praça Tahrir. Num discurso na TV, Mubarak diz que não se candidatará à reeleição em setembro, mas não renunciará.

2 e 3/2
O governo tenta um contra-ataque para retomar a Praça Tahrir, através de bandos parapoliciais que entram nela com cavalos e camelos para avançar sobre os manifestantes com pedras, coquetéis molotov e tiros. Ficam vários mortos e centenas de feridos. O presidente dos EUA, Barack Obama, pede “mudanças” no Egito e que o “governo egípcio escute a voz de seu povo”, mas não exige a renúncia de Mubarak. O New York Times informa sobre negociações para a saída do presidente Egípcio.

Leia “Carta do Egito”, do correspondente do Opinião Socialista e do Correio Internacional no Cairo

4/2
Os manifestantes derrotam os bandos governistas e mantêm o controle da praça. Acontece o Dia da Partida, que concentra o maior número de participantes desde o início das mobilizações. Chegam delegações de Suez e internacionais para somarem-se. Os bandos governistas e a polícia começam a atacar jornalistas internacionais (incluindo norte-americanos, belgas, de países árabes e brasileiros) e lhes impede o acesso à praça. Entre os manifestantes, começa a se debater sobre ir ou não ao Palácio Presidencial (localizado a uns 15km da Praça Tahrir).

Leia “Direto do Egito II: O dia P”, do correspondente do Opinião Socialista e do Correio Internacional no Cairo

5/2
O exército se limita a controlar os acesos à praça e a tentar evitar que as pessoas entrem. Porém, caso a caso, frente à pressão da multidão, os militares acabam cedendo, e os manifestantes entram. O general Hassam el-Rawani vai a Tahrir discursar pedindo aos manifestantes que se retirem. As pessoas respondem com gritos: “Não vamos sair! Ele que se vá!”.

Leia “Direto do Egito III: Eles não vão sair”, do correspondente do Opinião Socialista e do Correio Internacional no Cairo

6/2
Pela primeira vez desde o início do processo, a oposição burguesa, incluindo a Irmandade Muçulmana e a Coalizão Para a Mudança, de El Baradei, se reúne oficialmente com o governo, através do vice-presidente Omar Suleiman. Este propõe reformar a Constituição e revogar a repressiva lei de emergência, mas mantém a proposta de que Mubarak siga até setembro próximo e não se candidate nas eleições para se reeleger. A oposição rechaça este ponto e exige sua saída imediata, mas aceita discutir um “roteiro” de negociações. Na praça, os manifestantes rechaçam estas negociações e questionam o direito de quem participou de negociar em seu nome. Depois de vários dias fechados, reabrem os bancos, mas com um “curralito” ao estilo argentino (um limite pequeno para saques). Formam-se longas filas nas agências bancárias e caixas automáticos. Informes da imprensa internacional estimam que a fortuna acumulada por Mubarak durante 30 anos no poder é de cerca de US$ 70 bilhões de dólares, incluindo luxuosas mansões nas principais cidades do mundo, numerosas empresas e ações de grandes corporações.

Leia a declaração da LIT-QI: A revolução árabe em perigo

7/2
Diante da manutenção pelo governo da proposta de que Mubarak siga no poder até as eleições de setembro, os manifestantes instalam barracas na Praça Tahrir e se preparam para uma longa resistência. Alguns expressam, em declarações à imprensa internacional: “Se Mubarak ficar, terá fracassado a revolução”. Por outro lado, numa tentativa de aliviar a situação e tirar a base social da rebelião, o governo anuncia um aumento de 15% para os seis milhões de funcionários públicos.

Leia “Jornalistas denunciam: ‘Os donos dos jornais apoiam Mubarak’”

8/2

Com o critério de realizar grandes ações apenas nas terça e sexta-feira, mais de 300 mil pessoas se concentram na Praça Tahrir no Cairo. Além disso, grandes colunas marcham da praça até o Parlamento para exigir a renúncia de Mubarak. A palavra-de-ordem central é “Não vamos embora se ele não for”. Há, também, grandes concentrações e mobilizações em Alexandria e outras cidades do interior do país.

Depois de vários dias preso, é libertado Wael Ghamin, um jovem executivo da Google do Egito, que incentivou o movimento contra Mubarak nas redes sociais. Na praça, ele disse aos manifestantes: “Um governo que ameaça seu povo deve ser derrubado”. A multidão responde: “Queremos que caia o regime”. Joe Biden, vice-presidente dos EUA, pede que sejam revogadas as leis de repressão, mas o governo norte-americano ainda não exige publicamente a renúncia de Mubarak.