Durante seis meses, uma batalha se travou entre a General Motors de São José dos Campos (SP) e os trabalhadores da fábrica. A empresa, recordista de vendas no Brasil, queria retirar direitos dos operários. Eles resistiram bravamente e não aceitaram as chaJaneiro/2008
No dia 22, a General Motors, em reunião com o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, filiado à Conlutas, apresenta a proposta: banco de horas e redução de salários e direitos como condição para abrir 600 vagas na fábrica. No mesmo dia, o sindicato inicia uma série de assembléias na fábrica.

A participação nas assembléias chegou a cerca de 90% do total de trabalhadores da empresa. Eles rejeitaram o banco de horas e a retirada de direitos massivamente.

Fevereiro/2008
A burguesia da cidade se soma à GM e inicia uma campanha feroz contra o sindicato. A GM teve ao seu lado a Prefeitura, a Igreja, vereadores, empresários e a imprensa.

Como resposta, o Sindicato lança uma contra-ofensiva para conscientizar a população. Um ato nacional em solidariedade aos trabalhadores da GM é convocado para o dia 20.

Neste mesmo mês, a GM bate recorde de vendas no Brasil: de cada cinco carros vendidos em 2007, um era da GM. Porém nos EUA, teve prejuízo de US$ 38,7 bilhões, resultado da crise do setor no país. A divulgação do resultado veio com o anúncio de um plano de demissão voluntária para 74 mil operários norte-americanos.

Em São José, no dia 20, aproximadamente 200 pessoas lotaram o auditório do sindicato em solidariedade aos operários da GM. Eram representantes de diversos setores, categorias, movimentos, organizações. Estava dada a largada para uma campanha nacional contra o banco de horas e a retirada de direitos.

No mesmo dia, a GM anuncia a transferência dos 600 empregos para a unidade de São Caetano do Sul, no ABC paulista. Sem sequer consultar os trabalhadores, o sindicato da região, ligado à Força Sindical, aceitou a retirada de direitos e o banco de horas.

Março/2008
A resistência dos operários segue firme. Uma batalha é travada entre a burguesia de São José dos Campos e os trabalhadores representados pelo sindicato. A entidade distribui uma carta aberta à população em que desmente a campanha da empresa. “Queremos mais empregos, sem redução de direitos e sem redução salarial”, diz a carta.

Abril/2008
No dia 1º, assembléia abre o Dia Nacional de Lutas contra as Mentiras do Governo e dos Patrões. A produção da fábrica pára por uma hora. Uma faixa trazia a frase “GM, chega de mentiras! Reduzir direitos não gera empregos”.

Maio/2008
O ato unificado de 1º de Maio em São José é marcado pela campanha contra a retirada de direitos e o banco de horas. Participaram trabalhadores e sindicatos de todo o Vale do Paraíba, na praça Pedro Pinto da Cunha. Renatão, diretor do sindicato, vai ao ato de São Paulo. Ao falar da luta dos metalúrgicos da GM de São José, é fortemente aplaudido pelos cerca de 3 mil trabalhadores que lotavam a Praça da Sé.

Em represália às constantes assembléias e mobilizações, a GM pune dois diretores do sindicato. No dia 4, suspende por 10 dias Vivaldo Moreira Araújo e Eliane dos Santos.

É lançado o site Em Defesa dos Direitos. A campanha do sindicato e dos trabalhadores contra a GM e a burguesia da cidade segue forte, com distribuição de jornais à população e outdoors. Nas assembléias, os operários repudiam as punições.

No dia 13, mais um diretor é punido. Eduardo de Oliveira Silva recebe suspensão de dez dias.

O dia 28 é convocado, inicialmente, pela CUT e pela Força Sindical como Dia Nacional de Luta pela Redução da Jornada de Trabalho. No entanto, o que está por trás dessa campanha é a flexibilização de direitos e a implementação do banco de horas. A Conlutas responde: realiza atos pela redução de jornada sem redução de direitos.

Em São José, acontecem as principais mobilizações, maiores, inclusive, que as da CUT e da Força. Uma passeata, reforçada pela greve de terceirizados da Petrobras, reuniu 5 mil trabalhadores.

Junho/2008
No dia 5, cinco meses após ser derrotada a proposta da empresa, a GM apresenta, na Câmara de Vereadores, um novo ataque. A proposta era idêntica à primeira: abrir um novo turno na Montagem de Veículos Automotores e contratar 600 novos empregados. Os novos funcionários teriam, porém, piso rebaixado e banco de horas.

A empresa paralisou a fábrica para anunciar aos operários, mas só informou ao sindicato quatro dias depois. Dessa vez, ganhou um importante apoio. Além de ter ao seu lado grande parte do empresariado da região do Vale do Paraíba, o governo e a imprensa, a CUT ingressa na campanha e passa a atacar o sindicato e a Conlutas.

O sindicato produz o documentário de 36 minutos Trabalhadores da GM em defesa dos seus direitos. O filme traz entrevistas com intelectuais e trabalhadores. Operários da GM de Gravataí (RS), onde já existe o banco de horas, falam sobre os prejuízos dessa política. Nove mil DVDs são distribuídos.

No dia 17, acontece um ato nacional na portaria da GM. Sindicalistas vindos de todo o país Estiveram presentes metalúrgicos de Campinas, Limeira, Santos, além de vidreiros, trabalhadores da alimentação, petroleiros, servidores e aposentados. Dois metalúrgicos da planta da GM de Gravataí (RS) também participaram.

No dia 18, após 13 horas de negociações, a GM recua de sua proposta de banco de horas. Vencida pela luta heróica dos operários, a empresa compromete-se a contratar os 600 empregados com o piso vigente segundo o Acordo Coletivo da categoria.

No dia 19, os trabalhadores aceitaram a proposta em assembléia.