Passeata em São Luís
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Em todo o país, as principais atividades do “Dia Nacional de Consciência Negra” foram marcadas por atos governistas, a maioria transformada em megashows despolitizados, nos quais vagas denúncias sobre o racismo mesclaram-se com a completa omissão sobre os principais responsáveis pelo fato de que negros e negras continuem compondo a maior parcela daqueles que são vitimados pela miséria, a violência, o analfabetismo e os piores índices sociais.

Contrariando, de forma lamentável, toda a história de luta relacionada ao 20 de novembro, as entidades majoritárias do movimento negro não só pouparam Lula (e seus aliados burgueses instalados nas prefeituras e governos estaduais), como fizeram questão de omitir qualquer referência ao sistema capitalista e à asquerosa utilização que ele faz da opressão racial para aumentar seus lucros.

Em muitos casos, os representantes destas entidades foram ao absurdo de sequer mencionar o fato de que a crise econômica criada pelos senhores do Capital, afetará, sobretudo, os setores historicamente jogados para as margens da sociedade.

Novo Movimento levou resistência às ruas
Contudo, as lições deixadas por Zumbi, João Cândido, Luiza Mahin e todos aqueles que compreenderam que o combate ao racismo tem de ser travado, obrigatoriamente, numa luta contra o sistema que dele se beneficia, não foram esquecidas neste 20 de novembro.

Nas principais cidades do país, ativistas vinculados ao Grupo de Trabalho de Negros e Negras da Conlutas e aos demais setores envolvidos na construção de um Novo Movimento Negro levaram às ruas as bandeiras do classismo, da independência em relação aos governos e da luta pelo socialismo.

Os militantes do PSTU engrossaram estas colunas e atividades. Confira algumas delas.

Rio de Janeiro
No dia 18, foi realizado um debate na Câmara dos Vereadores. No dia seguinte, apesar da chuva constante, cerca de 500 pessoas participaram de uma série de atividades realizadas na Cinelândia, que incluiu uma aula pública com alunos das redes municipal e estadual, ministrada por Júlio Condaque, da Secretaria de Negros e Negras do PSTU, e Geisa Correa, do PSOL. Houve, também, apresentações de poesia, teatro, hip-hop e uma roda de samba em homenagem a Luis Carlos da Vila.

Durante todo o dia, também foi distribuído um manifesto denunciando a situação dos trabalhadores negros e responsabilizando os governos Lula, Sérgio Cabral e César Maia pela exploração e pelo racismo e vários oradores revezaram-se ao microfone. Dayse Oliveira, falando pela Conlutas, e Cyro Garcia, do PSTU, destacaram o tremendo equívoco que é alimentar a ilusão de que Barack Obama representa os interesses dos trabalhadores negros.
As atividades serviram como um importante contraponto para os shows patrocinados pelo racista governador Sérgio Cabral e para a hipocrisia de Lula, que foi ao Rio inaugurar o busto de João Cândido depois de ter vetado a indenização para sua família.

São Paulo: tão perto e tão longe de 1978
Cerca de 5 mil pessoas participaram da V Marcha da Consciência Negra que, saindo da Av. Paulista, se dirigiu para as escadarias do Teatro Municipal, onde, em 1978, aconteceu o ato que marcou o surgimento do Movimento Negro Unificado (MNU).
Apesar do importante resgate histórico e de ser um contraponto ao megashow da prefeitura na Praça da Sé, o ato não lembrou em nada a combatividade do velho movimento negro e, menos ainda, a importância e significado da luta de Zumbi.

A responsabilidade foi da atual direção do movimento: a CUT, a Unegro (dirigida pelo PCdoB), o Fórum das Mulheres Negras e uma série de entidades que, dos carros de som, impuseram um tom absurdamente festivo à passeata, tentando transformá-la numa celebração dos supostos avanços proporcionados à população negra pelo governo Lula.

Uma farsa que, contudo, em vários momentos foi questionada. Ainda nas apresentações que antecederam o ato, o grupo de hip-hop Anexo Verbal arrancou aplausos ao ler um contundente manifesto contra a ocupação do Haiti.

A Conlutas, o PSTU e outros setores independentes também estiveram presentes. Em sua intervenção, o professor Geraldinho resgatou o verdadeiro sentido do 20 de Novembro, começando com um célebre e atual poema do militante e poeta negro Solano Trindade, representado, no ato por seu filho, Liberto Trindade que, com orgulho sacudia a bandeira do PSTU durante toda a Marcha: “negros senhores na América, a serviço do capital, não seus meus irmãos (…) só negros oprimidos, escravizados, em luta pela liberdade, são meus irmãos”.

Salvador (BA)
Em Salvador, todo ano são realizadas, além de debates e atividades durante toda a semana da Consciência Negra, duas Marchas no dia 20. A primeira delas aglutinava muitos setores do movimento negro e era considerada mais politizada, mas, hoje, está muito esvaziada, principalmente pelo fato da maior parte das entidades do PT ter se retirado dela.

A segunda é a maior, a que reúne a maior parte das entidades do movimento negro e que desperta maior interesse da população, por causa das atrações musicais, como o Ilê Aiyê.

Só existem essas duas marchas porque as entidades do movimento negro não querem dividir o aparato dos governos estadual e municipal. Mas este ano elas tiveram mais que um motivo para ficarem quase idênticas. Obama uniu as duas marchas. Era nítida a adesão à Obama por parte do ativismo. Os outros temas parecem ter desaparecido num piscar de olhos.

O boletim Raça e Classe, do PSTU, foi distribuído nas duas marchas e bem aceito. O ativismo e o conjunto da população paravam para ler o panfleto.

São Luís (MA)
No dia 21 de novembro, foi realizada a 3ª Marcha da Periferia, da capital maranhese. Com o tema “Reparações Já: Pelo pagamento da dívida social com o povo negro”, a atividade contou com a participação de militantes do Movimento Hip-Hop Organizado Quilombo Urbano, da seção sindical do Andes-SN (Apruma), da Conlutas, da Conlute e do PSTU.

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    Belo Horizonte (MG)
    No dia 19, aconteceu um ato na porta do Tribunal de Justiça, denunciando as várias ações de despejo que este órgão vêm executando contra as populações pobres em seus acampamentos. O ato também marcou um protesto contra a criminalização dos movimentos sociais e sindicais.

    São José dos Campos (SP)
    Em São José dos Campos, uma verdadeira jornada de atividades teve início no dia 15, com um debate sobre “A trabalhadora negra”, na ocupação do Pinheirinho, onde há poucos meses a praça central foi nomeada Quilombo dos Palmares.

    Durante todo o dia 20, foi realizada uma manifestação na Câmara, exigindo a decretação de feriado municipal não com um dia de descanso, mas a exemplo do 1º de Maio, como um dia de luta contra o racismo e o capitalismo que dele se alimenta. E muita gente ainda teve fôlego para, à noite, participar do debate “O imperialismo e a situação dos negros no mundo: eleição de Barack Obama e Haiti”, promovido pelo Sindicato dos Metalúrgicos.

    Porto Alegre (RS)
    As principais organizações do movimento negro gaúcho, que estavam à frente da organização da marcha do dia 20 de novembro, resolveram conduzi-la ao palco da Prefeitura, dirigida pelo PMDB. Os militantes da Conlutas que estavam participando da organização do ato, com setores independentes que também se rebelaram contra esta postura, realizaram um ato independente, reafirmando que a luta contra o racismo não pode ter como aliado gente que vive da opressão do povo negro.

    * Colaboraram: Eloy Natan (São Luis), Vera Rosane (RS), Ana Vera (Salvador) e Sandra Forte (São José dos Campos)

    Post author Dayse Oliveira e Wilson H. da Silva, da Secretaria de Negros e Negras do PSTU*
    Publication Date