Bohio, Quisqueya, Ayiti
Já fora o nome da ilha
Habitada pelos índios
Uma linda maravilha
Invasores espanhóis,
Sua riqueza empilha.

Com extermínio de índio
Tragam os negros robustos
Falou Las Casas, um padre,
Não importam os seus custos
Quinze mil vieram logo
Da África, passando sustos.

O Haiti significa
Uma terra montanhosa
Vivendo da agricultura,
Mas a fome é vergonhosa
Uma região sofrida
Onde a morte é perigosa.

E se tornou o país
Mas pobre do hemisfério
Sempre sendo beliscado
Por fera do grande império
Um povo que não se rende
Que luta sem ter mistério.

Cidade mais populosa
Porto Príncipe capital
O francês e o crioulo
É a língua oficial
Vinte e sete mil quilômetro
Tem a sua área total.

No Tratado de Ryswick
Repartiram a região
Entre a Espanha e a França
Um pedaço em cada mão
Fatiando assim o bolo
Pra manter dominação.

Sem piedade ocuparam
Roubando sua riqueza
Mata, destrói plantações
Deixa o povo na pobreza
Enviando pra Europa
Engordando a nobreza.

País que foi no passado
Uma Colônia francesa
Produtora do açúcar
Que pro povo falta à mesa
Muito rica por um lado,
Do outro muita pobreza.

O Mackandal, um escravo
A frente de uma guerrilha
Foi condenado a fogueira
Queimado foi nessa ilha
Mas sua semente boa
Voltou a fazer partilha.

A luta por liberdade
Napoleão Bonaparte
Tentou impedir o sonho
Que na vida já é parte
Mandou matar Toussainte
Que fez guerra como arte.

Um líder que afirmou:
Quando “Derrubaram a mim
Não abateram o tronco
Da árvore” que não tem fim
A liberdade do negro
Lutando será assim.

Em seguida independente,
Aboliu a escravidão
Foi o primeiro da América
A gritar libertação
Cativos se levantaram
Fizeram a rebelião.

Espalhou por toda América
O sonho de liberdade
Ajudou Simon Bolívar
Combater barbaridade
Da colônia, escravidão
Que manchou a humanidade.

Dessalines e o campo
Lutam contra a opressão
Repartir as terras todas
Para ter direito ao pão
Esse era o pensamento
De quem quis libertação.

O dinheiro do haitiano
Saiu,pois para ajudar
Os latino-americanos
Que queriam desgarrar
Da presa colonial
Que vivia a explorar.

Generais ambiciosos
Do lado do rico ficam
E muitos traíram os pobres
Assim eles justificam
As vidas dos libertados,
Mas uma vez se complicam.

Oprime quem fez a luta
Nessa terra independente
E passando a reprimir
Com armas e ferozmente
Condenando o haitiano
Destruir sua semente.

Já durante o século vinte
Foram os Estados Unidos
Usurpando a autonomia
Direitos sendo contidos
Resistência não faltou
Aos invasores bandidos.

No fim da segunda guerra
Todo o mundo em reboliço
A Revolta no Haiti
Cai Lescot, o mestiço,
O negro Dumarsais
Promete mostrar serviço.

Tem período da história
Que tem golpe de estado
O terror Duvalier (1957-86)
Não é coisa do passado
Com as tropas da “mãe” ONU
Segue sendo saqueado.

O Papa Doc, um médico
Eleito foi presidente
Inaugurou no Haiti
Uma ditadura ardente
Um mandato vitalício
Prejudicou muita gente.

Quando morreu Papa Doc
O Baby Doc, seu filho
Continua a ditadura
Do pai segue o mesmo trilho
Um governo sanguinário
Que do povo tira o brilho.

O terror do Doc cai
As ruas massas tomando
Chega a Frente Popular
Novo regime se armando
Um padre com força assume
Do Haiti seu comando.

Jean-Bertrand Aristide
Por golpe foi derrubado (2004)
Junto ao FMI
Por onde foi tutelado
O plano neoliberal
Por ele foi implantado.

E os Estados Unidos
Decidiram derrubar
O governo de Aristide
Que não mais ia apoiar
A tropa americana
Invadiu, foi ocupar.

O Canadá e a França
Também enviaram tropa
O povo não aceitando
Cortou o mal pela copa
As nações sem conseguirem
Perguntou se o Brasil topa?

O Brasil de Lula disse:
Estou disposto ajudar
A seleção brasileira
No Haiti vai jogar
E o povo hospitaleiro
Vai nossa tropa aceitar.

E os serviçais governos:
Argentina e Uruguai
Junto ao Peru e Chile
Bolívia e o Paraguai
Guatemala e Equador
Na rua com arma sai.

Outros países perversos
Turquia, Benim, Portugal
Complementando esse time
Jordânia, Chade e Nepal
Comandando essas tropas
O Brasil é o general.

Minustah é uma força
Militar de ocupação
Que diz: trazer ao povo
Toda estabilização
Reunindo esses países
Pra ONU é a missão.

Presentes no Haiti
Organiza uma ofensiva
Contra o povo haitiano
Que não tem perspectiva
De viver independente
Nessa ocupação nociva.

Convocando a eleição
René Preval foi eleito
O ianque americano
Não engole tal direito
Não querendo aceitar
O resultado do pleito.

Não demorou muito tempo
Pra Preval ter confiança
Agora pra todo império
Ele é a esperança
Somou-se aos invasores
ONU dando segurança.

As tropas da Minustah
Tendo a frente à brasileira
Mortes diárias e tiros
Nessa invasão estrangeira
Ferem a soberania
Nessa ação desordeira.

A ação da Minustah
É de muita violência
Atira matando gente
Mostrando incompetência.
Mulheres são estupradas
Com a maior virulência.

O direito lá na ilha
É bastante violado
Econômico e social
Cultural fica de lado
Saúde e educação
Não oferece o Estado.

O haitiano enfrenta
Ocupação militar
Nas ruas pulando lutam
Podemos aqui citar:
O salário e moradia
Quer-se muito conquistar.

Antes que o cuspe seque
Lula enviou os soldados
De início foram aceitos
E sinceramente amados
Mas com o passar do tempo
Passaram a ser odiados.

Os soldados pelas ruas
Recebem o povo à bala
A revolta foi crescendo
E muita gente não cala
A matança é muito grande
Enterrados são na vala.

O povo haitiano sofre
Os saques e os embargos
As invasões estrangeiras
Que são momentos amargos
Sugaram as suas riquezas
Enchendo seus buchos largos.

O Haiti, golpeado
Por Jeanne um furacão
Mortes e muitos estragos
Castigaram essa nação
As cidades arrasadas
Por não ter a proteção.

A fome é tão feroz
Biscoito feito de terra
Na ceia do haitiano
O bucho é oco e berra
Um povo que sofre muito
A vida inteira se ferra.

As tropas supostamente
Trazem paz para o seu povo
Mas em toda ocupação
Não chega nada de novo
Só repete o b-a-bá
É peixe caindo em covo.

Um país submergido
Ao puro empobrecimento
Ditadura, ocupação
É parte de seu tormento
Ao longo de sua história
Tem sido esse sofrimento.

Os tanques da Minustah
Comandado pelo Lula
Vai juntando pela rua
Fome, morte que acumula
A política para o Haiti
Esse governo regula.

A polícia e Minustah
Faz a prisão clandestina
Sequestra quem tá na rua
Usa de prática assassina
Criminalizando a luta
Com muita carnificina.

Sobre uma chuva de bala
Dispersa uma multidão
Estudante, muita gente
Sofre forte repressão
Não querem que vá a rua
Fazer manifestação.

A miséria no Haiti
Ela não veio do nada
Era a “Pérola das Antilhas”
Hoje é conto de fada
Sugaram riqueza e sangue
Desse povo camarada.

A vida de um haitiano
É de grande exploração
A tonelada de cana
Extraiu da plantação
Quinze horas de trabalho
Deixando calo na mão.

Empresas tão vindo atrás
De mão-de-obra abundante
Explorando o haitiano
Sendo essa a resultante
Implantam maquiladoras
Com a força de um gigante.

A Levi’s fabrica jeans
Ganhando rios de dinheiro
Nas costas das costureiras
O tiro é sempre certeiro
No país a mais-valia
Engole-se por inteiro.

A jornada no Haiti
São doze horas por dia
Oitenta e três ao mês (real)
Vivem em plena agonia
O trabalho é tão barato
Parece até cortesia.

Sem emprego no país
Não se tem corte de cana
Migrando a outra República
Agora a Dominicana
Transforma-se em escravo
Pra viver só com banana.

Um país que deveria
Ser auto-suficiente
Produzindo cereais
Por ter solo competente
Invasão de território
É coisa muito frequente.

Lula quer assento no
Conselho de Segurança
Invadindo o Haiti
A ONU dar esperança
As tropas de ocupação
No lugar de USA e França.

O mar, a terra e o céu
Da USA tem proteção
As suas Forças Armadas
Garantem a dominação
E todo povo haitiano
Clama por libertação.

As tropas da Minustah
Pela ONU organizada
Bush, o senhor da guerra
Tá certo ser enviada
O Barack Obama disse:
Por mim vai ser preservada.

Lula e seus comandados
Não foram ao Haiti
Por razão humanitária
Pensava o povo daqui
O Brasil do futebol
Tem outro interesse aí.

Sessenta mil por soldados(reais)
Governo faz esse gasto
Lula já são cinco anos
Que tem deixado esse rasto
Noventa milhões ao ano
Pra manter do rico o pasto.

Basta de ocupação
Econômica e militar
Pois um Haiti liberto
Lutemos pra conquistar
Retirar as tropas agora
É sinal pra caminhar.

Fazemos grande chamado
Ao povo de todo mundo
A ONU mente que ajuda
Na verdade leva ao fundo.
Com a invasão das tropas
O ataque é mais profundo.

Fora as tropas estrangeiras
Deixe livre o território
O destino do Haiti
Não decide no escritório
Dessa ONU que impõe
Um sistema exploratório.

Obama que fala muito
Que chamou Lula de “o cara”
Os oprimidos do mundo
Nas costas apanham de vara
Resistir lutando muito
É como a opressão para.

Não pode ser prisioneiro
Do jugo imperialista
Atende ao pedido deles
Botando o Brasil na lista
De feitores dessas guerras
Na mão do capitalista.

Exigimos do Brasil
A saída imediata
Da tropa que é brasileira
Hoje que no Haiti mata
Lula não é um favor
Decida e pro bem acata.

Conclamamos que o povo
Se junte a essa campanha
“Fora as tropas brasileiras”
É ajuda muito estranha
Queremos que o Brasil
Abandone essa façanha.

Nando Poeta nasceu em Natal (RN), em 5 de novembro de 1962. Filho de Manoel Soares dos Santos e Cleonice Soares dos Santos. Professor e sociólogo, militante do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado.

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