Até o final do ano, mais de 8 mil metalúrgicos do setor de autopeças devem ser demitidosA crise econômica internacional já afeta o ritmo de produção no Brasil. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), a produção industrial no país teve queda de 1,7% entre os meses de setembro e outubro. Tal queda supera as piores expectativas para o período. A pesquisa foi divulgada no dia 2 de dezembro e mostra que a crise afeta o ritmo de produção de praticamente todas as áreas da indústria nacional.

A retração na produção ocorreu em 15 dos 27 setores pesquisados pelo instituto. A produção de bens de consumo duráveis, como automóveis e eletrodomésticos, teve forte queda de 4,7% após dois meses seguidos de crescimento. Já a produção de bens não-duráveis, como bebidas e alimentos, caiu 2,2%. O setor de bens de capital, como máquinas e equipamentos, teve retração de 0,5%.

Crise chegou
A crise afeta em cheio a indústria num momento em que o setor passava por um rápido crescimento. Em relação a 2007, o total da produção industrial ainda apresenta expansão de 0,8%. A tendência, porém, é de uma queda ainda maior no próximo período.

A produção de bens duráveis, por exemplo, caiu 1,5% em relação a outubro do ano passado. Tal resultado reflete a retração na indústria automobilística, cuja produção caiu 3,4%. Reflexo das férias coletivas nas grandes montadoras, que hoje afeta 41% de toda a categoria, ou 47 mil metalúrgicos. Como a pesquisa se refere ainda ao mês de outubro, quando as férias coletivas ainda começavam a ser estabelecidas, a queda da produção deverá ser ainda maior.

Perspectiva de demissões
Se nas grandes montadoras vigoram as férias coletivas e as demissões ainda são pontuais ou um temor concreto dos metalúrgicos, na área de autopeças elas já começaram. Com a paralisação da produção de veículos, o setor já demite. Segundo levantamento realizado pelo Sindipeças, sindicato patronal do setor, cerca de 8,2 mil metalúrgicos devem ser demitidos só nesse final de ano. A sondagem foi realizada em 95 empresas que representam 41% do faturamento de auto-peças.

A queda na produção industrial foi bem maior que o esperado e indica que a recessão pode chegar ao Brasil bem antes do que todos imaginavam. A empresa de consultoria LCA reviu as previsões do PIB para o próximo período e, se antes era esperado um cenário de estagnação, agora se vislumbra recessão já nos próximos trimestres. Prevê-se uma retração de 0,5% no quarto trimestre de 2008 e o primeiro trimestre de 2009.

Enquanto o governo Lula despeja bilhões aos bancos e montadoras, os trabalhadores já começam a pagar pelos efeitos da crise.