Números recordes do setor ficarão no passadoA crise econômica atinge o agronegócio, setor que prosperou por anos e foi responsável por uma parte substancial do crescimento econômico brasileiro. No ano passado, a safra atingiu o recorde de 143,8 milhões de toneladas, 9,2% maior que a safra anterior. As exportações do agronegócio em 2008 também bateram marca recorde: US$ 71,9 bilhões. Mas os grandiosos números deverão ficar no passado. A crise reduz drasticamente as exportações dos produtos agrícolas. Exemplo disso é a China, líder na compra dos produtos primários do país. O valor das exportações para o país caiu 34% só nos dois primeiros meses do ano.

Embora tenha sido registrada uma pequena elevação de 0,3% na receita obtida com as exportações de produtos agrícolas brasileiro, a retração das exportações no primeiro trimestre provocou uma queda de 9,4% das exportações brasileiras do agronegócio, segundo o Ministério da Agricultura. Outra indicação da paralisia do setor – reconhecida até pela ruralista Confederação Nacional da Agricultura – é a queda de 26,4% na entrega de fertilizantes aos produtores rurais do país.

A crise jogou os preços dos produtos primários no chão, diminui mercados e restringiu o crédito para o setor. Mesmo projetos do governo com os biocombustíveis estão ameaçados com a recessão global e a queda dos preços do petróleo. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), a produção mundial de biocombustíveis sofrerá dramática desaceleração em 2009. A entidade prevê, agora, que a produção global de biocombustíveis aumente apenas 6,6% este ano, ante uma previsão de 31,55%. De acordo com a Unica (entidade dos usineiros brasileiros), apenas de 15 a 20 de 35 novas usinas de etanol planejadas serão concluídas. Além disso, a Unica afirma que maior parte da produção de cana vai para a produção de açúcar, que hoje oferece melhores margens de lucros.

Outra face dessa crise é demonstrada pela quase falência de setores da agroindústria que apostaram na alta do dólar (especulação com derivativos) e se deram mal. Para se recuperar dos prejuízos essas empresas tomam o caminho da fusão – uma demonstração de que as crises capitalistas provocam uma maior concentração de capital e desnacionalização. É o caso das fusões entre Aracruz e Votorantim Celulose; Sadia e Perdigão e da futura fusão entre a sucroalcooleira Santelisa pelo grupo francês Dreyfus. Todas elas, evidentemente, são garantidas por generosos empréstimos do BNDES. Ou seja, os empresários perdem na especulação e o dinheiro público é usado para pagar a conta.

Governo: aliado do agronegócio
O agronegócio tem no governo Lula seu principal parceiro. Desde que assumiu o presidente não escondeu seu compromisso com o setor. Liberou os transgênicos, nomeou latifundiários para seu ministério, concedeu generosos créditos e renegociou dívidas com o setor, afrouxou a legislação ambiental para proporcionar mais lucros, abandonou a reforma agrária e tentou garantir a implementação da Aérea de Livre Comércio da Américas (ALCA) para fazer que os produtores brasileiros vendessem seus produtos no mercado norte-americano.

Os resultados recordes da safra do ano passado foram financiados pelo governo. O Tesouro Nacional antecipou prontamente R$ 5 bilhões em créditos para que o Banco do Brasil ajudasse os grandes produtores. De junho a dezembro de 2008, o banco emprestou mais R$ 18,3 bilhões ao setor, 37,5% a mais que no ano anterior. Para tentar reverter a crise no setor, no último dia 16, o governo anunciou ainda a liberação de mais R$ 12,6 bilhões em crédito para o agronegócio. A maior parte do dinheiro, R$ 10 bilhões, será para uma linha que deve atender principalmente frigoríficos e empresas do setor de aves, suínos e carnes bovinas, que enfrentam prejuízos devido a crise econômica. Esses valores astronômicos são muito superiores aos 11,9 bilhões que serão destinado ao Bolsa Família, vedete do governo.

Amazônia na mira
Está na mira também do agronegócio a tentativa de promover mudanças no Código Florestal brasileiro. O atual ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, junto à bancada ruralista no Congresso, tenta a redução de 80% para 50% das áreas que não podem ser devastadas na chamada Amazônia Legal. O governo e o agronegócio querem transformar a Amazônia numa enorme área de agricultura de exportação de carne, soja e álcool de cana-de-açúcar. Um primeiro passo já foi dado recentemente, com a edição da Medida Provisória 458, que legaliza a grilagem de terras na Amazônia.

“A sociedade brasileira está diante de mais um ato criminoso a ser cometido contra o patrimônio público, pois serão 67,4 milhões de hectares de terras públicas a serem entregues em suaves prestações anuais aos grileiros do agrobanditismo”, denunciou o geógrafo da USP Ariovaldo Umbelino (Rádio Agência de Notícias do Planalto).

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