A batalha pela transformação do 20 de novembro em Dia Nacional de Consciência Negra nasceu sob o signo da luta contra a ditadura e em meio ao processo de reorganização dos movimentos sociais, nos anos 70.

Desde o início do século, ativistas e intelectuais do movimento questionavam a imposição do 13 de maio como data para celebrar a liberdade e a “democracia racial”. Fiel à tradição de tentar transformar as conquistas do povo em meras concessões, a elite brasileira sempre vendeu a idéia – que sobrevive nos livros didáticos – de que a “abolição” não só tinha sido fruto dos atos de uma “bondosa” princesa, como havia posto um ponto final na história de exploração e opressão do povo negro.

Dentre os muitos que se levantaram contra a farsa, destaca-se o poeta gaúcho Oliveira Silveira, que nos versos de “13 de maio” (veja trecho ao lado) denunciou o caráter de uma abolição “concedida” num momento em que apenas 5% da população negra continuava sob a escravidão, e sem que nada fosse feito para promover a inserção social dos ex-escravos.

Um passo definitivo nessa batalha foi dado em 1978, quando o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial aprovou um manifesto que afirmava: “(…) Negamos o 13 de maio de 1888, dia da abolição da escravatura, como um dia de libertação. Por quê? Porque nesse dia foi assinada uma lei que apenas ficou no papel, encobrindo uma situação de dominação em que até hoje o negro se encontra: jogado nas favelas, cortiços, alagados e invasões, empurrado para a marginalidade, a prostituição, a mendicância, os presídios, o desemprego e o subemprego e tendo sobres si, ainda, o peso desumano da violência e repressão policial. Por isso, mantendo o espírito de luta dos quilombos, gritamos contra a situação de exploração a que estamos submetidos, lutando contra o racismo e toda e qualquer forma de opressão existente na sociedade brasileira, e pela mobilização e organização da comunidade, visando uma real emancipação política, econômica, social e cultural”.

A escolha do 20 de novembro como marco da luta anti-racista expressava uma postura e uma estratégia. Zumbi, Palmares e seus quilombolas devem ser exemplos de que o combate à opressão racial tem que obrigatoriamente se voltar contra o sistema que dela se beneficia.

Essa foi a grande lição de Palmares: ter se transformado em uma “república” que chegou a abrigar cerca de 20 mil pessoas – incluindo índios e outros setores marginalizados – e funcionava em oposição ao sistema colonial (inclusive com coletivização da produção).

E este também deveria ser o caminho dos lutadores anti-racistas de hoje: a organização independente, a aliança com os demais setores oprimidos e explorados da sociedade e o combate ao racismo na sua raiz, o sistema capitalista.

Uma lição que foi seguida por João Cândido, o líder da Revolta da Chibata, e tantos outros lutadores, mas que foi esquecida pela maioria do movimento negro atual, que trocou o caminho da luta pela submissão ao governo Lula e sua lógica neoliberal.
Exatamente por isso, a melhor forma de homenagear Zumbi é reafirmar o mais importante na lembrança do 20 de novembro: a verdadeira libertação dos negros e negras só virá através da luta sem tréguas contra o sistema e todos seus agentes. Uma luta de raça e classe, pelo socialismo.

Essa batalha começa pelo enfrentamento com o governo Lula que, ao se aliar à patronal para aplicar os planos neoliberais, incentiva práticas racistas. Algo que o presidente e seus aliados tentam disfarçar e omitir com discursos populistas, mas que não resiste aos números divulgados pelo próprio governo.

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