Abaixo o golpe!

  • Qual é a política do imperialismo?
  • Cresce a resistência
  • Não às negociações às escondidas do povo

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    Abaixo o golpe!
    No dia 5 de julho, dezenas de milhares de hondurenhos mobilizaram-se no aeroporto de Tegucigalpa para esperar a volta do presidente deposto Manuel Zelaya (que não pôde retornar ao país) e se enfrentaram com as forças de repressão. O saldo da repressão foram dois mortos e dezenas de feridos. Uma grande manifestação de resistência ao golpe militar que derrubou Zelaya e o expulsou do país.

    Esse golpe recorda numerosos fatos similares que, no passado recente, foram comuns na América Latina e em outras regiões do mundo. Talvez por isso a notícia tenha causado um forte impacto internacional e, ao mesmo tempo, o repúdio dos trabalhadores e dos povos em todo o mundo, especialmente no continente.

    Unidade golpista da burguesia hondurenha
    Ao analisar a situação do país, vê-se que o golpe foi produto de uma amplíssima frente reacionária de praticamente todos os setores da burguesia hondurenha. Por de trás dele estão as tradicionais organizações políticas burguesas: o Partido Nacional (conservador), o Partido Liberal (ao qual pertencia o próprio Zelaya), a Corte Suprema, o Congresso, os meios de comunicação, a Igreja Católica e as Forças Armadas.

    Manuel Zelaya é um presidente burguês, que vem da oligarquia latifundiária e não representa os interesses do povo. Mas sua aproximação com os países influenciados pelo chavismo terminou mal. Essencialmente, a tentativa de conseguir uma reeleição não prevista pelo atual regime político, recusada pela grande maioria da burguesia, acabou tornando intolerável sua permanência no poder para essa elite e as Forças Armadas.

    Repressão contra o povo
    Os golpistas não quiseram se assumir como tais, ao contar com o apoio da maioria das instituições do regime, como a Corte Suprema e o Congresso. Tentaram dar uma cobertura de legalidade à ação, acusando Zelaya de diversos “crimes” e o destituindo “constitucionalmente”. Inclusive, foi o próprio Congresso que nomeou o novo “presidente civil”, proveniente do mesmo Partido Liberal, Roberto Micheletti.

    Além desse manto de legalidade, desde o início os golpistas mostraram sua verdadeira face e suas intenções. Decretaram toque de recolher, fecharam os meios de comunicação que não controlavam, detiveram centenas de opositores e reprimiram duramente as manifestações de protesto, ocasionando vários mortos e dezenas de feridos. Não há nenhuma dúvida de que se trata de um golpe contra as liberdades democráticas e o povo hondurenho.

    Uma burguesia e um exército muito reacionários
    Por outro lado, o atual regime político hondurenho baseia-se numa Constituição muito reacionária e oligárquica, aprovada em 1982. Naquela época, o país era conhecido como o “porta-aviões” dos Estados Unidos. Ou seja, servia de base à guerrilha dos “contras”, que lutavam contra o governo sandinista na Nicarágua, além de ajudar o exército salvadorenho a combater a guerrilha da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN).

    Naqueles anos, o embaixador dos EUA no país era o célebre agente da CIA John Negroponte. Ele não só organizou os “operativos” contrarevolucionários, como também ajudou o exército e a burguesia hondurenha a criar os “esquadrões da morte”, cuja função era “eliminar” os dirigentes operários e de esquerda para evitar uma guerra civil no país.

    Os principais quadros e dirigentes atuais das Forças Armadas hondurenhas se “formaram” nessa época e passaram por “especializações” na famosa “Escola das Américas” para militares latino-americanos (atualmente sediada em Fort Benning, na Geórgia). É o caso do general do exército Romeo Vásquez, principal líder militar golpista, e também do general da Força Aérea Luis Javier Prince Suazo. Ou seja, são essas instituições, extremamente reacionárias, que patrocinaram este golpe de Estado.

    Um país muito colonizado
    Com pouco mais de sete milhões de habitantes, Honduras é o segundo país mais pobre da América Central, além de ser um dos mais miseráveis do continente americano.
    A base da economia é a agricultura, uma parte dedicada à subsistência e outra em mãos da oligarquia latifundiária, produtora de bananas, café e açúcar para exportação. Considerando também a existência de um novo setor de maquiladoras têxteis, 70% de suas exportações têm como destino os Estados Unidos. Outra fonte de rendimento importante para o país são as remessas dos hondurenhos que vivem fora do país, especialmente nos EUA.

    Em outras palavras, a burguesia hondurenha permitiu que, de fato, o país seja quase uma colônia do imperialismo ianque. Essa configuração econômica é um elemento importante para compreender a situação.

    É necessário derrotar o golpe
    Zelaya é um presidente burguês que, tanto por sua origem social latifundiária como por sua política, não representava em nada os interesses do povo. Mas ele foi eleito pela vontade popular e nós da LIT-QI consideramos que só os trabalhadores e o povo hondurenho têm o direito de definir se Zelaya, ou qualquer outro presidente, deve ficar ou cair.

    Por isso, achamos que é necessária a mais ampla mobilização nacional e internacional para derrotar o golpe militar. As eleições que levaram Zelaya ao poder devem ser respeitadas. Por essa mesma razão, achamos que a primeira exigência deve ser a de que Zelaya seja restituído ao governo.


    Qual é a política do imperialismo?
    O imperialismo norte-americano apoiou todas as medidas (como a resolução da Corte Suprema ou a votação do Congresso) que se opunham à reeleição de Zelaya. O objetivo era obrigá-lo a negociar com a oposição. Mas os EUA não apoiaram o golpe, como sempre foi tradicional nesses casos. O movimento surge, então, como um excesso da burguesia hondurenha, que saiu do “limite” previsto para pressionar Zelaya.
    Isso explica por que, além do esperado repúdio das organizações operárias, populares e sociais, e das mobilizações internacionais contra o golpe, o governo dos golpistas sofre hoje um isolamento internacional poucas vezes visto na história.

    Organismos a serviço do imperialismo, como a ONU e a OEA, e os governos de praticamente todos os países, incluídos os imperialistas da União Europeia e dos EUA, se manifestaram contra o golpe, não reconheceram o novo governo de Micheletti e pedem a restituição de Zelaya. Inclusive, o venezuelano Hugo Chávez, Lula e outros governantes elogiaram a posição do presidente dos EUA, Barack Obama.

    Há uma mudança no imperialismo?
    Esta situação, em que o imperialismo e suas instituições internacionais se opõem a um golpe de direita, contrasta claramente com outros momentos do passado. É possível que muitos trabalhadores se perguntem se a eleição de Obama não provocou uma mudança profunda na política do imperialismo.

    A resposta é necessariamente complexa. Sob Obama existe sim uma mudança evidente na forma ou tática política, com respeito a Bush. Mas, no conteúdo, é a mesma defesa dos interesses imperialistas contra os povos.

    O imperialismo norte-americano se viu obrigado a mudar sua política diante dos golpes militares. Em primeiro lugar, pela derrota que está sofrendo na guerra do Iraque e no atoleiro em que se converteu o Afeganistão. Também pelo fracasso de tentativas golpistas, como a contra Chávez, em 2002. Esses e outros fatos significaram uma derrota da “guerra contra o terror” e do projeto do “novo século americano” impulsionado por Bush a partir de 11 de setembro de 2001.

    A “reação democrática”
    Por isso, após essas derrotas, o imperialismo aposta suas fichas nas “negociações de paz” no Oriente Médio e em outras partes do mundo e nos regimes democráticos burgueses para desmontar as guerras de libertação e desviar os acessos revolucionários de massas. É um novo equilíbrio entre “cruz e a espada”: o principal esforço militar hoje está em ganhar a guerra no Afeganistão e desmontar os outros processos de luta.

    Essa política, que chamamos “reação democrática”, tem como um de seus centros negociar e dar espaço aos governos de colaboração de classes, sejam frente populistas ou populistas de esquerda, como o de Lula ou de Chávez, para que sejam eles, com seu prestígio popular, os que controlem a insatisfação das massas diante da crise econômica e da exploração capitalista, e suas mobilizações.

    No marco dessa política, e com a principal preocupação do imperialismo dirigida ao Oriente Médio, um golpe militar em um país da América Central só serve para “desestabilizar” a região. Porque pode provocar uma resistência de massas e cria conflitos com os governos frente populistas e populistas de esquerda. Por isso, está na contramão da tática política atual do imperialismo e de seus interesses mais estratégicos. É a razão pela qual vemos uma inédita unidade antigolpista.


    Cresce a resistência
    Os golpistas pareciam ter aparentemente controlado a situação interna de Honduras e mostravam-se duros em aceitar a volta de Zelaya ao cargo. Mas é difícil pensar que, isolado internacionalmente e sem reconhecimento de nenhuma potência, organismo internacional ou dos principais países da região, o governo surgido do golpe possa se consolidar e se manter.

    Essa crise “nas alturas” começa a ter um duplo efeito. Por um lado, já há setores burgueses hondurenhos que criticam essa dureza do novo governo e querem aceitar as propostas da ONU ou da OEA para negociar.

    Por outro, abre as portas para um salto na mobilização popular. Um dos co-responsáveis pela resistência popular nos informa numa carta sobre a mobilização no dia 5 de julho: “estão ocorrendo as mobilizações mais gigantescas da história de Honduras. Ontem teve cerca de 100 mil pessoas e hoje um número maior. Ambas muito combativas. Nesse sentido, a mobilização de rua está chegando a seu auge. O exército respondeu com bala à tentativa das massas de tomar o aeroporto no momento da chegada do presidente, com o saldo de dois mortos. No entanto, essa luta de rua tem uma limitação. O mesmo Mel Zelaya, através de influências, se encarrega de jogar baldes de água fria para conservar seu caráter pacífico e de não confronto”. Em outras palavras, começa a se abrir a possibilidade de que o golpe seja derrotado pela mobilização de massas e suas ações.


    Não às negociações às escondidas do povo
    Ao mesmo tempo, seria um erro completo pensar que o imperialismo, a ONU e a OEA serão os defensores da democracia até o fim ou que avançarão até castigar a oligarquia e os militares golpistas.

    Na verdade, eles já começam a pressionar por uma negociação entre os golpistas e Zelaya que permita uma “solução” de compromisso. Por exemplo, a chancelaria brasileira (atualmente muito próxima à política de Obama) expressou que, além da volta de Zelaya, “o único caminho que pode conduzir a uma saída seria a realização das eleições presidenciais, convocadas para novembro” (Folha de S. Paulo, 6/7/09).

    Isto é, uma negociação que salve a “continuidade democrática” e a política atual do imperialismo, mas que em essência seria um triunfo do golpe, já que os golpistas ficariam impunes e o povo hondurenho não decidiria se Zelaya pode ter um segundo mandato.

    Por isso, a LIT-QI chama todas as organizações operárias, populares e sociais, democráticas e de esquerda a realizar uma intensa campanha internacional contra o golpe militar em Honduras e pela solidariedade com o povo hondurenho, principalmente na América Central e na América Latina. Só a mobilização popular no país (através de manifestações, greve geral etc.) e internacional pode derrotar completamente o golpe. Tal como temos assinalado, achamos que o ponto central dessa campanha deve ser: Abaixo o golpe militar e que Zelaya retome seu posto! Todo nosso apoio à heroica luta do povo hondurenho contra o golpe!

    Ao mesmo tempo, diante das possíveis negociações, achamos que também se deve exigir “Nenhuma negociação com os golpistas!” e castigo a todos os envolvidos no golpe, sejam civis ou militares.

    Além disso, não poderá haver verdadeiras liberdades democráticas em Honduras enquanto permaneça a reacionária constituição de 1982. Neste sentido, nossa proposta é que, com a derrota do golpe, se convoque uma Assembleia Constituinte democrática e soberana. Esta deve acabar de vez com o regime bipartidário e autoritário, romper com o imperialismo e atender às reivindicações populares por terra, trabalho e liberdades políticas e sindicais.

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    Post author Liga Internacional dos Trabalhadores (www.litci.org)
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