O I Encontro Nacional de Negros e Negras da Conlutas, que será realizado nos dias 2, 3 e 4 de novembro, em São Gonçalo (RJ), pode ter uma enorme importância para a reorganização da luta negra no Brasil.

A fundação da Conlutas significou um salto na reorganização do movimento sindical e popular, ao apresentar uma alternativa à CUT e ao caminho sem volta do governismo.

Para o PSTU e, particularmente, para sua Secretaria de Negros e Negras, o Encontro de São Gonçalo pode abrir o caminho para que, também na luta contra o racismo, algo semelhante aconteça. Tanto seu objetivo – discutir a necessidade de um movimento negro socialista, classista e de oposição ao governo – quanto a empolgação de ativistas e entidades em todo o país – que prometem levar cerca de 400 delegados ao Encontro – nos dão esta garantia.

Uma luta anticapitalista
A cooptação da maioria do movimento negro se dá hoje por dois caminhos. O primeiro é o da ideologia de adaptação ao capitalismo, para a geração de uma classe média negra. Para isso, bastaria “estudar”, “conseguir bons empregos”, subir na vida e “chegar lá”.

Iniciativas governistas e de ONGs afiliadas pregam a mesma ladainha. Mas tudo isso se trata apenas de uma adaptação para a questão racial da ideologia ultra-individualista do neoliberalismo.

Nas fábricas, busca-se convencer os trabalhadores a “vestir a camisa da empresa”. Entre os negros, prega-se que, agora, vistam o embranquecedor manto do neoliberalismo, através da integração ao sistema.

Porém, como dizia Malcom X, não existe capitalismo sem racismo. A dura exploração imposta pelo neoliberalismo atinge ainda de forma mais brutal os negros. O salário da população negra é a metade do valor pago aos trabalhadores brancos. A precarização e o desemprego são 40% maiores entre negros e negras.

Enquanto isso, comunidades quilombolas têm suas terras desrespeitadas, como o da Marambaia, no Rio. E ainda existe uma brutal criminalização da pobreza e da população negra, com cenas lamentáveis de repressão e assassinatos praticados pelas forças policiais do Estado, como no Complexo do Alemão, Vila Cruzeiro e Favela da Coréia.

O manifesto que será discutido no Encontro afirma que “somos o setor da classe trabalhadora que recebe os piores salários no mercado de trabalho. Somos submetidos aos trabalhos mais pesados, insalubres e precarizados, no campo e nas cidades. Somos o setor dos servidores públicos submetido às atividades menos valorizadas. Mas, também, somos a maioria de negros e negras domésticas, trabalhadores dos canaviais e, setores informais da economia que, já chegam a mais de 20% da mão-de-obra ativa nos grandes centros metropolitanos”.

Por isso, a luta negra é inseparável da luta contra o capitalismo. Não existe uma unidade entre o negro trabalhador e o burguês negro. Existe uma profunda necessidade de integração da luta racial em uma perspectiva de classe. São os trabalhadores que podem apontar uma solução socialista para todas as formas de opressão, inclusive a racial.

Por outro lado, a esquerda socialista deve assumir todas as lutas contra a opressão de forma clara e inequívoca, sem adiá-la para uma etapa posterior. O movimento negro deve assumir assim um claro conteúdo anticapitalista e socialista.

Um instrumento do governo?
Além de adaptar-se à ideologia neoliberal, o movimento negro segue por um segundo caminho equivocado: o do governismo. A combinação de um governo com origem na “esquerda” e a distribuição das verbas do Estado facilitam esta cooptação. Mas o canto da sereia governista tem como conseqüência a esterilização do movimento negro, como já ocorreu com a CUT e a UNE.

Lula não é um aliado dos negros. É um defensor dos banqueiros e da grande burguesia. Como afirma o Manifesto, “o modelo neoliberal de Lula e dos banqueiros quer privatizar a Previdência Social, atendendo aos interesses dos bancos que vão lucrar mais ainda. Isso será mais um golpe contra nós Negras e Negros!!!! As reformas de Lula concretizam o que FHC iniciou pois, os homens vão se aposentar aos 67 anos, as mulheres com 65 anos e, essas regras irão penalizar mais ainda os que estão na base da pirâmide, pois somos os que começamos mais cedo a trabalhar”.

Por isso mesmo, o GT de Negros e Negras da Conlutas, que está organizando o Encontro e assina o Manifesto, reafirma sua diferença com essa concepção: “Temos um projeto de sociedade (…) defendemos um sistema econômico e Estado que norteie nossa luta rumo ao Socialismo e pelo fim do RACISMO e do CAPITALISMO.”

Algo que se concretiza na luta contra os projetos de Lula em acordo com o FMI e, particularmente, na luta sem tréguas contra a ocupação que Lula, a mando de Bush, está promovendo no Haiti.

Post author Dayse Oliveira e Wilson H. da Silva, da Secretaria de Negros e Negras do PSTU
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