Empresas brasileiras perdem U$ 210 bilhões com queda das bolsasO dia 16 de agosto foi mais um dia marcado pelo agravamento da crise global do mercado financeiro. A queda das bolsas em todo o mundo reafirmou a percepção de uma recessão econômica. As bolsas asiáticas tiveram a maior queda desde setembro de 2001, quando o atentado ao World Trade Center espalhou o pânico também entre os mercados.

Já a Bovespa amargou uma queda histórica de quase 9%. Ao final do dia, a bolsa ainda minimizou as perdas, seguindo Wall Sreet – a bolsa norte-americana, fechando em queda de 2,58%. Desde julho, as empresas brasileiras cujas ações são comercializadas pela bolsa sofreram um prejuízo de quase U$ 210 bilhões, sem contar a desvalorização do dia 16. Nesse mesmo período, as 1.204 maiores empresas norte-americanas perderam nada menos que US$ 1,651 trilhão.

Falsa calma
Em 2003, enquanto as tropas norte-americanas invadiam Bagdá, o folclórico ministro da Informação de Saddam Hussein, Al Sahaf, tornou-se piada no mundo inteiro por conta de suas mentiras. Em meio aos bombardeios, Al Sahaf declarava aos jornalistas que estava tudo normal e que os americanos não haviam entrado na capital do país.

Tal situação repete-se agora com os responsáveis pela economia mundial.
Diante de uma crise no sistema financeiro, o FMI e os governos tentam disseminar a calma e conter o alarme.

No entanto, os bancos centrais das principais potências injetaram dinheiro no mercado financeiro numa ação nunca antes vista. Entre os dias 9 e 10 de agosto, os bancos centrais dos EUA, o Fed (Federal Reserve), o BCE (Banco Central Europeu) e o do Japão injetaram U$ 323 bilhões nos mercados, na forma de empréstimos. Só o BCE emprestou U$ 130 bilhões a bancos europeus.

Crise nos EUA
A onda de queda nas bolsas é mais um capítulo da chamada crise imobiliária dos EUA. Durante a década de 1990, o mercado de crédito imobiliário experimentou um crescimento espantoso nesse país. Os bancos ofereceriam empréstimos a juros mais baixos tomando imóveis como garantia. Além de comprar casas, uma parte da população hipotecou a sua própria para obter crédito a juros baixos.

Esse mercado cresceu muito, provocou a supervalorização dos imóveis e a multiplicação das linhas de crédito. Os bancos deram crédito mesmo para pessoas inadimplentes ou que não podiam comprovar renda, formando a categoria subprime, ou seja, o empréstimo de risco. Além disso, os bancos transformaram os empréstimos em ações, vendendo-os para fundos de investimento no mercado financeiro.

Isso funciona como uma daquelas “correntes” tão conhecidas dos brasileiros, dirigidas por espertalhões, que crescem enquanto existem cada vez mais pessoas dispostas a ampliar a corrente. Agora, os sinais de uma próxima crise estão aparecendo, menos pessoas querem comprar casas e mais pessoas não podem pagar estes empréstimos. Se não entra dinheiro numa ponta, todo o sistema começa a cair. Isso provoca uma reação em cadeia que balançou o mundo financeiro.

A mais recente onda de pânico ocorreu quando o BNP Paribas, um grande banco francês, congelou três fundos de investimento no mercado subprime dos EUA no último dia 9. Tal iniciativa provocou a debandada generalizada dos investidores. Para pagá-los, os fundos são obrigados a vender ações e papéis, forçando a queda nas bolsas e a desvalorização das ações.

A crise financeira anuncia o fim do ciclo
Inúmeros analistas, geralmente ligados a grandes bancos e fundos, afirmaram que a crise não oferece perigo enquanto permanecer nos marcos dos mercados financeiros, como se estes fossem entidades abstratas absolutamente desligadas da chamada economia real. No entanto, existe sim uma crise e ela é bem real.

Se os mutuários não podem pagar suas dívidas, é porque algo ocorre na economia norte-americana. A tão esperada desaceleração parece não ser tão suave como muitos acreditavam. Uma recessão no coração do império teria efeitos devastadores em todo o mundo. Para se ter uma idéia, as crises que balançaram os mercados no final da década de 1990 tiveram como epicentro mercados periféricos, como o México, a Ásia e a Rússia.

Isso anuncia a próxima crise cíclica do capitalismo internacional, que poderá vir no próximo período. Com o chão tremendo, os “analistas” financeiros e o FMI correm o risco de ficarem falando sozinhos.

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