Com adesões e a preparação de um Congresso, Conlutas ganhou forma, cresceu e se fortaleceu em 2005Se 2004 foi o ano de nascimento da Conlutas, 2005 foi o período em que ela ganhou corpo e começou a ser vista pelos trabalhadores como uma alternativa concreta. Foi um ano em que muitos sindicatos romperam com a CUT e aderiram à Conlutas. A CUT transformou-se em ministério do governo Lula, desgastando-se ainda mais e aumentando o grau de ruptura nas bases. Nesse período, as oposições e sindicatos que passaram por essas rupturas também discutiram (e ainda estão discutindo) a preparação do Conat (Congresso Nacional dos Trabalhadores), com o objetivo de construir uma nova organização.

O preparo
A greve do funcionalismo público contra a reforma da Previdência em 2003 foi o ingrediente inicial para um processo de rupturas e reorganização que desencadearia o surgimento da Conlutas. O papel traidor da CUT nessa greve fez com que a categoria desautorizasse a CUT a falar em nome do movimento nas negociações com o governo. Além disso, diversas entidades deixaram de pagar o repasse à central.

Depois disso, outros ingredientes somam-se a essa efervescência. O passo seguinte foi a luta contra a reforma Sindical e Trabalhista, que em 2004 aglutinou entidades e ativistas de todo o país no Encontro Nacional Sindical, em Luziânia (GO). O encontro ocorreu em março e reuniu cerca de 1.800 pessoas de 181 entidades e oposições. As principais deliberações foram a realização de uma marcha nacional no dia 16 de junho em Brasília e a construção de uma frente de luta contra a reforma. Nascia a Conlutas.

Apesar do boicote de setores do P-SOL e da esquerda da CUT, o protesto de 16 de junho reuniu em Brasília mais de 10 mil pessoas e demonstrou que era possível construir uma mobilização nacional por fora das organizações tradicionais. Também em 2004 se deu o início de um movimento de desfiliação dos sindicatos da CUT e um segundo ato em Brasília, no dia 15 de novembro.

No forno
Depois de um movimento que uniu os elementos necessários para se construir essa alternativa, o bolo da Conlutas vai para o forno, ganha forma, cresce, se fortalece em 2005. No dia 30 de janeiro, durante o Fórum Social Mundial em Porto Alegre, a Coordenação realiza seu I Encontro Nacional, com a participação de 1.500 ativistas.

O encontro debateu a necessidade da Conlutas se transformar numa organização nacional que aglutine os vários segmentos dos movimentos sociais como o sindical, popular, do campo e estudantil. Um segundo encontro ocorreria em 18 de agosto, com o objetivo de marcar a realização de um Congresso de fundação da nova alternativa para o primeiro semestre de 2006.

A campanha contra a reforma Sindical e Trabalhista se intensificou no início do ano e o governo, a direção da CUT e as centrais pelegas começaram a perder o debate sobre o tema. Formou-se uma frente contra a reforma, que, além da Conlutas, aglutinou setores da esquerda da CUT e o PCdoB, ainda que de forma efêmera. Até a Força Sindical acabou retirando seu apoio ao projeto.

Mas, de fato, o que rifa (ao menos provisoriamente) a reforma Sindical e Trabalhista são os escândalos de corrupção que desabam sobre o governo Lula e o Congresso em maio. Com isso, a Conlutas adota como principal eixo a luta contra a corrupção e a política econômica do governo. A marcha que estava convocada para o segundo semestre contra a reforma passa a aglutinar ambas as lutas. Esse protesto leva cerca de 12 mil pessoas à capital do país no dia 17 de agosto, enquanto um ato cutista a favor do governo ocorrido no dia anterior no mesmo local não alcança a metade desse número. A comparação dos atos mostrou que, apesar de todo seu aparato, a CUT e a UNE não são mais capazes de levar as massas às ruas como nos velhos tempos.

Enquanto o governo se esforça para abafar a crise, as rupturas crescem no meio sindical, como parte das mobilizações, greves e processos de eleições sindicais. Intensificam-se os debates sobre a ruptura da CUT e a construção da Conlutas. Também surgem pela esquerda chapas de oposição sindical à CUT e/ou ligadas à Conlutas em diversas categorias no país.

O final de 2005 foi marcado pela preparação do Conat nos estados, não só através dos sindicatos, mas em encontros estaduais. Já ocorreram seis encontros estaduais com esse objetivo: Pará, Rio Grande do Norte, Ceará, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Também ocorreram encontros das regiões do Vale do Paraíba e do ABC em São Paulo. Novos encontros devem ocorrer no início de 2006. Consultando as coordenações estaduais, foi possível concluir que a Conlutas fecha o ano com cerca de 90 entidades que já aderiram formalmente à Coordenação e mais 100 entidades em processo de discussão. Além disso, em torno de 100 oposições sindicais participam da Conlutas.

Definindo a receita
A Conlutas está no forno, já cresceu muito, mas suas características finais ainda não estão definidas e todos os envolvidos no processo poderão ainda palpitar na receita. Para que o processo de construção da nova organização seja democrático, todas as entidades e oposições combativas envolvidas estão debatendo em suas bases a estrutura e funcionamento da alternativa que está sendo construída.

O documento apresentado pela Federação Democrática dos Metalúrgicos de Minas Gerais e que está sendo debatido nas categorias aponta para a construção de uma organização que aglutine todos os setores explorados e oprimidos, o que inclui o movimento sindical, os movimentos populares e do campo além da juventude. A proposta não é construir uma central sindical, mas algo maior, com uma estrutura diferente da CUT. A direção dessa organização teria apenas um caráter executivo e seria composta por representantes das entidades filiadas, numa estrutura mais aberta, menos fixa. O documento fala também sobre a necessidade de estabelecer uma contribuição financeira fixa das entidades.

Essas são algumas das propostas que serão debatidas no congresso. O formato exato do que sairá do forno depois desse processo ainda não se sabe ao certo como será. Entretanto, de todas as previsões e promessas de ano novo, uma é comum a muitos lutadores que acompanharam essa história: 2006 pode ser um ano histórico, no qual se construirá uma nova ferramenta que organize nacionalmente a classe trabalhadora nesse país e siga rumos bem diferentes dos caminhos da CUT.
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