Especuladores compram construtoras e influenciam programa “Minha Casa, Minha Vida”O setor imobiliário está vivendo grandes transformações nos últimos anos, acentuadas pela crise econômica. A chegada de grandes grupos e a entrada de construtoras nas bolsas de valores estão fazendo com que o setor deixe de ser nacional.
A abertura de capital começou com força em 2005. Em pouco mais de um ano, 12 construtoras tinham colocado ações à venda. Foi nesse período que Sam Zell, dono da Equity International Properties (EIP), um dos maiores especuladores do mercado norte-americano, chegou ao país. Pagou 50 milhões de dólares e levou 30% da Gafisa.
Segundo a revista Retrato do Brasil, em outubro de 2008, quando a crise derrubou a ação da Gafisa a um quinto do valor, Zell usou outros 50 milhões de dólares e dominou a empresa.

O faro para oportunidades também parece ser dom do espanhol Enrique Bañuelos que, em fevereiro, comprou parte da Abyara e, dois meses depois, tomou conta da Klabin Segall.

Plano com construtoras
Sam Zell incentivou a compra da construtora Tenda como braço “popular” da Gafisa.
Não foi uma aposta. Como atesta o sócio, Gary Garrabrant, “há várias razões para a explosão, agora, no setor imobiliário brasileiro, especialmente nas classes baixa e média”. Uma delas, talvez a principal, é o crédito da Caixa Econômica Federal. E disso Zell já sabia, pois participou da gestação do plano “Minha Casa, Minha Vida”.

Em março de 2008, em um seminário em Nova York, Zell esbanjou elogios a Lula. E dedicou-se a uma campanha para convencer o governo a dar “assistência” ao setor, reunindo as construtoras Gafisa, Rossi, MRV, Rodobens, W Torre, Cyrela, etc. No final de 2008, propuseram à ministra Dilma Rousseff um plano com casas prontas em três meses. Para isso, valeria tudo, até “licenças ambientais” em 30 dias. A reunião foi um marco. Garantiu verbas aos empresários, atolados em dívidas. Em março, no lançamento do plano, o dono da MRV, Rubens Menin, festejou: “foi exatamente como pleiteamos!”.

Construindo bolhas
A presença estrangeira reflete o impacto da crise. Assim como as montadoras de carros usam a isenção do IPI para enviar mais lucros às matrizes, esses senhores buscam recuperar o que perderam em seus países.

Com a crise imobiliária dos EUA, Sam Zell perdeu metade do patrimônio, que caiu para 3 bilhões de dólares. O espanhol Enrique Bañuelos perdeu mais. Em 2007, viu 6,7 bilhões de dólares sumirem e por pouco não deixou de ser bilionário. Ele havia manipulado balanços de suas empresas. O escândalo fez Bañuelos desaparecer, até agora. “Ele vai dar trabalho” é o comentário deixado aos brasileiros em um site espanhol.

O estouro das bolhas destruiu sonhos de milhares de trabalhadores nos EUA e na Espanha. Perderam suas casas e economias e hoje moram em trailers ou com parentes. Por trás estavam empresários como estes, que agora oferecem planos a trabalhadores brasileiros com renda até R$ 1.300. Esses senhores, parceiros de Lula, querem lucro e podem estar criando aqui armadilhas, como em seus países. E, quando os trabalhadores não puderem, por algum motivo, pagar suas prestações, o que acontecerá?

Post author Atnágoras Lopes, do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Belém (PA) e da Conlutas
Publication Date