Polícia Militar protege diretoria do sindicato
Diego Cruz

A assembléia dos funcionários dos Correios realizada no final da tarde do dia 21, sexta-feira, na Praça da Sé em São Paulo, teve uma presença inusitada. Policiais militares faziam a proteção do carro de som do sindicato, enquanto nas partes laterais da Catedral da Sé, soldados do Batalhão de Choque observavam os trabalhadores.

A presença ostensiva da polícia era um prenúncio do que a direção do sindicato tramava. Percebendo a revolta e a indignação crescente na categoria contra as sucessivas traições ao longo da campanha salarial, a direção resolveu se esconder atrás da PM. No entanto, a proteção da polícia e dos “seguranças” da UGT, não impediu que os trabalhadores dos Correios partissem pra cima do caminhão e expulsassem da assembléia os diretores Márcio e Japonês, conhecidos pelegos odiados pela categoria.

Operação desmonte
Antes mesmo de iniciar a assembléia, a operação desmonte comandada nacionalmente pela Articulação (PT) e PCdoB já estava avançada. Pelas regras da Fentect, para aprovar o acordo com a ECT, é necessária a aprovação de 18 dos 33 sindicatos da Federação. Pouco antes da assembléia de São Paulo, a maior base dos Correios, 14 sindicatos já haviam aprovado o acordo rebaixado imposto pela maioria do Comando Nacional de Greve.

Mesmo em São Paulo o movimento já refluía, fruto do boicote do sindicato. No entanto, nenhum diretor teve a coragem de defender novamente a proposta de acordo. A única intervenção foi de Geraldo Rodrigues, o Geraldinho, da direção da Fentect pela oposição e militante da Conlutas. Geraldinho denunciou a traição da greve pela maioria da direção da Federação e o acordo miserável, sendo aplaudido pelos funcionários.

Identificando o refluxo do movimento, o dirigente da Conlutas propôs o retorno ao trabalho na segunda-feira, dia 24, e a rejeição do acordo rebaixado, mesma medida aprovada pelo Comando de Greve. A direção do sindicato, porém, a fim de confundir os trabalhadores, colocou em votação três propostas: a de Geraldinho, a continuidade da greve e a aprovação do acordo com a ECT com o imediato retorno ao trabalho, esta proposta, dando a entender que era a orientação do comando.

Em meio a muita confusão, os trabalhadores aprovaram a terceira proposta. A indignação aumentou quando a diretoria explicou o que havia sido aprovado. A PM teve que bloquear a entrada do caminhão de som para proteger os pelegos da fúria dos funcionários. Com a aprovação do acordo por São Paulo, os demais estados devem seguir o mesmo caminho, pondo fim definitivamente à greve nacional.

Desgaste da direção
Mesmo com a traição à greve e a aprovação de um acordo rebaixado, a categoria sai fortalecida do movimento, demonstrando sua capacidade de mobilização. “A categoria percebe que lutou, foi guerreira, mas que foi traída pela direção”, avalia Geraldinho. A direção, por outro lado, sai da greve em meio a um profundo desgaste. “O que impera hoje é um grande sentimento de revolta”, completa o dirigente da oposição.