Cláudio Donizete, do ABC Paulista

Em 2020, a crise sanitária e social e as barbaridades do capitalismo contra a classe trabalhadora avançaram. Em paralelo, houve uma escalada do racismo no mundo, em particular nos Estados Unidos e no Brasil.

O caso mais emblemático foi a morte de George Floyd, estrangulado por policiais enquanto dizia que não podia respirar. No Brasil, houve o caso do pequeno Miguel em Recife. Abandonado pela patroa de sua mãe, Miguel despencou do nono andar de um prédio de luxo, enquanto sua mãe, Mirtes de Souza, passeava com a cachorra da patroa, Sari Corte Real.

Episódios como esses ilustram milhares de outros casos de racismo, discriminação, violência e morte. A lista é enorme. Vai da humilhação racista a entregadores de alimentos por aplicativo ao assassinato, como ocorreu com o soldador João Alberto, estrangulado e morto a pancadas dentro do Carrefour por dois seguranças do supermercado.

Há ainda a escalada dolorosa de assassinatos de crianças negras baleadas nas favelas e em periferias do Rio de Janeiro e de outras cidades. As últimas vítimas foram duas primas de Duque de Caxias (RJ), Emilly Vitória, de 4 anos, e Rebeca Beatriz, de 7, que estavam brincando em frente a sua casa esperando a avó. Somente em 2020, foram mortas 12 crianças negras em situações similares, em números oficiais.

Impunidade, naturalização e promoção

A violência racista é acompanhada pela impunidade, em particular entre as forças do Estado. Os PMs que arrastaram Claudia da Silva até a morte na traseira de uma viatura em 2014 não foram punidos nem condenados. Ao contrário, o comandante da patrulha foi promovido a capitão e, no mês passado, nomeado para assumir um cargo no governo do Rio de Janeiro.

Quando a indignação popular cresce, os senhores da casa-grande tratam de escolher e promover negros com quem podem dialogar. Foi o que vimos no Carrefour, que formou um comitê de diversidade e inclusão com a participação de ativistas e intelectuais negros como Rachel Maia, Celso Athayde e Silvio Almeida. Essa notícia foi recebida com um justo repúdio de negras e negros e de movimentos sociais que denunciaram essa traição à luta de raça e classe.

Na prática, a única coisa que esse comitê combate é a luta contra o racismo. Ele nasce controlado e financiado pelos racistas, e suas propostas não vão além de ações simbólicas.

Como combater o racismo?

A violência racista aumenta no mesmo passo que aumenta a crise capitalista. Não será por saídas negociadas com o estado capitalista ou com operadores desse sistema que o racismo e a exploração do trabalho vão acabar.

O capitalismo jamais será nosso aliado, e agora, com o aumento da crise, será cada vez mais racista e violento. A luta contra o racismo é de raça e classe, contra o sistema capitalista e pela construção de uma sociedade socialista, sem oprimidos e sem opressores.

 

Genocídio de negras e negros

– 75,7% das vítimas de homicídio no Brasil eram negras.

– Entre 2008 e 2018, o número de homicídios de pessoas negras aumentou 11,5%; já entre pessoas não negras caiu 12,9%.

– No Brasil, para cada não negro assassinado, 2,7 negros são vítimas de homicídio.

Fonte: Atlas da Violência 2018