Total de salários pagos aos trabalhadores cai num ritmo muito maior que o PIB

Já dá pra sentir no bolso e no emprego. A crise econômica já faz os seus estragos no Brasil. Segundo o Boletim Focus divulgado nesta segunda, 27, pelo Banco Central, o ano de 2015 será marcado pela retração na economia e alta na inflação. O boletim é um apanhado das estimativas realizadas por mais de 100 instituições financeiras, ou seja, bancos, consultorias, corretoras, etc. Para eles, o PIB (a soma do valor de tudo o que é produzido no ano pelo país) vai cair 1,76%. Já a inflação, segundo essas mesmas estimativas, será de 9,23%, o que seria a maior inflação desde 2003.

Alguns analistas chegam a ser mais pessimistas e dizem que o PIB vai cair 2%. De qualquer forma, essa seria a pior queda em 25 anos, quando o país passou por uma forte recessão que fez o PIB diminuir 4,35%. Mas enquanto se espera uma queda de até 2% do PIB, a diminuição nos salários dos trabalhadores será maior. Estimativa realizada pela consultoria Tendências dá conta que o poder de compra das famílias diminuiu 6,2% de janeiro a maio deste ano, e deve fecha o ano nesse patamar. Esse índice é o total da renda recebida pelas famílias (salários e benefícios previdenciários) descontando inflação, crédito e os gastos com dívidas.

Parte significativa disso é causada pela corrosão dos salários pela inflação. Mas também há o fato de que os salários pagos aos trabalhadores estão diminuindo. Seja pela inflação, seja por reajustes menores, desemprego (que chegou a 8,1% em maio) ou a substituição de postos de trabalho por outros com salários menores.

Fato é que o total dos salários pagos entre janeiro e abril deste ano diminuiu, o que não ocorria nos últimos dez anos. Foi uma redução de 0,32%, ou R$ 1,2 bilhão em números absolutos.  Esse número tem como base dados do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) da Caixa Econômica. Ou seja, pega só os salários dos empregos formais, podendo ser até maior se considerarmos que quase a metade dos empregados é trabalhador informal e, portanto, mais suscetível à perda de salários e direitos.

Outro número impressionante é a redução do total de salários pagos nos últimos meses. Entre novembro de 2014 e maio deste ano, a massa salarial diminuiu nada menos que 10%, segundo o PME (Pesquisa Mensal de Emprego) do IBGE. Ou seja, em apenas seis meses, o total dos salários pagos aos trabalhadores despencou 10%.

Trabalhadores estão pagando pela crise
Esse cenário é resultado da crise econômica, da onda de demissões realizada pelas empresas, da troca de empregos por outros de salários mais baixos e uma política econômica que une ajuste fiscal, com o conseqüente arrocho no funcionalismo público, e cortes nos salários e direitos, como o decretado pelas MP’s 664 e 665. O chamado Programa de Proteção ao Emprego, o PPE, acordado entre a direção da CUT, as empresas e o governo, e instituído via Medida Provisória, institucionaliza a redução salarial ao permitir que as empresas diminuam os salários em até 15%.

Em compensação, os bancos continuam lucrando. E muito. No 1º trimestre de 2015, o Itaú teve lucro de R$ 5,7 bilhões, 26,8% maior que no ano passado. Já o Bradesco lucrou R$ 4,2 bilhões, ou 23,3% a mais que 2015, enquanto que o Santander lucrou R$ 684 milhões, ou 32% a mais. Em maio, os lucros dos bancos com créditos foi o maior desde 2009, devido ao chamado “spread bancário”, a diferença entre o custo de captação dos recursos e quanto de juros os bancos cobram para emprestá-lo.

Os salários caem num ritmo muito maior que o PIB, a inflação come os rendimentos das famílias e o desemprego aumenta. Isso acontece porque as empresas, com as demissões e a redução salarial, e o governo Dilma, com o ajuste fiscal e a retirada de direitos, protegem os lucros dos bancos e empresas aumentando ainda mais a exploração aos trabalhadores.

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