Correio Internacional: publicação da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI)Durante anos, a burguesia europeia utilizou a mão de obra imigrante, abundante e com maiores facilidades para sua exploração, para seu crescimento econômico. Agora, com o a crise econômica este é o primeiro setor a sofrer suas conseqüências. A burguesia quer que os trabalhadores paguem pela crise. E, entre os trabalhadores, os mais explorados são os imigrantes. O desemprego fez estragos entre a imigração: na construção e na indústria as demissões atingem, sobretudo, os trabalhadores mais precarizados.

Os governos europeus pavimentaram o caminho para se desfazer da mão de obra excedente com leis discriminatórias e repressivas contra os imigrantes. No ano passado, aprovou-se a “diretiva de retorno” na UE (conhecida como “diretiva da vergonha”) que permite a detenção em até 18 meses dos imigrantes ilegais, para facilitar sua expulsão. As permissões de trabalho e residência estão vinculadas, em grande medida, à manutenção de um contrato de trabalho. Sua perda resulta no fim da legalidade e na possibilidade da expulsão. Os governos da UE estão adaptando suas legislações a esta diretiva. O “pacto sobre imigração” e asilo dos 27 países da União Europeia vai promover a expulsão dos imigrantes irregulares, a proibição a todos os países de promover regularizações em massa, além de “melhorar” o controle de fronteiras.

As medidas mais reacionárias estão sendo implementadas pelo governo italiano de Berlusconi. O premiê italiano aumentou de dois a 6 meses o tempo de detenção dos imigrantes “irregulares” e aprovou a formação de patrulhas de rua noturnas (formadas por ex-policiais, ex-militares e civis) para vigiar as cidades. Estas patrulhas recordam os grupos fascistas da época de Mussolini e são resultado de uma campanha xenófoba que equipara a imigração com delinqüência. As cifras de delinqüência estão baixando na Itália, mas os casos que envolvem delinqüentes estrangeiros são magnificados para criar um estado de psicose que facilita a implantação das patrulhas.

Mas o ataque aos imigrantes não é exclusivo dos “governos de direita”. Na Espanha, o governo “socialista” de Zapatero anunciou que reformará a atual lei sobre estrangeiros e já aprovou um anteprojeto endurecendo as medidas atuais. Nesta reforma, castiga-se com multas de até 30 mil euros “quem promova a permanência irregular em Espanha de um estrangeiro”. Assim se criminaliza quem tenha em suas casas imigrantes “sem papéis”, em situação irregular. A perseguição realiza-se como “caça aos imigrantes”. A polícia de Madri cumpre semanalmente quotas de captura de imigrantes sem papéis e chega a intimidar os que se aproximam de seus consulados ou de colégios para recolher seus filhos. Há denúncias de invasão de domicílios. Os maus tratos nos centros de internamento, onde os imigrantes permanecem detidos até sua expulsão, já viraram rotina.

Na França, o governo Sarkozy, promotor das medidas antiimigrantes na Europa, introduziu medidas “integradoras” para os imigrantes, como o ensino da Marselhesa, o hino nacional da França, e a obrigação de conhecer o francês. No entanto, nos últimos quatro meses foram suprimidos três mil postos de trabalho de professores de apoio para os alunos com dificuldades.

O governo britânico, a raiz da greve de Lindsay Oil, exigiu das instituições da UE que a regulação dos trabalhadores deslocados dos países se modifique em benefício dos trabalhadores locais. Isto facilitará ainda mais a discriminação contra os trabalhadores imigrantes.

Saúde e educação
Os mesmos governos que entregam dinheiro aos bancos e empresas anunciam cortes orçamentários para reduzir despesas do Estado. Assim, a educação e a previdência públicas são sucateadas. As famílias de trabalhadores imigrantes não têm outra escolha do que se dirigir ao serviço público. Os governos europeus, fazendo eco a ultradireita, usam o “excesso” de imigrantes que procuram a rede pública como desculpa do sucateamento. Assim, escondem as verdadeiras causas: os cortes de verbas e a privatização.

Burocracias sindicais contra a unidade da classe operária
Na Espanha, a CC.OO. e UGT aceitam que se discriminem os trabalhadores imigrantes que não tenham permissão de residência de longa duração. O racismo e xenofobia acabam penetrando entre os operários através de argumentos como “os imigrantes aceitam salários e condições de trabalho inferiores às dos trabalhadores nacionais”. Como se os imigrantes o aceitassem por gosto e tivessem possibilidades de escolher! Os governos são os responsáveis por fomentar legislações de estrangeira que produzem, de fato, cidadãos de segunda categoria. Mas as burocracias sindicais ajudam que o racismo e a xenofobia se estendam entre os trabalhadores ao apoiar as medidas discriminatórias. Este papel criminoso facilita que as organizações fascistas e seus discursos possam ganhar peso entre os trabalhadores.

Perigo de que cresçam os bandos fascistas
As organizações fascistas adotaram na Europa o eixo de “a expulsão dos imigrantes”. Suas mensagens dizendo que os imigrantes lhes tiram o trabalho dos trabalhadores nacionais estão calando com muita facilidade em meio a crise econômica. Partidos fascistas, como o BNP britânico, começam a se estabelecer no setor mais atrasado dos trabalhadores ingleses. Por volta de 14% dos jovens espanhóis opinam que votariam em partidos racistas caso aumente a imigração. Na Itália, o perigo esta no mesmo governo que facilita a formação das patrulhas de rua.

É necessário recuperar a unidade da classe operária
Para enfrentar as perdas de postos de trabalho, a carestia da vida e a defesa das conquistas e serviços públicos de qualidade, os trabalhadores europeus terão que enfrentar a xenofobia que os governos e as burocracias sindicais estão fomentando. Os problemas dos trabalhadores são os mesmos, independente de seus países. A divisão e as tentativas de culpar o setor mais débil e mais exposto às conseqüências da crise só servem para que os governos apliquem seus planos pró-patronais, destruam os serviços públicos, e para fortalecer as organizações e discursos fascistas.

A LIT-QI avalia que esta é uma batalha que não pode ser adiada. A luta unitária da classe operária fornece excelentes mostras nos últimos tempos. Na Grécia, os trabalhadores imigrantes eram parte das mobilizações de dezembro. Em grande parte da Europa, assistimos como milhares de trabalhadores desfilaram junto aos imigrantes de origem árabe contra a agressão à Faixa de Gaza por Israel. Na luta dos trabalhadores da limpeza do Metrô de Madri, onde grande parte dos trabalhadores é formada por imigrantes, foram conquistadas vitórias graças à unidade de todos os trabalhadores, independentemente da quem o contratava ou de sua nacionalidade. É fundamental dar uma batalha no terreno sindical: toda discriminação para os imigrantes fomentada pela burocracia sindical deve ser denunciada como uma traição ao conjunto da classe operária.
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