A reunião anual do Fórum Econômico Mundial, na cidade suíça de Davos, teve início no último dia 23. O tema central da reunião, naturalmente, é a mais recente crise financeira que abala os mercados nos últimos meses e de forma mais aguda nas últimas semanas. Cerca de 2.500 representantes de diversos países, investidores e especuladores discutem as causas da crise e as medidas para debelar a turbulência e, principalmente, evitar maiores prejuízos.

Logo na abertura do encontro, os próprios representantes dos chamados “países emergentes” rechaçaram a tese do “decoupling”, ou seja, do descolamento das economias do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) do perigo de recessão nos EUA. “A China depende tremendamente da demanda externa. As exportações respondem por 8,6% de nossa economia”, reconheceu o diretor do Instituto de Política e Economia Mundial da Academia de Ciências da China, Yu Yongding.

Mais do que a própria crise financeira, o verdadeiro temor dos homens reunidos em Davos é mesmo a recessão e sua real profundidade. “Estamos no primeiro ou segundo round de um combate que pode durar 15”, afirmou o presidente do Banco do México, Guilhermo Ortiz.

Anarquia dos lucros
Chegou-se a especular sobre um suposto novo caráter dos mercados, que seria protagonizado agora não por conhecidos bancos e especuladores, mas por anônimos fundos financeiros manipulados por obscuros governos da Ásia e Oriente Médio, como o Kuait. Tal perspectiva, no entanto, visa tão somente a desviar o foco do problema principal, a crise econômica na principal economia do planeta, assim como a incapacidade dos governos e do FMI de contornar a crise, apesar dos bilhões de ajuda aos bancos despejados nos últimos meses.

Apesar de especuladores como o mega-investidor húngaro George Soros creditarem a crise financeira à desregulamentação excessiva do setor, os participantes do Fórum negaram a idéia de estabelecer um “xerife” financeiro para pôr ordem na anarquia dos mercados. Mas se a idéia de regulamentação não é bem recebida, o mesmo não se pode dizer da ajuda de bilhões dados pelo FED e o Banco Central europeu aos bancos nos últimos meses.

Riscos Globais
O relatório “Riscos Globais 2008” é a base para as discussões que ocorrem em Davos. Elaborado por uma rede de instituições financeiras encabeçado pelo Citigroup, o documento relata os quatro principais perigos para a economia neste ano.

Segundo o relatório, a vulnerabilidade crescente dos mercados, assim como sua interdependência, expõe o mundo a crises cada vez mais freqüentes. Outro risco concreto é com relação à chamada “segurança alimentar”. Num mundo cujas áreas agricultáveis estão sendo destinado prioritariamente à produção de biocombustível, o preço dos alimentos tende a crescer, aprofundando até mesmo conflitos nas regiões mais miseráveis.

Outro grande problema que o mundo enfrentará num futuro próximo, ainda segundo o relatório, é a crise energética. O esgotamento das fontes tradicionais de combustível fóssil tende a elevar o preço dos combustíveis, principalmente com um aumento da demanda.

Evidente que todos esses problemas são analisados sob a perspectiva de se garantir a estabilidade dos mercados e os lucros dos investidores. Para isso, a proposta é a atuação conjunta do setor público e privado.

Desemprego
Enquanto Davos discute o sistema financeiro e a saúde dos mercados, a OIT prevê cinco milhões de novos desempregados para 2008. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, mesmo sob uma perspectiva otimista de um crescimento mundial de 4,8%, ante os 5,2% de 2007, desaparecerão cinco milhões de postos de trabalho.

Ainda segundo a OIT, 4 de cada 10 empregos hoje no mundo são precários, sem os mínimos direitos trabalhistas. Cerca de 16% dos trabalhadores sobrevivem com até U$1 e 43% com até U$ 2.

Esses são números, porém, que não chegam até as montanhas suíças.

LEIA MAIS:

  • Riscos Globais 2008 (em inglês – .pdf)
  • Tendências mundial do emprego (em inglês – .pdf)