A UNE e a CUT articularam uma manifestação em apoio a Lula para o dia 16 de agosto, véspera do ato da Conlutas.
A UNE divulgou a manifestação chapa-branca como sendo a “volta dos caras pintadas”, em referência ao movimento capitaneado pela juventude que derrubou o governo Collor. No entanto, a entidade faz questão de ressaltar as pretensas diferenças entre aquele momento e a atual conjuntura. E tais diferenças não poderiam ser mais gritantes. A UNE não esconde que desta vez sairá às ruas defendendo abertamente o governo.

UNE não precisa de ministério
O presidente da UNE, Gustavo Petta, membro do PCdoB, apesar de não ter sido empossado por Lula para nenhum ministério do governo, já age como ministro. No último dia 29 de junho, o presidente da decadente entidade estudantil prestigiou no Planalto a cerimônia de entrega do anteprojeto de reforma Universitária a Lula. O evento também marcou a posse do novo ministro da Educação, Fernando Haddad, que promete aprovar a reforma de seu antecessor, Tarso Genro.

CUT: “Queremos a reeleição de Lula”
Já a CUT, cujo presidente, Luis Marinho, assumiu o Ministério do Trabalho, não tenta disfarçar o discurso e faz a defesa aberta e explícita do governo. Com as principais figuras do escândalo de corrupção atingindo ex-dirigentes da entidade, como Delúbio Soares e Marcelo Sereno, a central pretende ir para as ruas no dia 16 para defender o governo.

O atual presidente da entidade, João Felício, que substituiu Marinho, declarou em entrevista coletiva que quer “a reeleição do presidente Lula”. Apelando também para a farsa do golpismo, Felício enumerou os “avanços” do governo, entre eles a reforma Universitária. “Vamos às ruas para defender e apoiar as mudanças com Lula”, disse ele, sem um pingo de constrangimento.

Cara pintada ou cara-de-pau?
Para tentar mobilizar os estudantes, utilizando-os como massa de manobra para sustentar este governo corrupto, a UNE divulga a manifestação do dia 16 como sendo, genericamente, um ato “contra a corrupção”. O próprio presidente da UBES, Marcelo Gavião, também do PCdoB, joga por terra essa falsificação. “Não vamos permitir que corruptos consigam manchar a imagem do Congresso Nacional e do presidente da República”, afirmou o dirigente ao próprio site da entidade. “Ele tem muito crédito com as organizações estudantis pelo que tem feito”, enfatiza Gavião.

A UNE assume um governismo sem precedentes e tenta agora se apropriar dos “caras pintadas” para dar um sentido inverso ao que teve o movimento originalmente.
Em 92, o movimento “Fora Collor” só foi encampado pela UNE pela pressão imposta pela base dos estudantes contra a direção burocrática da entidade, naquela época já dominada pela UJS/PCdoB. Até então, a UNE limitava-se a chamar o ‘Basta de Collor’.

Tiro pode sair pela culatra
A indignação e a revolta que vem tomando conta da população apontam que o tiro do ato em defesa do governo pode sair pela culatra. Vai ser muito difícil a direção da UNE reprimir a revolta dos estudantes contra o governo ou canalizar esse sentimento em atos encomendados pelo Planalto. Assim como Collor convocou a população às ruas para defendê-lo, sendo derrubado pelas massas, a CUT e a UNE também correm o risco de se surpreender.
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