Camisetas da Adidas comercializadas nos EUA

Adidas incentiva o turismo sexual no Brasil

Uma notícia tomada pela grande mídia como polêmica: a multinacional Adidas coloca à venda camisas que sugerem a exploração e o turismo sexual na Copa do Mundo no Brasil, em site dos Estados Unidos. Para aqueles e aquelas que lutam todos os dias contra o machismo e sabem da exploração sexual existente no país é muito mais que uma polêmica, mas algo que fere e indigna ao saber que empresas aliam o marketing esportivo com a possibilidade de aumentar seus lucros com a exploração e o turismo sexual de crianças, adolescentes e jovens que acabam se submetendo a uma das formas mais degradantes de sobrevivência nessa sociedade.

A multinacional em questão, assim como as grandes empresas do mercado de materiais esportivos, explora trabalhadores e trabalhadoras em países pobres ou em desenvolvimento, com destaque para a mão de obra infantil e feminina. Segundo o Fórum Internacional sobre Direitos Trabalhistas, países como Paquistão, China e Índia possuem fábricas de bolas de futebol em que crianças levam as mesmas para costurar em suas casas, recebendo salários abaixo do nível de subsistência. Mesmo adultos recebem salários miseráveis, a exemplo das fábricas de bola da cidade paquistanesa de Stakol, o maior centro mundial de fábricas de bolas da Adidas onde, para costurar 32 gomos de uma bola que é vendida nos Estados Unidos por 50 dólares, cada trabalhador recebe 5 centavos de dólar, de acordo com dados do jornal australiano The Sydney Morning Herald.

Não bastasse a violência da superexploração nas fábricas asiáticas, a busca de um nicho de mercado na visão do Brasil associado a mulheres se tornou um alvo a partir do setor de marketing da empresa. Afinal de contas, as mensagens “subliminares”, onde um coração virado de cabeça para baixo se torna um bumbum e fio dental, ou a frase em inglês “Lookin’ to score”, que pode ser traduzida como “buscando fazer gols” ou “querendo pegar garotas”, não são por acaso, mas muito bem pensadas por profissionais do ramo que são pressionados por empresas do gênero a fazerem o melhor marketing possível.

Assim, para os ricos acionistas, a relação entre nosso país e o turismo sexual não é um problema social grave, que leva pessoas a venderem seus corpos como último recurso frente à miséria e ao descaso dos governos, mas é simplesmente uma possibilidade de ampliar os estratosféricos lucros que começam nas fábricas do Paquistão e podem continuar nas compras dos turistas estadunidenses que visitam o Brasil em busca de sexo fácil.

Em um país governado por uma mulher, a exploração sexual é inadmissível!
Com a explosão de indignação nas redes sociais e a divulgação da mídia, o governo brasileiro se sentiu pressionado a dar alguma resposta. O mesmo se apresentou como “indignado” e Dilma declarou que aumentarão os esforços para prevenir a exploração sexual na Copa. Tal afirmação realizada sob pressão só reafirma que a prioridade da primeira presidente mulher passa muito mais por despejar recursos públicos nos estádios e proteger os lucros dos investidores na Copa, aumentando a repressão às manifestações do que combater o machismo e a relação que o país tem com o turismo sexual.

Um pouco antes do governo Dilma, em 2009, após os 7 primeiros anos do PT no poder, o número de denúncias de exploração sexual de crianças e adolescentes triplicava segundo dados da própria Secretaria de Direitos Humanos da presidência. Em 2012, segundo o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, estimava-se 500 mil crianças e adolescentes na indústria do sexo no Brasil; segundo reportagem da Folha de São Paulo, os empresários da prostituição esperam um aumento de 60% no que afirmam ser “a Copa das Copas”, com diversas iniciativas para atrair clientes já em curso nas cidades que sediarão os jogos. Além de tudo, a Fundação francesa Scelles afirma que o tráfico de mulheres é algo que se amplia em grandes eventos, como acorreu na Copa da África do Sul.

Dilma e seus discursos evasivos e sem objetivos claros sobre como combater o turismo e exploração sexual, combinado à visualização do passado, presente e perspectivas dessa prática na Copa, só esclarece o fato de que, ao longo de quase 4 anos de governo, absolutamente nada de efetivo para combater a raiz do problema foi feito.

Entregadas a miséria, fome e pobreza extrema, era possível encontrar meninas de 10, 11 e 12 se prostituindo por R$ 10 ou um prato de comida nos arredores do Castelão, antes mesmo de sua inauguração. Para muitas famílias no estado do Amazonas, vender suas filhas para políticos acaba sendo alternativa à pobreza, como no caso do prefeito da cidade de Coari, no início desse ano. No centro do Rio de Janeiro, sede da grande final, a prostituição cresce, inclusive entre mulheres casadas, desesperadas diante da falta de emprego para elas e seus esposos. De norte a sul do país, inúmeros são os exemplos da degradante situação que milhares de crianças e mulheres passam, diante do fato de direitos sociais serem deixados de lado, para cumprir compromissos com banqueiros e grandes empresários.

Em uma suposta festa da paixão nacional, para muitos e muitas não haverá o que comemorar, apenas sentir a dor da infância perdida, da falta de perspectivas e do corte na carne por transformar seus corpos em mercadoria. Dilma tem em suas mãos esse sangue derramado.

O futebol e a idelogia de opressão à mulher
Essa paixão nacional cantada em prosa e verso por artistas, que movimenta milhares de pessoas pelo amor a seus times, hoje, no capitalismo, foi apropriado pelos ricos e passou a ser bastante valorizado por estes. Isso porque a massa que se aproxima do futebol é vista como potencial mercado consumidor. Hoje é um meio de propagar a ideologia machista, a falsa ideia da inferioridade da mulher, para potencializar os lucros.

Os exemplos de como o machismo se propaga pelo futebol e gera lucros são muitos. Desde a presença de mulheres como atrativos aos comerciais de cervejas, passando por desfiles de garotas carregando placas de anúncios nos intervalos nos estádios, ou mesmo a atual ampliação de mulheres no cenário de reportagens esportivas – em que pese a importância de ocuparem um espaço historicamente masculino – a visão da mídia empresarial é voltada para o fato de que mulheres apresentadoras podem ampliar o Ibope dos programas esportivos, já que o principal público é de homens. E descaradamente, o atual investimento de camisas da Copa do Mundo com alusão à mulheres brasileiras.

Assim, a paixão do futebol é nada mais que roubada dos trabalhadores e trabalhadoras, daqueles e daquelas que levantaram cada pedra dos estádios mas não poderão entrar nos mesmos, àqueles e àquelas que farão as cidades funcionarem para turistas verem, e deverão se contentar em assistirem os jogos pela TV. Além disso, receberão uma educação que normaliza a exploração e mercadorização do corpo da mulher, enquanto consomem os produtos destinados ao menor poder aquisitivo destinado a homens e mulheres que vivem do trabalho.

O esporte pode expressar outras ideias, criar verdadeiros eventos feitos pelos trabalhadores e trabalhadoras para seu pleno lazer e não para os interesses da FIFA, que não expresse a exploração e opressão machista  mas a igualdade entre homens e mulheres, mas não no capitalismo. Para a superação de todas as formas de opressão e exploração, é preciso que homens e mulheres que vivem do trabalho, juntos, derrubem esse sistema social em busca do socialismo, da plena divisão de todas as riquezas da humanidade. Para tal objetivo, ainda há muita luta por fazer, inclusive na Copa.

Na copa vai ter luta contra o machismo!
64 anos depois da tragédia de 1950, quando a seleção canarinho perdeu por 1 X 0 para o Uruguai, temos uma nova Copa no Brasil e, ao mesmo tempo que cada brasileiro torcerá pelo hexacampeonato, é preciso se perguntar: onde está o dinheiro para a Educação? Saúde? Transporte público? Não nos enganemos, torcer pelo Brasil é também questionar o fato de ser campeão em corrupção, em desigualdade na distribuição de renda, em exploração sexual.

A Copa do Mundo de 2014 arrasta consigo as lutas que se iniciaram ano passado em meio a vontade dos empresários de aumentarem as tarifas do transporte público, da falta de recursos para os investimentos sociais e gastos absurdos com os estádios. E desde o começo desse ano de Copa, os questionamentos estão nas ruas, inclusive na falta de políticas públicas para as mulheres.

 A violência doméstica, o sufoco e assédio nos transportes públicos, filas nos hospitais e creches, e o problema do turismo e exploração sexual, são somente algumas das chagas destinadas às mulheres no governo Dilma, o que será parte dos combates, do 8 de março aos Encontros Estaduais do Movimento Mulheres em Luta, passando pelas políticas específicas às mulheres negras no I Encontro de Negros e Negras da CSP-Conlutas, até o conjunto das atividades que cada militante socialista do PSTU estiver presente, inclusive os atos que ocorrerão na copa do mundo.

Para nós, na luta contra a prostituição, opressão e exploração, não há meio termo, diferente do projeto de lei defendido pelo deputado do PSOL Jean Willys (PL 4211/2012) que regulamenta a exploração do cafetão. Chamamos sim, para a luta,  todos aqueles e aquelas que sentem a indignação e a dor de vermos praticamente tudo ser transformado em mercadoria no “espetáculo da copa”, inclusive nossas crianças, adolescentes e jovens, a estarem conosco em todas as lutas, contra as injustiças, em defesa da dignidade humana.Na copa vai ter luta!

*Com colaboração da Secretaria de Mulheres do PSTU