Já era quase 8h de sexta-feira, 13, quando o presidente da comissão eleitoral, Ivan Trevisan, anunciou a vitória da chapa 1. Com 69,08% dos votos válidos, a Conlutas continua na direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região.
Foi a maior votação desde 1997, com a participação de 10.585 trabalhadores. A chapa 1 venceu em todas as urnas. A chapa 2, da CUT, ficou com 25% dos votos válidos, e a chapa 3, da Força Sindical, com 5%. Os votos brancos e nulos somaram 2,54%.
Cada vez que a comissão eleitoral anunciava um resultado parcial, os metalúrgicos e apoiadores que lotavam a arquibancada do Tênis Clube, onde foram contados os votos, não se continham. Chuvas de papel picado, palavras-de-ordem e uma bateria animada duraram a noite toda apesar do cansaço.

Quando finalmente o resultado oficial foi anunciado, Vivaldo Moreira e Herbert Claros, candidatos a presidente e vice, respectivamente, correram pela quadra e foram carregados pelos ativistas. O pessoal da arquibancada invadiu a quadra e fez a festa.

As eleições
Logo no primeiro dia de votação, mais de 7.200 trabalhadores haviam votado, quase atingindo o quorum de 7.900. A participação da categoria é expressão da consciência de que os próximos três anos trarão tarefas imensas.

Na Embraer, onde os operários passam por um momento trágico de demissões, a votação foi pequena contraditoriamente. Dois fatores contribuíram para isso.
O primeiro é o baixo número de filiados, graças a uma campanha de desfiliação feita pela empresa. Abaixo de assédio moral, a Embraer apoiou a tentativa frustrada da CUT de criar um sindicato paralelo.

O segundo foi a repressão histórica da Embraer. A empresa reservou um local com câmeras de segurança para a abertura das urnas e manteve sempre um funcionário de Recursos Humanos na sala de votação marcando quem votava.

Os desafios
Os desafios da próxima diretoria do sindicato não são futuros: eles estiveram colocados durante todo o processo eleitoral. Ao mesmo tempo em que fazia campanha, a diretoria do sindicato não descuidou por nenhum momento das necessidades dos metalúrgicos.

Foi no auge da campanha, por exemplo, que aconteceram as 4.270 demissões da Embraer. A diretoria, sem hesitar, enfrentou-se com a empresa e voltou-se para a defesa dos trabalhadores.

Nas fábricas menores, dispensas aconteciam todos os dias. Os diretores-candidatos estavam lá, nas portas das empresas, ao lado dos trabalhadores. Até uma ocupação de fábrica aconteceu durante esse período, na Inox.

Como se não bastasse o enfrentamento com os patrões e com o governo, a Conlutas ainda teve de enfrentar todo o tipo de calúnias por parte, principalmente, da CUT. Sem nenhuma responsabilidade, os membros da chapa 2 iam às portas de fábricas e faziam todo tipo de acusações mentirosas.

A falta de respeito com a categoria se expressou também na apuração, quando os membros da chapa da CUT, de forma pejorativa, chamavam os membros da chapa 1 de “sem-emprego”.

A importância
É verdade que esta não é a primeira vez que a Conlutas vence as eleições em São José dos Campos. Mas esta é diferente. Na situação mundial, ter a Conlutas à frente do sindicato é decisivo. A crise econômica não tem data para acabar e os ataques dos patrões e dos governos contra os trabalhadores tende a se aprofundar.
O resultado foi uma vitória não só dos metalúrgicos de São José, mas de todos os trabalhadores brasileiros. A chapa 1 representa a atual diretoria que colocou o sindicato no caminho da resistência e das mobilizações.

O novo vice-presidente, Herbert Claros, metalúrgico da Embraer de apenas 27 anos, definiu bem: “a vitória da chapa da Conlutas é o prenúncio da vitória que os trabalhadores de todo o país vão ter contra a crise”.

O sindicato transformou-se num símbolo da resistência à crise. No ano passado, sob essa direção, os trabalhadores da GM barraram o banco de horas. Depois, no início de 2008, enfrentaram mais de 800 demissões. A luta da Embraer ainda está em curso, mas uma vitória parcial já foi conquistada com a suspensão das demissões. O sindicato demonstrou que vai lutar até as últimas consequências pela reintegração.
A cara de luta do sindicato expressou-se, também, no apoio recebido de trabalhadores, estudantes e sindicatos de todo o país. Na arquibancada, eram cantadas palavras-de-ordem como “eu sou Conlutas, dá-lhe peão / e não aceito nenhuma demissão” e “Parou, parou / demitiu estatizou”.

Como disse Vivaldo, “dá pra dizer para os trabalhadores do Brasil inteiro hoje eles têm uma referência, basta lutar que é possível vencer”.
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