Acontecerá entre os dias 5 e 8 de julho, em Brasília, mais um Congresso da UNE (Conune). Desde o congresso de 2003, quando a entidade passou de malas e bagagens para o lado do governo, não se pode esperar para além de resoluções e moções de apoio às diretrizes políticas e educacionais do Planalto.

Logo no ato de abertura do congresso, estarão presentes figuras ilustres, inimigas históricas dos estudantes. Entre elas, representantes dos ministérios da Cultura, Educação, Esporte, Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia. Como se não bastasse, Tymothy Mulholland, reitor da UnB, conhecido pela omissão no atentado racista ocorrido dentro desta universidade, será um dos palestrantes no painel “As mudanças na Universidade Pública”. Coitada da universidade pública…

Depois de aprovar em seus sucessivos congressos apoio a todas as versões da reforma universitária apresentadas pelo MEC, o atual Conune, ficou incumbido da tarefa de referendar o Projeto de Lei 7.200, que permite a entrada de 30% de capital estrangeiro nas universidades particulares, mantém o caráter autoritário da estrutura de poder das universidades públicas através da famigerada lista tríplice e legaliza o ensino à distância.

Além disso, o Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), que limita para os próximos 10 anos o crescimento da folha salarial dos servidores públicos federais, mantém o salário mínimo de fome, avança nas privatizações e inicia a reforma da Previdência, é enaltecido com “grande entusiasmo” na tese “Eu quero é botar meu bloco na rua” (PCdoB/UJS).

Um dos maiores ataques da história contra a universidade pública, denominado Universidade Nova, foi elaborado pelo reitor da UFBA, Naomar de Almeida Filho, e transformado em Decreto pelo presidente Lula em abril de 2007. O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), como também é conhecido, transforma o ensino superior público num grande escolão de curta duração, através da criação de ciclos básicos. Trata-se de um ataque tão sinistro, que nem mesmo o PCdoB teve a coragem de defender abertamente em sua tese o apoio a tal programa. No entanto, se utilizou de uma manobra nem um pouco criativa e ao invés de apoiar o Universidade Nova, propõe a criação de um movimento pela Nova Universidade.

Por último, a UNE até hoje nunca se pronunciou sobre a vergonhosa ocupação das tropas do exército brasileiro no Haiti. Isso se dá por um motivo muito simples: o PCdoB faz parte do governo que oprime o povo haitiano a serviço do imperialismo norte-americano.

As resoluções que serão aprovadas 50º Conune são totalmente previsíveis. Até mesmo os companheiros do PSOL admitem que é impossível mudar os rumos da entidade. Mas o fracasso do Conune não se iniciou em sua cerimônia de abertura, e sim nas eleições de seus delegados, que foram marcadas por uma total frieza por parte dos estudantes. A participação da base nesse processo foi praticamente nula. As urnas não foram sequer abertas no conjunto dos cursos. O já reduzido quorum mínimo de 5% estabelecido no regimento foi alcançado com muito sufoco. Sem contar com as denúncias de fraude por toda parte.

Se o Conune refletisse minimamente a realidade, a greve das estaduais paulistas, sobretudo a ocupação da USP, se faria presente em Brasília. Mas não foi isso o que aconteceu. A USP não enviou nenhum delegado ao Conune e, por pouco, os governistas não foram destituídos do DCE.

Gustavo Petta conseguiu a proeza de ser expulso da vitoriosa ocupação da UFAL. O dia 6 de junho, dia nacional de ocupações de reitoria da UNE, foi um verdadeiro fiasco. Ou seja, se colocando na contramão das lutas estudantis, a UNE não passa de uma casca vazia, um aparato a serviço da política do governo.

Enquanto isso, a Conlute saiu muito fortalecida das lutas do primeiro semestre. Cumpriu um papel determinante nas ocupações da USP, UFAL, UFRJ, UFJF, UFPA, entre outras. Além disso, foi protagonista na organização da Plenária Nacional ocorrida na USP, que votou um calendário para todo segundo semestre, incluindo a realização de um Encontro Nacional.

As lutas que se anunciam, como a greve dos servidores técnico-administrativos das universidades federais e a resistência dos estudantes à implementação do Reuni, não pouparão os traidores e não se furtarão em construir o futuro do movimento estudantil.

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