Enquanto a situação do atual presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) se complica cada vez mais, o Conselho de Ética da casa prepara uma investigação de fachada para absolver o senador. Calheiros é acusado de ter dívidas pessoais pagas pela empreiteira Mendes Júnior, que tem negócios com o governo na região do senador. Segundo as denúncias, o lobista da empreiteira, Cláudio Gontijo, repassava R$ 12 mil mensais para custear aluguel e pensão alimentícia à mãe da filha do deputado, a jornalista Mônica Veloso.

Renan Calheiros nega as acusações, porém afirma não possuir qualquer prova ou comprovante dos pagamentos realizados à jornalista. O mais recente escândalo de corrupção que atingiu o líder do Senado estourou após a chamada Operação Navalha desencadeada pela Polícia Federal, que investiga casos de fraude em licitações públicas. Dezenas de políticos e altos funcionários foram presos acusados de beneficiarem empreiteiras, mas já foram liberados pela Justiça.

A operação da PF, ao que parece, fugiu ao controle do governo e da oposição de direita, ameaçando seriamente inúmeros políticos das três esferas do governo. Foram envolvidos políticos do PT, PMDB, PSB, PP e PR, da base aliada e o PPS, PSDB e o DEM (ex-PFL), da oposição de direita. Por isso, tanto o governo quanto a oposição se unem em defesa do presidente do Senado. Se ele cair, pode levar outros peixes graúdos junto.

Pizza no forno
O primeiro ingrediente para a pizza foi o discurso de Renan na tribuna do Senado, quando o senador negou todas as acusações. Mesmo não apresentando qualquer prova, Calheiros foi cumprimentado pela grande maioria dos parlamentares, que afirmaram estarem esclarecidas todas as denúncias. Ávidos para absolverem sumariamente o chefe da casa, os senadores se apressaram em divulgar que tudo estava “esclarecido”.

“Não quero condená-lo, quero absolvê-lo”, chegou a afirmar sem, o menor escrúpulo, ninguém menos que o próprio corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP). O PSOL, por sua vez, pediu a abertura de processo por quebra de decoro parlamentar por parte de Renan. Percebendo o desgaste que seria simplesmente livrar a cara de Calheiros sem qualquer tipo de investigação, o Senado resolveu armar um teatro no Conselho de Ética, abrindo processo justamente para absolvê-lo.

Mesmo estando “sob investigação”, Renan não se afastou do cargo, o que provocou a esdrúxula situação dos senadores processarem o próprio chefe. Como se isso não bastasse, o atual presidente do Conselho, o senador Sibá Machado (PT-AC) já havia declarado publicamente estar convencido da inocência de Calheiros. O senador petista ainda nomeou como relator do processo de quebra do decoro parlamentar Epitácio Cafeteira (PTB-MA), senador ligado a José Sarney (PMDB-AP) que, por sua vez é próximo a Renan.

Ou seja, está armado o teatro para a absolvição de Calheiros. Uma eventual investigação séria do senador seria uma tragédia para o governo, já que o senador é uma das principais figuras do PMDB, principal partido da base aliada no Congresso.

Situação se complica
Porém, quanto mais os senadores indicam que absolvirão o líder do Senado, mais evidências surgem complicando ainda mais a situação do parlamentar. Renan Calheiros apresentou ao Senado documentos que comprovariam possuir renda para ter feito os pagamentos à mãe de sua filha sendo, portanto, desnecessária a intermediação do lobista da empreiteira Mendes Júnior.

No entanto, os documentos não só não comprovam que os pagamentos realizados à jornalista foram de sua responsabilidade, como também demonstram um enorme crescimento de sua renda em um curto espaço de tempo. Segundo os próprios documentos de Renan Calheiros, sua renda cresceu nada menos que 73% nos últimos quatro anos, indo de R$ 984 mil para R$1,7 milhão, mostrando que manter estreitas relações com lobistas e empreiteiras faz bem à sua conta bancária.

Este é o Congresso que pretende aprovar as reformas que retirarão ainda mais os direitos dos trabalhadores, como a reforma da Previdência, programada para ser votada este ano.

Justiça mostra seu caráter de classe
Embora 49 pessoas tenham sido presas pela Operação Navalha, a Justiça já colocou todos em liberdade. Enquanto isso, pesquisa realizada para um mestrado da UnB revela que, nas cidades de São Paulo, Recife, Porto Alegre, Belém e no Distrito Federal, pessoas são processadas por furtos de objetos de R$ 1. Nessas regiões, seis pessoas foram processadas criminalmente e ao menos quatro foram presas.

Enquanto isso, os responsáveis por fraudes milionárias contra o orçamento público são soltos para poderem roubar novamente.

Nenhuma confiança no Congresso
Apenas uma investigação independente, comandada por setores da sociedade e as organizações dos trabalhadores, pode indicar os corruptos desse congresso completamente desmoralizado. O PSTU defende ainda a abertura do sigilo bancário dos parlamentares, funcionários e empreiteiros envolvidos nos casos de corrupção, assim como a prisão e o confisco dos bens dos corruptos e corruptores.