Dois meses após o primeiro escândalo, resta a pergunta: o que mais falta para o senador ser cassado?A permanência de Renan Calheiros na Presidência do Senado se complica a cada dia. Ele continua impune, presidindo as sessões da casa, mas já responde a três processos no Conselho de Ética do Senado.

A última denúncia foi publicada na revista Veja e motivou o terceiro processo contra ele. O usineiro João Lyra revelou que manteve uma sociedade com Calheiros e que utilizavam “laranjas” para a compra de empresas de comunicação. De acordo com a revista, eles compraram uma emissora de rádio e um jornal em Alagoas, que se transformaram na JR Radiodifusão.

O investimento de Calheiros no negócio foi de mais de R$ 1,3 milhão. Nada foi declarado à Receita Federal: para isso serviram os “laranjas”. Lyra afirmou que Calheiros continuou com as empresas mesmo depois que a sociedade terminou, em 2005.

Nesta quinta-feira, 16, foi apontada, também, a utilização de aviões de Lyra na campanha de Calheiros em 2002, então candidato ao Senado. O usineiro afirma ter colocado à disposição de Calheiros um jatinho e um helicóptero de uma de suas empresas, a LUG Táxi Aéreo. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, pelo menos seis viagens foram feitas. Elas também não foram declaradas à Justiça Eleitoral, configurando o famoso “caixa dois”. O senador teria usado as aeronaves 23 vezes, gerando gastos de mais de R$ 200 mil. Nada teria sido pago por Calheiros, mesmo tendo sido usados pelo senador para levar colegas, ministros e senadores a atividades políticas em Alagoas e a eventos sociais.

Entre os “sócios laranjas” da JR Radiodifusão, estão Carlos Santa Ritta, assessor de Calheiros no Senado, Tito Uchôa, primo do senador, e Renan Calheiros Filho. O próprio senador assinou, no início de agosto, um decreto-legislativo liberando uma concessão de rádio FM à empresa JR Comunicação na cidade de Água Branca (AL), pelo prazo mínimo de dez anos.

Apesar de o próprio corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP) ter afirmado que as provas de Lyra são convincentes, Calheiros ameaça entregar “provas definitivas” de que não tinha sociedade com o usineiro. Nas acusações anteriores, ele também apresentou provas. Elas eram falsas.

Duro na queda
Este é o terceiro inquérito contra Calheiros. Os escândalos começaram com a denúncia feita pela jornalista Mônica Veloso de que um lobista da empreiteira Mendes Júnior pagava a pensão da filha que tivera com ele. Depois, surgiu a acusação de favorecimento da empresa de bebidas Schincariol, livrando-a de dívidas com a Previdência. Agora, é o uso de laranjas na compra de empresas de comunicação, uma prática bastante comum entre os políticos.

Mesmo com tudo isso vindo à tona, Calheiros ainda não sofreu nenhuma punição e continua desfrutando tranquilamente dos bens que conseguiu com práticas corruptas. Isso se deve, em parte, às tentativas do governo de livrar o presidente do Senado a todo custo. O trabalho é árduo, pois logo que uma denúncia é abafada, surge outra sujeira.

No mesmo dia em que foi feita a última denúncia, Calheiros falou à imprensa que recebeu um telefonema de Lula, que estava na Nicarágua. O senador disse que Lula não faria cobranças ao Senado. “Ele é meu amigo e ele não iria cobrar nada do Senado Federal”, disse Calheiros. Segundo o senador, os dois mantêm uma relação de amizade que está acima da política.

Questionado por repórteres, Lula afirmou o apoio ao corrupto: “todo ser humano, todo brasileiro, 190 milhões de brasileiros, inclusive você, terá o meu apoio porque todos são inocentes até prova em contrário”.

Outro fator que tem sido decisivo são as constantes ameaças que Calheiros tem feito de denunciar os “podres” de seus adversários. Com esta chantagem, ele conseguiu ainda não cair da “corda-bamba” em que se encontra.

A despeito de toda a hipocrisia da oposição burguesa – que se quisesse já teria derrubado Calheiros – o país inteiro sabe que práticas como as que incriminam o presidente do Senado são muito comuns no Congresso Nacional. Caixa dois, relações escusas com lobistas, financiamento de campanhas por megaempresários e latifundiários, uso de laranjas: Calheiros e os que o acusam são iguais.

Não é possível confiar no Congresso. Afinal, alguém se lembra de alguma CPI que tenha feito uma devassa, limpado o Planalto da corrupção, levado a grandes punições? Ninguém, pois isso nunca aconteceu. Quando alguém chega a ser punido, logo volta à cena, concorrendo nas próximas eleições, como se nada tivesse acontecido. A corrupção é uma premissa do capitalismo e, por isso, as instituições estão corrompidas, não adiantando mudar apenas as pessoas que as governam.

Todas as CPIs terminaram em pizza. Calheiros precisa ter seu mandato cassado e todos os seus bens confiscados. Da mesma forma, é urgente que se quebre o sigilo fiscal e bancário de todos os envolvidos nas denúncias, com a prisão e o confisco dos bens de corruptos e corruptores.

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