Aviões e artilharia israelenses continuam bombardeando o Líbano e assassinando indiscriminadamente a sua população. A matança sistemática desatada por Israel é implacável e já vitimou 700 libaneses. Dia a dia, as ações israelenses violam a convenção de Genebra. Bombas foram despejadas em prédios da Defesa Civil libanesa, caminhões repletos de refugiados e em ambulâncias da cruz Vermelha. Na última semana, Israel lançou bombas contra um posto de observação na ONU, ao sul do Líbano, matando quatro observadores. Dirigentes das Nações Unidas disseram que pediram por “dez vezes” ao exército de Israel que interrompessem os bombardeios. Mas os ataques não cessaram.

Mas o ataque mais estarrecedor ainda estava por vir. Na manhã do dia 30 de julho, um bombardeio atingiu em cheio um edifício que abrigava refugiados libaneses na cidade de Qana. O total de mortos chega a 54. Destes, 37 são crianças. Foi o pior massacre realizado por Israel. O ataque repete a chacina de 1996, quando bombas israelenses trucidaram 106 civis na mesma localidade.

Invencibilidade colocada à prova
Diante do recrudescimento da resistência, o governo de Israel autorizou o exército a convocar mais de 30 mil reservistas para uma possível “guerra prolongada” no Líbano. Algo que estava absolutamente fora dos planos iniciais da ofensiva sionista. O plano inicial consistia numa rápida ofensiva militar que desarticulasse em poucos dias o Hizbollah e colocasse o Líbano de joelhos. Uma estratégia muito semelhante aos planos do imperialismo norte-americano no início da invasão ao Iraque. Mas, como os problemas enfrentados pelos EUA no Iraque, as ações de resistência dirigidas pelo Hizbollah impediram a concretização da guerra-relâmpago sionista e colocam gradualmente em xeque o mito da “invencibilidade” do seu exército.

No último dia 26, o exército israelense sofreu um duro golpe na cidade libanesa de Bint Jbail. Pelo menos nove soldados morreram depois de uma devastadora emboscada dos guerrilheiros do Hizbollah. O impacto psicológico da ação foi tão profundo que o conselheiro militar do presidente de Israel, Ron Bem Yishai, reconheceu que as baixas provocam um “golpe horrível” na moral dos soldados israelenses.

Combinando métodos de guerrilha urbana com bombardeios a Israel, o Hizbollah demonstra que sua capacidade de resistência era bem superior do que previam os dirigentes sionistas. Por seis anos o Hizbollah se preparou para defender o Líbano e construíram redes de túneis e trincheiras subterrâneas ao longo do sul do país. Tática semelhante foi adotada pela resistência vietnamita contra os EUA. Soma-se a isso a vantagem do Hizbollah contar com o crescente apoio da população.

Uma guerra de guerrilhas pode impor a Israel fortes baixas e um alto custo econômico e moral. Mas também se ampliaria o seu desgaste internacional.

Por outro lado, pela primeira vez na história, a ofensiva genocida de Israel – mesmo contando o apoio dos EUA, da maioria da imprensa e da sua população – escancara o seu o verdadeiro papel diante de todo o mundo: o de um enclave imperialista no Oriente Médio.

Na Grã Bretanha, por exemplo, uma pesquisa mostra que 62% dos entrevistados repudiam a agressão de Israel. O que coloca Tony Blair, fiel aliado de Bush e defensor do “direito de autodefesa” de Israel, em maus lençóis.

A opção por uma guerra prolongada também selaria a unidade de todo o povo libanês na luta contra a ocupação e incendiaria o movimento de massas no mundo árabe. O repúdio aos ataques fez com que 87% dos libaneses apoiassem o Hizbollah, segundo uma pesquisa do Centro de Estudos e Informação em Beirute. Mesmo os países aliados de Israel na região, como o Egito, Arábia Saudita e a Jordânia, foram obrigados a fazerem tímidas criticas a Israel diante de crescentes manifestações populares repudiando os ataques israelenses.

Plano ‘B’
Preocupados com o aumento da resistência do Hizbollah e com alastramento da crise pelo conjunto do Oriente Médio, a ONU e os governos do imperialismo europeu, como Itália e França, propuseram um cessar fogo imediato na conferência para o Líbano. A proposta foi rejeitada pelos EUA, que se opôs na ocasião a um cessar fogo imediato para dar tempo de Israel provar de que era capaz de esmagar o Hizbollah.

Foi a senha para Israel aumentar o massacre contra o povo libanês: “Recebemos permissão da conferência (…), na verdade do mundo (…) para continuar esta guerra até que a presença do Hizbollah seja apagada do Líbano”, disse Haim Ramon ministro da Justiça de Israel.

Embora existissem diferenças sobre o imediato cessar fogo, havia um acordo básico entre os representantes do imperialismo ianque e europeu: enviar tropas “multilaterais” de ocupação para o Líbano – sob a cobertura da ONU – para “estabilizar” a região e desarmar o Hizbollah, de acordo com a resolução das Nações Unidas de 2004. O cinismo do imperialismo norte-americano e europeu é tão grande que não disseram uma palavra condenando os ataques genocidas de Israel na faixa de Gaza, que já duram dois meses e atingem famílias inteiras e crianças. Tampouco condenaram Israel pelos massacres de Qana.

Na verdade, o que faz com que eles se movimentem é a situação difícil de Israel e não a busca da paz ou a preocupação com a morte de civis inocentes. Assim, colocam a ONU mais uma vez a serviço da política imperialista na região.
O plano de ocupação consiste em enviar um contingente de soldados que ficaria ao longo da fronteira libanesa-israelense entre 60 a 90 dias. Depois, se espalhariam pelo país e se encarregariam de desarmar o Hizbollah.

A crescente dificuldade de Israel em esmagar o Hizbollah e o desgaste causados pelos massacres sionistas – especialmente depois de Qana -, fizeram que Bush e Blair relocalizar taticamente suas posições e se colocaram de acordo com o envio de forças multilaterais e o cessar fogo, mas seguem com a estratégia de impedir o Hizbollah de oferecer resistência a Israel.

Pela unidade dos povos árabes contra Israel
O envio de tropas “multilaterais” sob a cobertura da ONU deve ser repudiado. Trata-se de uma armadilha do imperialismo europeu e norte-americano para socorrer Israel e aplacar a resistência libanesa. O Hizbollah deve repudiar essa armadilha e unificar todos os libaneses na luta contra a ocupação.

Estamos pela derrota israelense, que, caso tenha êxito fortalecerá os planos imperialistas de recolonização da região. Uma derrota de Israel, por outro lado, significaria uma vitória dos povos contra o imperialismo em todo o mundo. Por isso é preciso unificar o conjunto dos povos árabes contra o imperialismo e seu Estado policial de Israel.

Nesse sentido, é muito importante que Hizbollah coordene suas ações com as demais organizações palestinas que lutam contra Israel na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Quanto mais coordenadas as ações contra o Estado sionista, maiores são as chances de sua derrota.

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