Manifestação reprimida nesta quinta-feira

O aprofundamento da crise econômica na Europa, especialmente no sul do velho continente, vem mostrando que o mundo ainda estremece por causa da crise que explodiu em 2007. Se os países escaparam da derrocada completa, num primeiro momento, através de uma política de ajuda ao sistema financeiro, agora recebem a fatura e se deparam com gigantescos déficits fiscais.

Países como os chamados PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia, Espanha) estão à beira da falência. No dia 27 de abril, a agência de classificação de risco, Standard & Poor´s, ajudou a colocar mais lenha na fogueira e rebaixou a nota da Grécia, Portugal e Espanha, causando alarme e alvoroço entre os investidores e derrubando as bolsas em todo o mundo.

Se a situação da Grécia, de falência e iminente, já era conhecida, a desqualificação dos países ibéricos pegou muitos de surpresa. Embora essas agências estejam desgastadas e desacreditadas após a crise, essas medidas apontam para uma crise fiscal muito além do país grego, colocando em xeque a própria União Europeia.

Bancarrota, ataques e luta
A fim de evitar a moratória no país grego, o FMI, investidores e o Banco Central Europeu pressionam o governo para endurecer ainda mais o plano de corte fiscal e nos salários, em troca do aumento do plano de ajuda. A França e especialmente a Alemanha, exigem o aprofundamento das medidas de arrocho dos países endividados. A Grécia fechou o ano passado com um déficit de 13,6% do PIB, quando o teto para um país da Zona do Euro não deveria passar os 4%. Já a Espanha não fica atrás e amarga quase 11,2% de déficit.

Só o endividamento do país grego chega a 115% do PIB, situação em que, aliado ao déficit, fazem muitos considerarem praticamente inevitável uma moratória. Situação em que o FMI e o BCE tentam reverter. O chefe da Organização para Cooperação do Desenvolvimento e Comércio (OCDE), Angel Gurría, afirmou que o contágio da crise é como o vírus ebola: “Quando você percebe que tem, corta a perna para sobreviver”.

No caso, a perna a ser cortada são os salários e direitos dos trabalhadores. De um lado, cortes e arrocho tentam conter os gastos do Estado e, de outro, aumento nos impostos elevam a arrecadação a fim de permitir o pagamento da dívida aos banqueiros.

Na Grécia, a luta contra os ataques aos direitos e aos planos de corte fiscal já provocou diversas greves gerais, a última nesse dia 22 de abril. Nesta quinta-feira, 29, outra manifestação aconteceu e foi duramente reprimida. Sindicatos e centrais já preparam uma nova paralisação para o próximo 5 de maio.

Agora, Portugal está no alvo do FMI e especuladores, com um plano similar ao implementado pelo governo grego. “Estamos absolutamente determinados a fazer o que for necessário para atingir as metas que estabelecemos para reduzir o déficit público”, afirmou o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates. O Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) do governo prevê uma série de ataques, como o congelamento de salários, redução no seguro desemprego, além de privatizações. No dia 27 de abril uma greve nacional do setor de transportes e comunicações, com a adesão de servidores públicos, demonstrou que os trabalhadores portugueses, a exemplo dos gregos, não pagarão pela crise.