Os deputados equatorianos aprovaram nesta quarta-feira, 20 de abril, a destituição do presidente Lucio Gutierrez e a nomeação do vice-presidente, Alfredo Palacio, como novo governante do país. As forças armadas retiraram o apoio à Gutierrez, que deixou o palácio Carondelet em um helicóptero. Segundo agências internacionais, ele teria pedido asilo político ao Brasil.

Em uma medida para evitar um processo de impeachment, 60 dos 62 parlamentares presentes aprovaram a destituição do presidente por ‘abandono de cargo’. Esta foi a forma encontrada pelos partidos que apóiam o governo e pela oposição burguesa para tentar uma saída que preserve as instituições em meio ao processo de luta que se intensificou no país desde o dia 13 de abril. O mandato de Gutierrez, que assumiu em janeiro de 2003, iria até 2007.

As maiores manifestações pela renúncia do presidente ocorreram na noite desta terça-feira, quando mais de 50 mil manifestantes marcharam em direção ao Palácio Carondelet. Os protestos tiveram uma forte presença estudantil e indígena, com a adesão, ainda que tardia, da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie). Aconteceram também em outras cidades, como Guayaquil, Cuenca, Machala e Riombamba, e em algumas zonas rurais. Convocados pela oposição burguesa há algumas semanas contra a anistia dada pela Suprema Corte a ex-presidentes corruptos, os protestos assumiram um caráter de insurreição, voltando-se contra todos os políticos burgueses, tendo como centro o Fora Lucio e acontecendo de forma espontânea, independentemente das direções do movimento.

Na noite de terça, os manifestantes enfrentaram o aparato policial e bandos ligados a Gutierrez. Houve uma brutal repressão, que deixou várias pessoas feridas e matou um fotógrafo. Foi o estopim para a derrubada de Lucio. No dia seguinte, o comandante geral da polícia, Jorge Póveda, pediu renúncia em função das mortes do dia anterior.

Assim como aconteceu com o recuo no estado de emergência decretado em Quito, a destituição do governo Gutierrez não conseguirá deter as mobilizações no país. Pela manhã, os estudantes fizeram um `mochilaco`, contra a repressão da noite anterior e as manifestações continuam após a saída de Gutierrez. Centenas de manifestantes fazem uma vigília no Aeroporto Internacional, para impedir que autoridades deixem o país. A sede do Ministério do Bem Estar Social foi cercada pelos manifestantes, e pelo menos três deles foram atingidos à bala, por partidários de Gutierrez. Os bloqueios que haviam sido colocados nas vias de acesso à capital foram retirados e cerca de 150 ônibus com manifestantes conseguiram entrar na cidade. Nas proximidades do Palácio, houve confrontos, com tiros e gás lacrimogêneo, entre policiais e um grupo de 500 pessoas, em sua maioria estudantes.

Por um governo dos trabalhadores e do povo
Gutierrez assumiu após a `Revolução do Arco-Íris` que, em 2000, derrubou o presidente Mahaud e colocou a questão do poder na ordem do dia. A burguesia equatoriana conseguiu dar uma saída democrática, com as eleições, e Gutierrez iniciou um governo a serviço do imperialismo e que atacou duramente o nível de vida da população. Ele dolarizou a economia do país, autorizou a base norte-americana de Manta e negociava a implantação do TLC, acordo de livre-comércio da região. Também atacou os salários e tentava implementar uma reforma Trabalhista.

Os trabalhadores equatorianos devem rejeitar o golpe do Congresso e esta `saída`, que manterá uma realidade de arrocho e miséria. Depois do Fora Lucio, é preciso lutar pela saída do vice-presidente, e construir uma saída dos trabalhadores, apoiada em assembléias populares e na retomada do Parlamento dos Povos.