Banqueiros e empresários ligados à exportação faturam alto com o crescimento econômico anunciado pelo governo, já os trabalhadores amargam arrocho salarial e desempregoO governo Lula se vangloria do recente anúncio do crescimento de 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre do ano, em relação ao trimestre anterior. Este dado seria a confirmação do acerto de sua política econômica, baseada nas orientações do FMI: ajuste fiscal e o pagamento em dia dos juros da dívida. “Estejam certos que o Brasil entrou numa rota de crescimento econômico que não terá volta”, afirmou Lula, no dia 2 de julho. Seu braço direito, o ministro da Fazenda Antônio Palocci, antes levemente criticado pela imprensa por manter as taxas de juros em níveis altíssimos em nome do rígido controle da inflação, agora é erguido ao panteão dos heróis nacionais.

Exportar é o que importa?

O principal fator desse suposto crescimento seria o avanço das exportações brasileiras, puxadas pelos agronegócios. Lula, que durante toda a campanha eleitoral já havia demonstrado sua simpatia pelos governos militares, reedita agora um dos principais lemas dos generais da ditadura: “Exportar é o que importa”. Tanto é que nomeou para ministro da Agricultura o latifundiário, ligado ao agrobusiness, Roberto Rodrigues. Seguindo esta lógica, o governo divulga os recordes do superávit da balança comercial (a diferença entre as exportações e importações) como uma verdadeira vitória.

Para garantir esse crescimento, o governo Lula baseou sua política externa na busca por mercados para os grandes fazendeiros e empresários nacionais. Não foi à toa que fez sua longa rodada de viagens internacionais com uma leva de empresários a tiracolo. Como resultado, os produtos agropecuários tiveram um aumento de 6,4% nas exportações deste ano.

No entanto, o que o governo omite é que, concomitantemente aos recordes de exportação, o campo brasileiro desemprega mais trabalhadores a cada dia. Expulsos do campo, esses desempregados vão inflar os bolsões de miséria das grandes cidades. Isso ocorre porque o modelo agropecuário, tão incentivado e elogiado pelo governo Lula, é naturalmente excludente. A mecanização das lavouras com o intuito de aumentar a produtividade e abastecer o mercado externo produz uma legião de desempregados e de famílias sem-terra no Brasil. Calcula-se que 2,5 milhões de trabalhadores tenham sido expulsos do campo entre os anos de 1990 e 2002. O crescimento conjuntural e localizado de emprego em algumas regiões ligadas ao campo não pode mascarar essa tendência geral.

Portanto, não é por acaso que o desemprego esteja aumentando no país, com índices de 20% nas grandes capitais, apesar do crescimento econômico. Mesmo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com números que mascaram o desemprego, teve de admitir um índice recorde no país, de 13,1%, em abril.

Crescimento do PIB não beneficia trabalhadores

Apesar do aclamado crescimento do PIB, a renda média dos trabalhadores continua recuando. Segundo pesquisa realizada pelo IBGE, os trabalhadores tiveram uma queda de 1,4% em sua renda, se comparada ao ano passado. Pesquisa recente do Departamento Intersindical de Estatística e de Estudos Sócio-econômicos (Dieese), revela que a maioria das categorias não teve reajuste equivalente à inflação no ano passado. Apesar do governo jurar que não existe inflação, o aumento de preços continua corroendo os salários dos trabalhadores. Entre os anos de 1994 e 2003, apenas os preços controlados pelo governo, como combustível e energia elétrica, tiveram aumento de 258%. Na grande São Paulo, a energia elétrica teve um aumento de quase 18% e a tarifa telefônica vai aumentar mais de 16%.

O Dieese revela o aumento do preço da cesta básica em 13 capitais do país. Resta a pergunta: quem se beneficia com esse suposto aquecimento da economia brasileira?

Banqueiros e Fazendeiros: o Brasil de Lula

No último dia 1o, diversos meios de comunicação divulgaram o balanço dos 10 anos de Plano Real. Apesar do elogio à suposta estabilidade trazida pelo plano, ninguém pôde esconder os lucros recordes que o sistema financeiro tem mantido na última década. Os lucros de 1.039% dos bancos nos últimos dez anos se ampliaram no governo Lula. Os banqueiros, ao lado dos grandes latifundiários, são os verdadeiros beneficiários da tal retomada econômica alardeada pelo governo.

Portanto, o tão difundido aumento do PIB resume-se ao incremento nos lucros dos grandes empresários, banqueiros e latifundiários, enquanto a renda dos trabalhadores fica cada vez mais defasada por uma inflação que não aparece nos índices oficiais.

Post author Diego Cruz, da redação
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