“Nas ruas, nas praças, quem disse que sumiu? Aqui está presente o movimento estudantil!”As ruas foram palco de um grande duelo em 2005. De um lado, estavam aqueles que lutaram contra a reforma Universitária, pelo passe-livre e pela redução das mensalidades. De outro, os que se encantaram pelos gabinetes e ministérios, que receberam mensalão e se perderam nos corredores do Palácio do Planalto. No calor das mobilizações, a Conlute. Na sombra do governo, a UNE.

A primeira sinalização dos novos tempos do movimento estudantil foi no histórico 28 de Março, quando a Conlute ocupou o espaço deixado pela UNE, promovendo passeatas, aulas públicas e ocupações contra a reforma anunciada pelo governo, resgatando a memória de luta deixada pelo assassinato do estudante Edson Luís em 1968.
Em seguida, vieram as sucessivas explosões de luta contra o aumento das passagens protagonizadas pelos secundaristas em importantes capitais. Em maio, na cidade de Florianópolis (SC), estudantes e trabalhadores se enfrentaram por mais de uma semana com a Polícia Militar, que não economizou na crueldade. Balas de borracha, bombas de gás, espancamentos e prisões fizeram parte do arsenal da repressão. Sob o lema “Amanhã vai ser maior”, as mobilizações não pararam de crescer e conseguiram impedir o aumento das passagens.

Recentemente, em novembro, Recife parou contra os mafiosos empresários do transporte. As passeatas que percorreram por mais de 12 horas seguidas as principais avenidas do centro da cidade exigiam passe-livre para estudantes e desempregados e a redução das passagens. Diante da traição da UNE e da UBES, que a todo tempo tentaram domesticar as mobilizações e poupar o prefeito petista João Paulo, milhares de estudantes cantavam: “Aumento vem, a UNE some, não fala em nosso nome!”.


Para quem tinha alguma dúvida sobre os rumos dessa entidade falida, o 490 Congresso da UNE ocorrido no final de junho foi muito esclarecedor. Além de ser aprovado por amplíssima maioria o apoio à reforma Universitária do imperialismo, realizou-se a primeira manifestação pública em defesa do governo do mensalão. A “esquerda da UNE” foi esmagada e a tese de que a UNE estava em disputa foi desmentida pela realidade. Nem mesmo o P-SOL passou incólume pelo burocratismo, entrando na executiva da entidade através de um acordo com o PCdoB.

Duas passeatas
Durante o auge das denúncias de corrupção que envolveu a alta cúpula do governo Lula e os principais dirigentes do PT, a UNE promoveu, com a CUT e o MST, uma marcha pelo “Fica Lula!”, no dia 16 de agosto em Brasília. O ato foi um verdadeiro fiasco contando com pouco mais de 5 mil pessoas, pelo simples motivo de que os estudantes não estavam dispostos a defender um governo que, além de atacar a educação, era também corrupto. O fracasso do ato governista contrastou com o sucesso do ato organizado pela Conlute e pela Conlutas no dia seguinte, quando 12 mil pessoas gritaram em alto e bom som “Fora Todos! Fora Lula, o Congresso, PT, PSDB, PFL…”.


No ano de 2005 também aconteceram importantes greves estudantis. A primeira foi iniciada em setembro pelas estaduais paulistas (USP, Unesp, Fatec e Unicamp), que se enfrentou com o veto do governador Geraldo Alckmin (PSDB) à emenda que aumentaria o orçamento da educação fundamental e superior. Nas ruas próximas da Assembléia Legislativa de São Paulo, estudantes, professores e funcionários foram brutalmente reprimidos pela mesma polícia que promoveu o massacre do Carandiru. O “saldo” foi de 13 estudantes presos e cinco hospitalizados.

Já as universidades federais, com os CEFETs e colégios de ensino médio, foram linha de frente numa greve que ultrapassou os 90 dias. Os estudantes também encamparam essa luta e deflagraram greve na UFF, UnB, UFSC, UFLA e UFMA. Não tardou e a Conlute impulsionou uma plenária nacional em Niterói, onde construiu uma pauta de reivindicação, que incluía, entre outros pontos, o aumento das verbas para educação, a ampliação e o reajuste das bolsas e a revogação das Medidas Provisórias (MPs) da reforma Universitária. Foi então instalado em Brasília o Comando Nacional de Greve e Mobilização dos Estudantes (CNGME), que ocupou as galerias da Câmara dos Deputados exigindo a cassação de Severino Cavalcanti, participou ativamente do ato contra a presença de Bush no Brasil, foi destaque no boicote ao Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) e orientou diversas atividades para as universidades em greve.

No dia 23 de novembro, quando a caravana da educação federal fez uma expressiva manifestação na porta do MEC e forçou o governo a reabrir as negociações, o CNGME foi reconhecido pelo Andes, Fasubra e Sinasefe, e sentou à mesa junto ao governo para exigir que este acatasse as demandas da pauta de reivindicação dos estudantes. O CNGME, apesar do boicote sistemático do P-SOL, falou em nome dos estudantes nessa greve.

Congresso no Rio Grande do Sul aponta o caminho
Nos dia 3 e 4 de dezembro, na cidade de Santa Cruz, a Conlute organizou um congresso estadual secundarista que contou com a presença de 150 participantes, entre eles representantes de grêmios e da entidade municipal da cidade que sediou o evento. O encontro votou, entre outras resoluções, a luta pela reserva de 50% das vagas das universidades públicas para estudantes oriundos da rede pública, e uma campanha contra o machismo, a homofobia e o racismo.

A União Municipal dos Estudantes de Santa Cruz e diversos grêmios aderiram à Conlute. A coordenação terá um jornal periódico, reuniões regulares, organizará congressos anuais, enfim, será uma alternativa que organizará os estudantes frente à falência da UBES.

Lições de 2005
A UNE, enquanto instrumento de luta e organização, morreu e foi enterrada pela história. Os caras-pintadas se transformaram nos cara-de-pau. A entidade, que foi uma referência para muitas gerações da juventude brasileira e até latino-americana, nada mais é hoje que um aparato a serviço do governo e do imperialismo.
Não podemos virar reféns de um passado distante. Permanecer nos marcos da UNE é, em última instância, contribuir com os planos do governo. É preciso encarar a realidade e construir o novo.

A Conlute vem ganhando espaço no cenário nacional. Queremos reconstruir a unidade dos lutadores e impedir a fragmentação do movimento estudantil. Se uma nova ferramenta não for construída, as lutas caminharão para a derrota. A unificação das lutas que ocorreram em 2005 poderia ter colocado em xeque o governo Lula. Para avançar na organização de uma alternativa de luta, a Conlute realizará em maio de 2006 um Encontro Nacional de Estudantes, e participará também do Conat, buscando construir uma estratégica aliança com a classe trabalhadora.
Post author Thiago Hastenreiter,da direção nacional de juventude do PSTU
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