Nos dias 13 e 14 de setembro a Coordenação Nacional da Conlutas realizou no Rio de Janeiro sua primeira reunião após o primeiro congresso da entidade. O local escolhido para a reunião foi a capela do campus da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), a poucos metros da reitoria ocupada pelos estudantes no último dia 10. Os estudantes lutam contra a precarização do ensino.

Foi nesse palco de mobilização que 293 dirigentes sindicais e ativistas de movimentos sociais, populares e estudantis se reuniram para avançar na organização da Conlutas e definir seus próximos passos. Ao todo foram credenciados 168 delegados com direito a voto, sendo 137 representantes de sindicatos, 5 de minorias sindicais, 14 oposições, 4 movimentos populares e 8 entidades estudantis. Essa reunião da Conlutas já funcionou sob os novos critérios de delegados aprovados pelo congresso, que levam em conta o peso social de cada entidade.

A reunião da Conlutas também mostrou que o processo de reorganização se amplia. Participaram da reunião, entre outras entidades, a Assam (Associação de Solidariedade e Ajuda Mútua dos Trabalhadores da Construção Civil de São José dos Campos e região), fundada sob tiros e agressões de capangas a serviço de empreiteiras e da CUT. Metroviários do Rio também compareceram como convidados, a fim de conhecerem a Conlutas. Em plena reunião foi anunciada e bastante aplaudida a ruptura do Sindiupes (Sindicato dos Trabalhadores da Educação Pública do Espírito Santo) com a CUT.

Plano de lutas e construção da unidade
O primeiro dia da reunião foi dedicado à discussão sobre a situação nacional e internacional. O agravamento da crise e seus efeitos no Brasil foram um dos temas discutidos. “Aquilo que foi o crescimento mundial nos últimos anos vai se transformar numa queda significativa”, afirmou Atnágoras Lopes, diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Belém do Pará. Tal tendência já teria se refletido no país na inflação dos alimentos.

Diante desse quadro de proximidade da crise, aumenta a criminalização dos movimentos sociais e o banditismo sindical. Exemplos disso foram os ataques aos operários da Revap em São José dos Campos (SP), que lutavam contra a Petrobras e a CUT, e a campanha da CUT e do governo contra o Andes.

Para lutar contra esses ataques, é necessária a unificação das mobilizações das categorias. “Precisamos canalizar todas as ações das categorias mobilizadas, construindo uma forte jornada de luta”, defendeu Atnágoras.

Junto a isso, a Conlutas coloca em prática o que foi aprovado pelo congresso e procura todos os movimentos e entidades dispostos a avançar na formação de uma única alternativa de luta. “Apesar dos nossos reiterados apelos, até agora não houve nenhuma reunião formal que avançasse nesse processo”, informou José Maria de Almeida, o Zé Maria. A Conlutas, porém, segue com o esforço de chamar a unificação, em especial com a Intersindical.

Já com relação à unificação das mobilizações, foi informada a realização de uma reunião no início de agosto reunindo diversos setores, como Conlutas, Intersindical (APS, CSOL, ASS, Enlace, PCB), MST, Assembléia Popular, MTL, CCLCP, Pastoral Operária e MTST. Ela definiu ações conjuntas para o semestre em torno às campanhas salariais (por aumento dos salários e gatilho salarial), pela diminuição e congelamento dos preços dos alimentos, pela redução da jornada de trabalho. Aprovou também a luta contra a criminalização dos movimentos sociais.

A reunião da Conlutas reafirmou a realização de uma jornada de lutas de 12 a 16 de outubro, aproveitando a mobilização aprovada pela Via Campesina no dia 16 e a indicação do Elac (Encontro Latino-Americano e Caribenho de Trabalhadores) de promover ações contra o imperialismo nessa mesma semana. Os delegados definiram procurar esses setores nas regiões, a fim de impulsionar também nos estados ações conjuntas.

Reunião elege secretaria executiva
Um dos principais pontos da reunião foi a eleição da nova secretaria executiva, aprovada pelo congresso para substituir o grupo de trabalho de secretaria. Será responsável por implementar no cotidiano a política definida pela Coordenação.
A nova secretaria dará maior agilidade à aplicação da política definida pela coordenação no dia-a-dia. “A secretaria executiva, apesar de fundamental, não substitui a direção política da Conlutas. Esse papel continuará sendo da Coordenação Nacional, que se reúne a cada dois meses e conta com a representação das entidades sindicais, estudantis e dos movimentos populares”, advertiu Zé Maria.
Mas, por que não elegê-la durante o congresso? “Não elegemos a secretaria no congresso porque queremos que os cargos eleitos sejam revogáveis pela Coordenação Nacional”, explicou Luiz Carlos Prates, o Mancha, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos.

Como parte de uma política de composição ampla e plural, o PSTU definiu ser minoria dentro da secretaria, reduzindo voluntariamente o peso que poderia ter em uma votação com proporcionalidade direta. Com isso, abre espaço para as entidades nacionais que compõem a Conlutas e para setores independentes. Prática oposta, por exemplo, à da Articulação na CUT ou do PCdoB na UNE, que inflam, através de manobras administrativas, o peso proporcional que deveriam ter a fim de controlar burocraticamente essas entidades.

Polêmica
Infelizmente algumas correntes não concordaram com tal critério, como foi o caso do bloco formado principalmente pela CST e pelo MTL-DI. Pela proposta da maioria da coordenação, essas correntes teriam uma representação de seis membros na secretaria. No entanto, esses grupos reivindicavam, juntos, oito membros.

A reunião da Coordenação acabou aprovando, por 132 votos a favor e 26 abstenções, a lista de 21 nomes propostos pela maioria da Coordenação. A votação obtida pelas duas correntes, proporcionalmente, lhes daria o direito de indicar três pessoas para a secretaria, ou seja, metade da proposta de seis que a maioria da coordenação lhes propunha.

Mais uma vez se comprovou o critério amplo com que se buscou compor a secretaria, dando um peso maior (na verdade o dobro) do que a proporcionalidade indicaria para esses grupos minoritários. No entanto, essas correntes, infelizmente, decidiram não compor a secretaria, ainda que sigam se comprometendo a construir a Conlutas.
“Esperamos que essas correntes revejam essa posição e ajudem a dirigir a Conlutas no dia-a-dia”, afirmou Sebastião Carlos, o Cacau, bancário de Belo Horizonte.

Post author Diego Cruz, enviado especial ao Rio de Janeiro
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