Completamente desgastado pelo interminável mar de lama revelado durante todo o ano de 2005, o Congresso Nacional adotou uma “agenda positiva” para tentar resgatar a imagem de seus parlamentares em ano eleitoral. Tal desgaste acentuou-se com a convocação extraordinária dos congressistas durante o recesso, uma recorrente manobra dos parlamentares para embolsarem salário extra sem sequer precisarem ir a Brasília.

A convocação extraordinária garantiu a cada parlamentar um vencimento extra de R$ 25,6 mil, relativo a dois salários, causando um impacto de R$ 100 milhões aos cofres públicos. As imagens dos corredores e salas vazios causou ainda mais indignação à população, forçando os congressistas a adotarem uma estratégia de auto-preservação e sacrificarem algumas poucas mamatas para manterem o conjunto de seus privilégios.

No dia 17 de janeiro, a Câmara dos Deputados, acuada com uma decisão judicial exigindo o corte do ponto dos parlamentares faltosos, aprovou o fim do salário extra. No dia seguinte, a Câmara também aprovou a redução das férias dos parlamentares, de 90 para 55 dias. Tal gesto, no entanto, apesar de não causar grande impacto nos bolsos dos políticos, gerou irritação entre os deputados. O atual presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB), auto-proclamou-se paladino das benesses dos deputados e chegou a declarar, em entrevista à revista Carta Capital, que “os deputados trabalham acima da média dos demais brasileiros”.

Essas medidas não devem, no entanto, reverter o desgaste causado pela percepção da grande maioria da população segundo a qual o Congresso é uma das instituições mais corruptas do país.

O papel da imprensa
Apesar de aparentemente se indignar contra os desmandos e privilégios parlamentares, a imprensa cumpre um verdadeiro papel de resgate da imagem das instituições. Ao mesmo tempo em que denuncia as mamatas de Brasília, o conjunto da mídia burguesa reverbera a mentira do governo Lula de “soberania” frente ao FMI e, finalmente, dedica grande espaço à não menos falaciosa redução dos privilégios parlamentares. A mesma imprensa que condena, força a remissão dos políticos frente à opinião pública, demonstrando seu compromisso de classe e a necessidade de proteger as instituições do regime.

Como afirmou o próprio Aldo Rebelo à mesma entrevista publicada na Carta Capital: “o Brasil paga, diariamente, R$ 600 milhões de juros da dívida interna. São R$ 600 milhões por dia! Faz isso sem nenhuma pressão da mídia, sem o noticiário informar, todo dia, que isso é uma situação vergonhosa. Nada.” O deputado só se esquece de dizer que o governo paga tal dívida com o auxílio de seu partido, o PCdoB, e do conjunto do Congresso Nacional.

Essa mamata, no entanto, continuará, com Lula ou o PSDB.