Seis da manhã do dia 25 de fevereiro. Com o sol já quente, os trabalhadores rodoviários de Fortaleza vão ao sindicato para votar na chapa 2, “Oposição Resgate/Conlutas”. Era o segundo turno da eleição do Sintro (Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários), já que há um mês os rodoviários haviam votado em massa na chapa da Conlutas, mas por falta de quórum foi preciso uma nova eleição.

Votaram nessas eleições 1.224 associados. A chapa 2, da Conlutas, obteve 63%, ou 785 votos. A chapa 1, da situação e ligada à CUT, ficou com 22% (245 votos). Já a chapa 3, da CTB, teve 156 votos, ou 13% do total. Das dez urnas instaladas, a chapa da Conlutas ganhou em oito.

As chapas da CUT e CTB haviam tentado uma manobra: decidiram realizar a votação do segundo turno apenas no sindicato, e não nos terminais, dispondo apenas nove urnas na sede e uma na cidade de Juazeiro do Norte. Mas não adiantou. Os trabalhadores reafirmaram o compromisso com a chapa da Conlutas. “O nosso time é bom e joga em qualquer campo, até no inferno, vamos votar onde eles quiserem”, afirmou um motorista.

A eleição foi marcada por muita violência, agressões físicas, ataque à perua da Conlutas e até ameaça de morte. Mas nada disso conseguiu amedrontar a categoria.
O processo foi conduzido por uma junta governativa composta por trabalhadores da base e pelo Ministério Público do Trabalho, já que a comissão eleitoral fraudulenta tinha sido afastada por decisão judicial. Também houve algo inédito no Ceará, o uso da urna eletrônica.

A eleição terminou às 17h, e às 17h40 já se sabia o resultado. Aí foi uma alegria só. Os vários rodoviários que se deslocaram para a frente do sindicato, juntamente com a militância da Conlutas, em especial os diretores do sindicato da construção civil e das costureiras, começaram a se abraçar e gritar bem alto: “A Conlutas é radical, não é capacho do governo federal; o sindicato é dos trabalhadores rodoviários”.

Leia abaixo a entrevista com o companheiro Domingos Gomes Neto, que encabeçou a chapa 2, “Oposição Resgate/Conlutas”.

“Nosso sindicato agora é de luta, não vai mais estar atrelado”

Opinião – Qual a importância da vitória da chapa de oposição?
Domingos Gomes – Em primeiro lugar, podemos lutar pelas reivindicações da categoria, pois nesses últimos dez anos nossos salários foram reduzidos em mais de 60%. Antes nós ganhávamos quatro salários mínimos e meio, hoje está reduzido a dois salários para motorista e um para cobrador. Vamos reivindicar plano de saúde, cesta básica e vários outros problemas da categoria. Em segundo lugar, acabaram os acordos rebaixados feitos pelas costas da categoria. Tudo será debatido e decidido em assembleia. Alem disso, vamos chamar uma assembleia da categoria e filiar o nosso sindicato à Conlutas.

Por que a Conlutas?
Domingos – A Conlutas se transformou em referência quando comandou a greve de três dias em 2008 contra um acordo assinado pelas costas da categoria. Feito pela CUT e CTB, que ainda ficaram do lado da prefeitura, que reprimiu a nossa greve. A categoria tem isso muito claro.

Quais são as expectativas da categoria?
Domingos – A categoria tem uma expectativa enorme porque nossa campanha eleitoral foi de denúncia contra os patrões e seus parceiros, a velha turma do sindicato. Vamos juntos, sindicato e a categoria, preparar uma pauta de reivindicações para a campanha salarial. O nosso sindicato agora é de luta. Não vai estar atrelado aos patrões nem aos governos municipal, estadual e federal.

Post author Emmanuel de Oliveira, de Fortaleza (CE)
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