Na noite de sexta-feira, dia 31 de outubro, quase 500 manifestantes protestaram na USP contra a violência homofóbica promovida por entidade do movimento estudantilDenunciando a homofobia
No dia 10 de outubro ocorreu mais um ato de homofobia na USP. Numa festa promovida pelo Centro Acadêmico da Medicina Veterinária, dois rapazes foram expulsos por se beijarem. O DJ da festa, que é também o presidente desta entidade, ao ver que os rapazes beijavam-se num dos palquinhos dispostos no local do evento parou o som e as luzes foram acesas.

Um rapaz de porte avantajado arrancou-os do palquinho e vários outros apoiaram a violência homofóbica incitada pelo DJ, insultando as vítimas e ameaçando-as de agressão. Os dois rapazes e outros dois que os acompanhavam foram expulsos da festa.

Em nota, a direção do CA da Veterinária tentou justificar a atitude do DJ, argumentando que manifestações públicas de afeto nos palquinhos não são admitidas mesmo quando se tratam de casais heterossexuais. A desculpa moralista em defesa do presidente homofóbico não convenceu. As vítimas recorreram a Justiça, processando os agressores.

O grupo teatral Satyros também se indignou e se propôs a fazer uma intervenção artística em protesto. Diante do caso, o GT de GLBT da Conlutas publicou artigo, está realizando uma campanha nacional através de moções de repúdio ao CA da Veterinária e organizou um beijaço na última sexta-feira, dia 31.

Foi a maior manifestação política na USP desde a ocupação da reitoria
Por volta das 22h, os participantes se reuniram em frente ao prédio da FEA (Faculdade de Economia e Administração). Entre eles estudantes, trabalhadores da USP, os rapazes que foram agredidos na festa do dia 10 e seus amigos, membros do grupo Satyros, militantes do PSTU, da Conlutas, representantes da Oposição Alternativa da Apeoesp, do Sintusp, do grêmio da Etesp, do CA de Letras e do grupo Corsa.

Juntos, confeccionaram um arco com balões levados pela Conlutas, que também distribuiu algumas bandeiras do arco-íris – que caracterizam o movimento GLBT. Às 23 horas, mesmo debaixo de garoa, já havia centenas de pessoas. A imprensa em peso fazia-se presente.

Com um apitaço e aos gritos da palavra-de-ordem “Homofobia eu digo não / Eu sou Conlutas e combato a opressão”, os manifestantes se organizaram para marchar até a frente do C.A. da Veterinária onde uma nova festa estava sendo promovida pela entidade que praticou a opressão homofóbica.

Com um dos estudantes que sofreu a agressão sendo carregado pelos amigos à frente, apitando e gritando “Pra combater a homofobia a nossa luta é todo dia”, eles chegaram ao local onde estava marcado o beijaço em protesto. No entanto, ao chegar ao CA os manifestantes foram recebidos em clima de conciliação. O DJ, que não era o mesmo, havia preparado uma trilha sonora clássica do público gay.

As vítimas subiram ao palco e o beijaço demorou a acontecer, mas saiu. Muitos manifestantes recusaram-se a entrar na festa da Veterinária, inclusive a organização do ato (essencialmente Sintusp e GT GLBT da Conlutas) optou por delimitar sua posição de denúncia, repúdio e resposta aos opressores ficando do lado de fora do CA e recusando seu microfone. Foi necessário que parassem o som para que a uma contagem regressiva harmonizasse o tradicional e legítimo beijaço.

Não selamos a paz: fizemos avançar a organização para o combate à opressão
Da mesma forma que a ocupação heróica da reitoria da USP, no ano passado, serviu de exemplo a ser seguido pelo movimento no restante do país para reverter a ofensiva dos governos neoliberias nos ataques à universidade pública, este beijaço é uma lição. Seu objetivo foi cumprido, pois a partir de agora, quando alguém pensar em praticar um ato de discriminação vai se lembrar deste beijaço e vai pensar duas vezes antes de agir.

Nossa capacidade de mobilização e organização está provada. Além da realização de um ato vitorioso pela sua repercussão, visibilidade e politização. A própria organização do ato mostrou que a unidade entre as categorias é uma necessidade para o movimento GLBT. A opressão homofóbica não pode ser discutida separadamente das demais lutas das classe trabalhadora e do movimento estudantil.

Enquanto não houver compreensão sobre o papel da opressão de nos dividir e enfraquecer não seremos capazes de acabar com a exploração e construir um outro modelo de sociedade. É na luta classista, cotidiana e unificada que nossas conquistas se tornarão concretas. Também pela sua prática cotidiana é que construiremos as direções que podem levar adiante a defesa dos nossos interesses.

O caso do C.A. da Veterinária da USP é ainda mais grave em relação a demais práticas de discriminação que ocorrem todos os dias. A homofobia foi protagonizada justamente por representantes do movimento estudantil, que deveriam desempenhar um papel oposto, de defesa dos direitos dos estudantes. Essa contradição é incabível. Exigimos a punição dos responsáveis pela agressão preconceituosa sejam punidos e que não sigam dirigindo uma organização do movimento estudantil.

Para de fato concretizar estas lutas, o GT de GLBT da Conlutas, junto ao Sintusp e aos estudantes da USP estão dispostos a construir um coletivo GLBT classista e independente na USP e fortalecer o GT de GLBT da Conlutas.

Envie moções de repúdio ao CA da Veterinária pelo e-mail: [email protected]