Metade dos oficiais da Polícia Militar pede demissão diante da repressão aos protestos por salário e condições de trabalho. Governador Sérgio Cabral paga o menor salário do paísA Polícia Militar do Rio de Janeiro vive sua maior crise desde 1980, quando oficiais de baixa patente cercaram em passeata o Palácio Guanabara, sede do Governo do Estado, furando os pneus dos carros oficiais e reivindicando equiparação salarial com o exército.

A atual crise foi aberta com uma passeata no dia 27 de janeiro de cerca de mil policiais pelas ruas do Leblon, bairro nobre da Zona Sul carioca, reivindicando melhores salários. O bairro foi escolhido porque é onde mora o governador Sérgio Cabral (PMDB) que, durante sua campanha eleitoral, prometeu valorizar o salário da PM e do conjunto do funcionalismo. Mas, como acontece com todos os políticos burgueses que chegam ao governo, Cabral esqueceu das promessas para os trabalhadores e governa para os ricos.

No mesmo dia desta manifestação, o secretário Estadual de Segurança, José Beltrame, homem forte da política fascista de segurança pública de Sérgio Cabral, afirmou que os policiais recebem exatamente o salário que merecem. O problema é que a PM do Rio de Janeiro tem o pior salário de todos os estados do país.

Dois dias depois da manifestação, o governo reagiu de forma truculenta contra a manifestação dos policiais e exonerou o comandante geral, coronel Ubiratan Ângelo, acusado de não ter usado a sua autoridade contra os policiais envolvidos. Exonerou, também, o grupo de oficiais que fazia parte do movimento dos “Barbonos”, grupo formado em 2006 por nove coronéis para reivindicar melhorias salariais e de condições profissionais.

No dia seguinte, quando era nomeado o novo comandante geral da PM, coronel Gilson Pitta, às portas fechadas e pela primeira vez na história sem a presença da tropa, 45 coronéis e tenentes-coronéis entregaram seus cargos de comando em protesto à exoneração do coronel Ubiratan Ângelo. Estas demissões representam exatos 50% de todos os cargos de comando da PM do Rio.

Na mesma semana, o grupo dos “Barbonos” protestou na praia de Copacabana fincando na areia 586 cruzes, simbolizando o número de policiais militares mortos em serviço nos últimos três anos.

Esta crise está longe de se encerrar. Na quinta-feira, dia 7 de fevereiro, logo após o carnaval, foram afixados cartazes no centro do Rio contra o novo comandante-geral da PM, chamado de traidor, e reivindicando aumento de salário.

No dia 11 de fevereiro, os policiais se reuniram na sede da Associação dos Militares Estaduais para preparar uma nova manifestação e dar prosseguimento à campanha por aumento de salário. A nova manifestação deve ser realizada novamente no Leblon, em uma demonstração que a luta está sendo dada contra o maior responsável pelo arrocho salarial do funcionalismo, o governador Sérgio Cabral, grande aliado de Lula no Rio de Janeiro.

É correto ou não apoiar a mobilização salarial da PM?
É evidente que a PM, assim como todos os órgãos repressivos do Estado, é uma instituição a serviço da dominação de classe. Portanto, em última instância, sempre será utilizada pela burguesia e seus governos contra as manifestações dos trabalhadores. Neste sentido, não podemos ter nenhuma ilusão nestas instituições e na sua hierarquia de poder. Os coronéis hoje em conflito contra o governo do Rio amanhã podem acabar traindo os interesses dos soldados. Por exemplo, o atual comandante, Gilson Pitta, foi um dos fundadores dos “Barbonos” e já traiu seu próprio grupo.

Uma grande demonstração do caráter de classe da polícia é a atual política de segurança pública do governador Sérgio Cabral, apoiada integralmente pelo governo federal e pelo PT, que visa criminalizar a pobreza e está assassinando uma parte significativa da juventude negra e pobre das comunidades carentes cariocas. O maior exemplo ocorreu em junho de 2007, no complexo do Alemão, quando uma megaoperação policial dei¬xou 19 mortos, muitos deles assassinados à queima-roupa, num massacre de civis. Apesar de todo este terrorismo de Estado, esta política só aumenta a violência e não consegue nenhum êxito efetivo em relação à segurança da população.

Porém existe uma divisão nos aparatos repressivos do Estado. Um setor da base e da baixa oficialidade está se mobilizando por reivindicações salariais e políticas, chocando-se inclusive com os governos e o comando maior destas instituições. Nós apoiamos esta luta salarial e manifestamos nossa desconfiança em relação aos coronéis. Mais ainda, defendemos que os policiais unifiquem sua luta com o resto do funcionalismo, inclusive contra a atual política de extermínio.

Junto com isso, defendemos o direito à organização sindical e política para todos os policiais, o direito à insubordinação frente a ordens superiores que atentem contra os trabalhadores, suas organizações sociais e os moradores das comunidades pobres e a desmilitarização da PM e unificação da polícia como uma instituição civil.

Post author Arnaldo Sanchez, do Rio de Janeiro (RJ)
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