União Municipal de Santa Cruz e inúmeros grêmios se filiam à ConluteNos dias 3 e 4 de dezembro, ocorreu, na cidade de Santa Cruz do Sul, na região central do Rio Grande do Sul, um Congresso da Coordenação de Luta dos Estudantes, que reuniu cerca de 150 estudantes, entre delegados e alguns observadores.

Cada delegado era eleito proporcionalmente a 250 alunos, o que garantiu uma participação democrática. Este número era composto por uma série de representantes de grêmios estudantis de Porto Alegre e Santa Cruz, mas por uma grande quantidade de estudantes de base, organizados em comissões pró-grêmio, além de movimentos de oposição, que, somados, representavam as maiores escolas de Porto Alegre. Além de reunir uma variedade grande de escolas, o encontro contou com o melhor dos ativistas que se organizam para barrar o já anunciado aumento de passagens, que deve vir até março de 2006.

O grande salto na organização da Conlute no estado, porém, foi a adesão da União dos Estudantes de Santa Cruz (UESC). Esta entidade é reconhecida por sua importância nas lutas da cidade e por seu peso sobre o conjunto do estado. Recentemente, em uma eleição com 8.951 votantes, a chapa eleita, com quase 50 % dos votos válidos, se somou à construção da Conlute na cidade, trazendo junto os principais grêmios de Santa Cruz. Esta realidade coloca a organização da Conlute em secundaristas em outro patamar, na medida que já serve de atração para estudantes de Passo Fundo, Canoas, Gravataí e Alvorada, que também participaram do Congresso. Em Porto Alegre, Maria, da direção do Grêmio do Cônego Paulo de Nadal, descreve assim o sentimento pós-Congresso: “Foi uma grande vitória, pois o que já existia na capital, com a Conlute aglutinando uma série de grêmios e oposições, teve um salto aqui mesmo, mas, mais que isso, começou a se alastrar pelo estado inteiro.”

“Eu sou Conlute, sou radical, não sou capacho do governo federal”
O Congresso teve plenárias e grupos de discussão sobre conjuntura política nacional e estadual, a reorganização do movimento estudantil e o papel das entidades, campanha pelo Passe Livre, estágios, reforma Universitária, luta contra as opressões, situação internacional e cultura. Foram tiradas resoluções de repúdio a Lula, Rigotto e à oposição de direita; contra o pagamento da dívida externa; por 50% de reserva de vagas a estudantes de colégio público no vestibular, rumo a sua extinção, aumento imediato de vagas na universidade; por direitos trabalhistas, melhor salário e efetivação para estagiários; por uma luta conseqüente contra o machismo, o racismo e a homofobia; bem como a criação do site da Conlute gaúcha, de um jornal regular, de um reforço à formação de grêmios estudantis e de uma Coordenação Intermunicipal da Conlute, que terá reuniões regulares, constituída por representantes das regiões que estão na Conlute, que, por sua vez, se reunirão de maneira aberta com todas as entidades de base que as compõe. Resolveu-se que a partir de agora os Congressos da Conlute no RS serão anuais e tentarão se dar em unidade com os universitários a partir de 2006. Por fim, aprovou-se a necessidade de somar-se à construção do Congresso Nacional de Trabalhadores (CONAT) do ano que vem, assim como votou-se apoio e adesão à greve dos professores estaduais marcada para 06/03 do ano que vem.

“Eu, eu, eu, a UBES já morreu”
Na semana passada, ocorreu a etapa estadual do Congresso da UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas) na cidade de Alvorada, vizinha a Porto Alegre. Neste Congresso, a UJS, grupo que dirige a UBES há anos, mais uma vez fez seu circo de despolitização, fraudes e falta de democracia. Estudantes independentes que estiveram lá relatam que mais uma vez os grupos de discussão foram uma farsa, esvaziados. O Congresso terminou sem nenhuma deliberação política concreta, poupando o governo Lula do mensalão e com uma “vitória” (roubada é claro, como sempre) da UJS como nunca aconteceu no Rio Grande do Sul. Há dois congressos a UJS não ganhava no estado, mas agora fez quase 200 votos, escancarando sua máquina de fazer crachás. A oposição se resumiu a uma pequena bancada de duas correntes do P-SOL: a do MES/Desobedeça, que se retirou do Congresso antes de seu final, mas ainda se recusa a aderir a Conlute (em universitários – UNE – esta corrente fez um acordão com a mesma UJS e garantiu um cargo para si na direção) e a do MUS/Contestação que tinha apenas 15 delegados. Os números são cruéis, mas não deixam dúvidas. A UBES já morreu: é uma entidade do governo Lula, que sabota as mobilizações e onde não há nenhum espaço para a oposição. Os companheiros das correntes do P-SOL devem somar-se a Conlute, o que inclusive foi deliberado no congresso da Conlute como um chamado a ser refeito. Aí sim, podemos unificar as lutas e mesmo polemizar, mas com toda democracia e fraternidade necessárias.

Um Congresso que aponta um caminho
A reorganização secundarista no país depende de uma combinação de dois elementos: de um lado a mobilização, de outro a organização. No que se refere à mobilização, a própria realidade, cada vez mais dura, do conjunto da juventude, e em especial dos secundaristas, que são a maioria da juventude e seu setor mais pobre, faz com surjam revoltas, lutas e grandes manifestações. Foi assim em Salvador, Fortaleza, Floripa e agora em Recife. Também foi assim em POA, Santa Cruz, Pelotas, Guaíba e outras cidades gaúchas nos últimos dois anos, embora em bem menor escala e proporções. Mas o diferencial para que estas lutas obtenham vitórias e consigam dar um caráter permanente à luta, é se conseguimos dar organicidade aos processos. Com a UBES do outro lado da trincheira, somente a Conlute pode aglutinar todos os estudantes que lutam, e apontar claramente na unidade com os jovens trabalhadores, dos bairros, com os universitários e com os desempregados e trabalhadores em geral, em defesa do Passe Livre, da estatização do transporte público, de mais verbas para a educação e de uma entidade realmente de luta dos estudantes.