Redação

A Frente de Esquerda Socialista deve materializar um programa operário e popular nas próximas eleições, se transformando numa porta voz e num pólo de atração para os lutadores de todo o Estado

O ano de 2013 foi marcado por grandes atos que sacudiram o Brasil. Milhares de pessoas foram às ruas protestar em defesa da educação, da saúde, da mobilidade urbana e questionar a ostentação do padrão FIFA nos estádios. O tamanho e a disposição de luta das manifestações mudaram profundamente a realidade nacional colocando os governos e as classes dominantes na defensiva.

Os governos, mais uma vez, mostraram ser incapazes de dialogar com o povo e trataram as manifestações como caso de polícia. O que os governantes não imaginavam era que os cassetetes, balas de borracha e cavalaria não impediriam o povo de protestar.

O PT, partido que desde 1980 era protagonista das manifestações no nosso país, assistiu as manifestações de junho passarem por fora de sua hegemonia e, pior, contra o seu governo. A base material para os protestos é o estado precário dos serviços públicos graças ao estrangulamento financeiro. A população esperava que Dilma ouvisse as vozes de junho e rompesse de uma vez por todas com a política econômica herdada de FHC e continuada por Lula, e destinasse mais verbas do orçamento para saúde, educação, transporte, moradia e reforma agrária, mas infelizmente isso não aconteceu! No orçamento de 2014, Dilma prevê apenas 4,11% para a saúde, enquanto que os banqueiros engolirão 42,04%, ou seja, dez vezes mais que uma das áreas mais importante para um trabalhador e sua família.

É nesse sentido que achamos muito provável que, em 2014, teremos novos protestos durante a Copa do mundo. Cabe aos partidos do campo da oposição de esquerda (PSTU, PCB e PSOL) e as organizações sindicais e populares seguirem dando a batalha para que a juventude não saia das ruas e se junte com os trabalhadores organizados para que possamos fazer a copa das manifestações. Precisamos unificar as campanhas salariais, as reivindicações populares e dos oprimidos e construir uma agenda de mobilizações e de luta.

No Ceará a situação é ainda pior. A oligarquia Ferreira Gomes que controla o Estado, e conta com o apoio do PT e PCdoB, governa de costas para o povo e a favor das construtoras, do agronegócio e das grandes empresas. Não é por outro motivo que o Ceará é movido por obras faraônicas e por uma péssima distribuição de renda. Segundo a ONU, o Ceará tem 55,9% da população na linha da pobreza, o que significa que vivem com menos de R$ 255,00 per capita por mês. Por sua vez o IPECE, vinculado ao Estado, aponta que 44,6% da população cearense recebem bolsa família.

Nosso Estado vive nesse momento uma das piores secas da história. O sertanejo passa sede e fome, perde a lavoura e o gado. Hoje a periferia de Fortaleza e região metropolitana já vivem com racionamento de água. Soluções para a seca existem, mas só uma oligarquia reacionária pode manter em pleno século XXI a indústria da seca, distribuindo os recursos hídricos para o agronegócio e para grandes empreendimentos como os do Pecém.

A violência explodiu no Ceará. Em 2013, aconteceram no Estado 4.462 assassinatos, sendo que destes 2.017 foram realizados em Fortaleza. Mas não é verdade que a violência atinge a todas as classes da mesma forma. Enquanto os mais ricos andam de Helicóptero e carros blindados, os mais pobres sofrem com o tráfico de drogas e com a violência policial. Nesse momento, o Ceará vive um verdadeiro genocídio da juventude negra e pobre na capital e no interior.

A Educação vive o dilema de muito verbo por parte do governo e pouca verba para atender as suas demandas mais elementares. A greve de quase três meses das universidades estaduais revelou à sociedade que para Cid Gomes a educação nunca foi, não é e nem será prioridade.

Por outro lado, seguem os problemas estruturais da saúde pública, como a superlotação dos hospitais; condições ruins dos postos de saúde; falta de vacinas básicas (como aconteceu com a antitetânica no segundo semestre de 2013) e, em alguns casos, ausência até de insulina etc. Problemas que, em regra, os governantes procuram ocultar por meio de uma propaganda ruidosa nos meios de comunicação.

Muito foi prometido como legado da copa, mas até agora o que vimos foram despejos, remoções e truculência. Não houve até agora nenhuma modificação estrutural nos transportes públicos. O metrô que liga Maracanaú a Fortaleza até agora não passou de um experimento e segue sem previsão para seu funcionamento pleno. Os terminais de ônibus de Fortaleza são caóticos, os ônibus são ultrapassados e não existe nenhuma perspectiva de mudança do modal da maior cidade do Estado.

As mulheres seguem sendo assassinadas de maneira brutal. O Ceará está entre os Estados que mais mulheres são mortas pela violência machista. Só no ano passado, 357 perderam a vida e o poder público nada faz para superar essa situação. Faltam casas abrigos para as mulheres que denunciam seus companheiros, assim como faltam creches para os filhos da classe trabalhadora.

Enquanto isso, Cid Gomes e seus aliados se confraternizam com Buffet milionário e shows caríssimos para inaugurar obras. Ao contrário do que é afirmado na propaganda oficial, Cid Gomes não está construindo um novo Ceará.

Neste momento, existe uma indefinição sobre os rumos do bloco governista (PROS, PT, PMDB). A oligarquia Ferreira Gomes, agora no PROS, resiste em escolher um nome do PMDB ou do PT, o que pode significar uma divisão da coligação que governa o Ceará há quase 8 anos. A ala majoritária do PT, capitaneada pelo deputado Jose Guimarães e com o apoio de Lula e Dilma, quer continuar sua aliança com Cid e Ciro Gomes e se sujeitará a qualquer nome indicado pela Oligarquia. Por outro lado, o Senador Eunício Oliveira (PMDB) se coloca como pré-candidato a governador. Eunício no Senado é parte da bancada mais reacionária e conservadora, defende a redução da maioridade penal e será o relator do projeto que quer enquadrar manifestantes como terrorista. Caso o bloco governista se divida, tentará realizar uma falsa polarização, sendo que passaram praticamente 8 anos juntos.

É preciso construir um pólo combativo, de esquerda e socialista nessas eleições. Esse pólo deve ser composto pelo PSTU, PCB e PSOL, mas também pelas organizações dos trabalhadores, do movimento popular e estudantil, do movimento de mulheres, de negros e negras e LGBTs, dos movimentos de cultura e arte e ambiental, assim como os ativistas que travam as lutas nos locais de trabalho, moradia, estudo, no campo e nas ruas.

Para o PSTU, esse polo deve ser a marca da Frente de Esquerda Socialista e de onde dever ser extraído um programa que responda aos anseios da classe trabalhadora da cidade e do campo. Para o PSTU, essa Frente de Esquerda e Socialista não pode coligar com partidos burgueses e muito menos receber dinheiro de empresários. Para o PSTU, essa Frente de Esquerda e Socialista deve respeitar o peso e implantação na sociedade de cada organização partidária envolvida na frente, e isso se materializa na composição dos cargos e no tempo de TV.

A Frente de Esquerda Socialista deve materializar um programa operário e popular nas próximas eleições, se transformando numa porta voz e num pólo de atração para os lutadores e lutadoras de todo o Estado. O PSTU coloca sua militância a serviço dessa frente e chama o PSOL e o PCB para essa construção.

Fortaleza, 20/02/14