Para Portugal reconhecer a Independência brasileira, proclamada em 1822, a monarquia aqui estabelecida aceitou que importante parcela da dívida portuguesa – de 1,3 milhão de libras esterlinas – com a Inglaterra fosse assumida pelo Brasil. Não é a toa que este acordo foi negociado pela própria Inglaterra, potência dominante na época, que passou a exercer uma hegemonia sobre o país.

Ao longo do Império (1822-1889), o governo contraiu empréstimos com a Inglaterra, parte importante para pagar dívidas antigas e outra para financiar compras de produtos da indústria inglesa. Apenas um parcela foi utilizada em atividades produtivas, mas mesmo nesse caso essas obras – ferrovias e portos – visavam facilitar o escoamento de nossa produção, com destaque para o café, para o exterior.
A proclamação da República, no plano econômico, alterou pouco o cenário. Seguidos empréstimos eram contratados, como de costume, para pagar os juros dos anteriores, mantendo-se também a política de financiar a importação de manufaturados e a exportação de gêneros agrícolas. De novo mesmo só houve a entrada em cena dos Estados Unidos. Assim, em 1930, quando a chamada “República Velha” dos grandes cafeicultores foi derrubada, o Brasil devia 237,3 milhões de libras.

O período que vai de 1929 (início da grande depressão econômica) até 1945 (término da segunda guerra mundial) permitiu ao Brasil, em plena ditadura de Getúlio Vargas, aproveitando-se das dificuldades das potências capitalistas, iniciar um processo de industrialização e diminuir as importações. Quanto à dívida externa, neste momento, o país deixou de pagar em alguns anos os juros da dívida, além de renegociá-la. Não é a toa que foi um dos períodos no qual a economia mais se desenvolveu. Além disso, uma auditoria constatou que as condições dos empréstimos eram onerosíssimas e que nos arquivos brasileiros existiam apenas 40% dos contratos.

De 1947 a 56, o Brasil continuou fazendo empréstimos, mas mandava cada vez mais dinheiro ao exterior, recebendo 41 milhões de dólares e enviando 754 milhões. Com a Ditadura Militar (1964-1985) a dívida aumentou ainda mais, aproveitando-se de uma conjuntura favorável nos anos 70, na qual a sobra de capitais nos países centrais permitia empréstimos a juros baixos, que foram em parte utilizados no plano de desenvolvimento. O país viveu um momento de crescimento econômico – sem alterar a concentração de renda – que logo em seguida transformou-se numa tragédia. O aumento das taxas de juros e a crise do petróleo levaram a uma explosão da dívida; assim, em 1964, a dívida era de 2,5 bilhões de dólares e em 1985 era de 100 bilhões.
De Collor até hoje, a dívida e a entrega só aumentaram.

Post author Rodrigo Ricupero, da redação
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