Secretaria Nacional de Mulheres do PSTU

Marcela Azevedo, da Secretaria Nacional de Mulheres do PSTU

A pandemia da Covid-19 expõe a incapacidade do capitalismo de garantir a vida dos setores oprimidos da classe trabalhadora. Nos primeiros casos de contaminação por coronavírus no Brasil, cujas vítimas foram pessoas que estiveram em viagem internacional, até se chegou a associar a doença aos setores mais ricos da sociedade. Contudo, a situação se intensificou. Vieram as primeiras mortes, e o vírus se transformou numa ameaça letal contra os mais vulneráveis e oprimidos pela sociedade capitalista.

A doença não escolhe raça, gênero ou conta bancária para se manifestar, mas as desigualdades impostas por este sistema de opressão e exploração determinam quem vai morrer e padecer sem tratamento. Serão os pobres e oprimidos da classe trabalhadora, que estão mais expostos aos riscos e à letalidade da pandemia. Na sociedade capitalista, profundamente desigual, a pandemia tem raça, gênero e classe.

Genocídio negro se encontra com a pandemia

Vivemos num país com o maior número de assassinatos pela polícia. Essas mortes ocorrem nas periferias, vitimando os jovens negros, muitas vezes sem nenhuma acusação e menos ainda julgamento. Não importa se estão voltando da padaria, chegando do trabalho ou se divertindo no baile funk. São dessas periferias que saem também as milhares de empregadas domésticas do Brasil, que atravessam a cidade até os bairros nobres para cuidar da casa e dos filhos da patroa, enquanto os seus filhos se tornam alvo da violência do Estado.

Para essas pessoas, não existe quarentena, isolamento, home office. São os terceirizados, trabalhadores de setores precarizados, limpeza, supermercado e outros setores que estão funcionando de portas fechadas, mas não dispensam seus funcionários. São as empregadas domésticas “quase da família” que não podem ser liberadas porque as patroas são incapazes de gerir suas próprias necessidades dentro de casa. Também devemos lembrar as pessoas em situação de prostituição, muitas delas mulheres transexuais, que se encontram em extrema vulnerabilidade.

Mais uma vez, são pessoas que não causarão comoção ao agonizarem na porta dos hospitais; que sequer vão virar estatísticas, pois não há empenho em diagnosticá-las nem testes suficientes. Vão cumprir o grande desejo da burguesia de morrer trabalhando.

Mulheres: quarentena não garante total segurança

De maneira cruel, vimos os casos de violência doméstica crescerem de forma assustadora em todo o mundo no período do isolamento social. O ambiente doméstico não é seguro para as mulheres há muito tempo. O Brasil, que é o 5º país no ranking internacional de assassinato de mulheres, tem a maioria dos feminicídios praticados dentro de casa.

Essa realidade é fruto da naturalização da violência machista combinada com a falta de investimentos em políticas de combate a essa violência. Ao longo do ano de 2019, nem um centavo foi investido na rede de assistência às mulheres vítimas de violência, mas o presidente oi capaz de utilizar o aumento desses casos para justificar o fim da quarentena no país. Ele não aponta nenhuma modificação no orçamento para a secretaria de mulheres e para a estruturação da rede de suporte às vítimas e ainda tenta dar fim à única medida capaz de proteger a população do contágio pelo vírus.

– Por um plano de emergência contra a violência machista!
– Rede de assistência com equipe capacitada para retirar a vítima do local das agressões, casas–abrigo, renda digna para que as mulheres possam sustentar-se com seus filhos e campanhas de conscientização e orientação nas redes de comunicação;

AGIR
Combater a pandemia, a opressão e a exploração!

A pandemia escancarou para quem quiser ver a incapacidade do sistema capitalista de preservar a vida da humanidade. Da mesma forma, é incapaz de superar as ideologias de opressão como o machismo, o racismo, a lgbtfobia e a xenofobia porque se aproveita delas para explorar com maior intensidade uma grande parcela da classe trabalhadora.

É preciso que, nesse momento, todos nós nos unifiquemos na defesa de cada um da nossa classe, sem deixar ninguém para trás. Lutar pela nossa sobrevivência passa por exigir dos governos da burguesia todas as medidas necessárias para que os setores mais penalizados tenham condições de enfrentar essa doença. Se eles são incapazes de nos garantir isso, que tomemos o poder e façamos nós mesmos!