A resposta tem sido uma série de lA reunião do G-20 terminou sem nenhum acordo sobre a chamada “guerra cambial”. Na prática, não foi tomada qualquer medida contra as manipulações do câmbio. Não existe uma resposta unificada dos governos imperialistas para a crise econômica. Pior do que isso começa a surgir a possibilidade de um agravamento da crise, com os governos imperialistas buscando saídas particulares. Atrás das palavras vazias e dos discursos pomposos na reunião do G-20 estava o impasse: a guerra cambial como uma forma disfarçada de protecionismo.

Frágil recuperação nos EUA
A guerra cambial tem relação direta com a fraca recuperação da economia dos EUA. Os altos índices de desemprego no país estão por trás da disputa. No final de 2008, com a quebra dos principais bancos dos imperialismos norte-americano e europeu, os governos injetaram trilhões de dólares para evitar uma quebra do sistema financeiro mundial – raiz dos gigantescos déficits fiscais enfrentados pelas nações europeias. Dessa maneira, diferente de 1929, os governos imperialistas conseguiram impedir uma depressão, mas não resolveram os problemas de fundo da economia capitalista.

O problema é que, para gerar uma “recuperação sustentável”, os capitalistas devem reverter a queda da taxa de lucros. Para isso, é necessário desvalorizar capital, ou seja, gerar desemprego em larga escala, fechar empresas, atacar salários e direitos sociais dos trabalhadores. Porém, a recuperação parcial foi impulsionada pelos gastos do Estado e não por um crescimento real e sustentado do investimento privado.
Nos Estados Unidos, “as empresas não financeiras detêm cerca de US$ 3 trilhões em caixa e só investem em tecnologia poupadora de mão de obra (com benefícios da depreciação acelerada), o que não aumenta o emprego. O sistema bancário tem reservas excedentes da ordem de US$ 1 trilhão e não os empresta porque ninguém solicita” (Delfim Netto, Valor Econômico, 9/11).

Desde o início de 2010, o PIB norte-americano vem registrando tendência de desaceleração. No primeiro trimestre do ano, seu crescimento recuou para 3,7%; foi de 1,7% no segundo e, no terceiro, registrou 2%. A projeção é que a economia norte-americana chegue no último trimestre com crescimento de pouco mais de 1%. Além disso, o país enfrenta uma enorme taxa de desemprego, próxima dos 10%. A pobreza cresce rapidamente. O nível de pobreza nos EUA atingia 13,2% da população em 2008.

No ano passado, chegou a 14,3%, atingindo quase 47 milhões de norte-americanos.
O desemprego e a degradação do trabalho são os resultados mais cruéis das crises do capitalismo. Mas também servem para que os patrões voltem a investir, ou seja, possibilitam um novo período de ciclo de acumulação do capital. As empresas aproveitam para impor as maiores diminuições de salário e piora das condições de trabalho. Assim, aumentam ao máximo a exploração dos trabalhadores que conservam seu emprego, buscando uma recuperação da taxa de lucro que justifique uma nova onda de investimentos.

Como se não bastasse, os EUA ainda amargam os chamados “déficits gêmeos”. Devido ao dinheiro injetado para salvar os bancos, o déficit fiscal do país saltou para mais de 1,2 trilhão de dólares, enquanto o déficit comercial (diferença entre exportação e importação), que no ano passado foi de 380 bilhões, não para de crescer. Até agosto, já era de 334,9 bilhões de dólares.

Europa: recessão pode aprofundar
A guerra cambial vai acentuar a crise europeia, marcada pelos megadéficits fiscais. A crise hoje não só ameaça a Zona do Euro e a União Europeia, mas também é a raiz de profundas crises políticas que ameaçam governos (veja página 12). A crise reflete as desigualdades das economias europeias. A Alemanha, principal economia capitalista do continente e líder do bloco, apresenta maior recuperação. O país deverá ter um crescimento de 3% em 2010. Mas a recuperação do país se dá à custa do resto da Europa, que enfrenta os violentos pacotes de ajuste e caminha para a recessão.

A burguesia europeia está tentando impor derrotas ao proletariado que, na prática, significam o fim do “Estado do bem-estar social” – cortes orçamentários na saúde e educação, demissões nos serviços públicos, rebaixamento salarial, privatizações, reformas previdenciárias etc. Caso essas metas não sejam cumpridas, os países estarão sujeitos a um sistema de sanções e multas.

Mas os planos de ajustes da União Europeia vão contribuir para aprofundar a recessão dos países endividados e agravar o problema da dívida. Esse tipo de crise da dívida ameaça Portugal, Espanha, Itália, Grécia e Irlanda e vai conduzi-los à estagnação econômica ou à recessão, enquanto os custos dos juros de sua dívida irão disparar. Os planos de ajuste também irão aprofundar a crise política dos governos, produzindo protestos e mobilizações em escala continental.

A verdade é que um novo papel para os países imperialistas mais fracos da Europa está sendo desenhado. No horizonte a perspectiva PE que a Europa sofra um aprofundamento da recessão e da crise da dívida.

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