Quem morou durante a infância na periferia da grande São Paulo, pode se lembrar muito bem das férias soltando pipa nos terrenos baldios, do futebol de rua ou no campinho improvisado de terra. A juventude pobre, e em grande parte negra, sabe como é difícil divertir-se de forma barata e acessível. Os espaços públicos de lazer praticamente não existem e quanto mais saímos dos centros mais isto é real.

Nos últimos três anos, grupos de jovens, em grande parte moradores da periferia e negros, reúnem-se no centro de São Bernardo do Campo, na praça da Igreja Matriz, para participarem do evento “Batalha da Matrix”, em que MC’s do grande ABC, e até mesmo de várias partes do país, participam de batalhas de rimas, o freestyle. A cultura hip-hop serve como meio de expressão e resistência de centenas de jovens trabalhadores que se reúnem às terças-feiras nesta que já é uma das maiores batalhas de rap do país. Assim, a juventude que não possui espaços públicos de lazer criou o seu próprio.

A Batalha da Matrix enfrenta desde sua fundação uma repressão covarde dos governos municipal e estadual, através da Guarda Civil Municipal de São Bernardo do Campo e da Polícia Militar de São Paulo. Alckmin do PSDB e Marinho do PT lado a lado contra o direito à cultura.

A juventude trabalhadora resiste!
Depois de muitas bombas, balas de borracha e ameaças, a organização e os frequentadores da batalha conseguiram garantir a existência desta. A Batalha chegou a ficar oito meses sem ser diretamente confrontada pela repressão policial, embora sejam frequentes os casos de enquadros que a polícia faz nos arredores. A batalha cresceu e está entre as maiores do estado de São Paulo, com noites que chegam a 700 frequentadores! Porém, no dia 26 de janeiro, a Polícia Militar atirou uma bomba de gás quando o evento já estava em seu final, na última batalha da noite, e seguiu atirando diversas bombas, balas de borracha e ameaçando quem tentava gravar toda a barbárie.

No dia seguinte, vários daqueles que estavam presentes na Batalha participaram do ato contra o aumento das tarifas do transporte público, em São Bernardo do Campo, que seguiu em direção a um evento que ocorreu numa escola na Rua dos Vianas. Ao final do ato, um dos MC’s que participam da Batalha da Matrix, Alex Street, foi detido pela polícia, mas depois solto. O ato também protestou contra a repressão ocorrida na noite anterior.

Repressão na Batalha da Matrix #138 (26.01.16)

Salve família. Esse é um breve registro que conseguimos fazer sobre que aconteceu (Compartilhe!)Se você também gravou, cole o link nos comentários, vamos reunir todas as imagens de todos os ângulos!HOJE, A FINAL DA EDIÇÃO DE ONTEM SERÁ NA PREFEITURA DE SÃO BERNARDO DO CAMPO.>> 17h – na frente do Terminal São Bernardo <<Até logo mais família! #NãoPassamosPanoPraRepressão #3ANOS

Publicado por Batalha da Matrix em Quarta, 27 de janeiro de 2016

Na terça-feira seguinte, porém, a Batalha ocorreu novamente. Desta vez bem mais cheia, o que mostrou que os frequentadores da Batalha estão dispostos a resistir e garantir o seu direito ao espaço público. O evento também contou com apoio de movimentos da região que constroem a luta contra o aumento das tarifas, e do rapper Cascão, do grupo Trilha Sonora do Gueto.

Por que reprimem a Matrix?
Os ricos e poderosos querem ver o povo conformado, pronto para obedecer e desorganizado. Mas isso não é fácil de garantir, para isso precisam investir muito comprando a opinião dos jornais, e também a repressão. Mas o povo explorado e oprimido sempre teima em se organizar, das mais diversas formas.

Os negros escravizados no Brasil colônia e no império não tinham os mínimos direitos garantidos pelo Estado e por aqueles que se julgavam seus donos. Uma das diversas formas de se organizarem, para além dos conhecidos quilombos era a capoeira, suas músicas e cantos tradicionais, além do Candomblé e da Umbanda. O temor das autoridades sobre estes eventos sempre foi enorme, e por isso estes sempre foram reprimidos, afinal eram momentos em que os oprimidos podiam minimamente relacionar-se de forma mais organizada do que no cotidiano.

Ainda estamos em uma sociedade racista, em que a população negra ganha os menores salários, possui os maiores índices de mortes causadas pela polícia e sofre preconceito todos os dias. A cultura hip-hop é uma cultura típica do povo negro e da periferia, que coloca nas letras de rap muito do cotidiano de opressão e descaso das autoridades presente na periferia. Os ricos e poderosos sabem muito bem que um evento destes é uma possibilidade de pessoas debaterem sua realidade e os problemas sociais, sempre presentes nas letras de rap, e revoltarem-se contra estes.

A polícia que reprime as batalhas de rap, os atos contra o aumento das tarifas, as greves dos trabalhadores, os estudantes que ocupam suas escolas contra o fechamento destas, é a mesma que mata milhares de negros todos os anos nas periferias do país. Reprime o povo para que este não se revolte com os problemas que vive, que passam pelo desemprego, educação e saúde precárias, transporte caro e de péssima qualidade.

O PSTU defende incondicionalmente a Batalha da Matrix contra a repressão dos governos!

Pela desmilitarização da polícia! Fim da PM!
Abaixo a repressão! Pelo direito à cultura e ao espaço público!
Fora Marinho, Alckmin, Dilma, Cunha, Temer e Aécio! Fora todos eles!