Oposição se unifica e se retira de congresso devido à postura autoritária de sua direção majoritária

Mais de dois mil professores e professoras se reuniram no XXIV Congresso da APEOESP entre 27 e 29 de novembro em Serra Negra, interior de São Paulo. O congresso ocorreu num momento de muitos ataques à nossa categoria, como a não aplicação da jornada do piso, salários defasados, jornadas estafantes, um aumento absurdo da violência dentro da escola que atinge alunos e professores, a manutenção de uma política educacional privatista, com a ampliação de oficinas e repasses de verbas as escolas particulares e a manutenção da precarização do contrato de trabalho dos professores categoria “O”, além de um concurso público que foi realizado de forma extremamente desrespeitosa às próprias regras estabelecidas pela Secretaria de Educação (como questões fora da bibliografia, falta de tempo para realização das provas de exatas, além de trocas de provas, acarretando no prejuízo a milhares de professores que tinham nesse concurso a esperança de serem dignamente avaliados em suas competências e poder sair da condição precária que se encontram).

O XXIV Congresso tinha o desafio de debater de forma coletiva as jornadas de junho e a nova situação política que se abriu no país, as lutas em defesa da educação e a melhor forma de reunificar nossa categoria e demais movimentos em defesa da escola pública, como fez os professores cariocas. Também o de discutir quais iniciativas devemos ter para exigir a imediata aplicação da jornada do piso, debater iniciativas sobre as atrocidades que vimos no concurso, enfim preparar nossa luta para unificar a educação nacionalmente em uma grande greve nacional da educação em 2014.

Infelizmente, não foi isso que assistimos nesse congresso. Logo no credenciamento dos delegados, a direção majoritária da APEOESP (Bebel/CUT e CTB) impediram o credenciamento de vários delegados que foram eleitos em suas escolas e nos encontros preparatórios, por terem menos de seis meses de filiação ao sindicato, atitude que afronta o estatuto da própria APEOESP (tanto que dois professores conseguiram se credencias por ordem judicial). Lamentável que o setor majoritário da APEOES queira dividir nossa categoria, e isso ocorre porque existe uma nova geração de professores jovens, que são precarizados e estão dispostos a lutar e que perceberam a necessidade de derrotar essa direção governista para isso.

Além disso, o setor majoritário decidiu que não haveria o debate de conjuntura, pois suas posições são insustentáveis diante da categoria. O primeiro debate que não fizeram foi sobre o governo Geraldo Alckmin (PSDB) que, além de destruir a educação pública em São Paulo, é parte de uma sequência de governos do PSDB envolvidos em esquemas de corrupção na CPTM e no Metrô. Por isso defendemos que a APEOESP faça parte da campanha pelo “Fora Alckmin”, mas como são contra se negaram a fazer esse debate. Além disso, defendem o governo Dilma que entregou nossa soberania com a privatização das reservas de petróleo do campo de Libra às multinacionais, além de privatizar os aeroportos, estradas e portos. Além disso, não queriam debater a prisão dos dirigentes do PT, condenados pelo escândalo do mensalão.

Para encerrar com chave de ouro estas barbaridades, decidiram aprovar mudanças estatutárias que atacam a democracia da APEOESP e a autonomia das subsedes. Isto porque dezenas de subsedes são dirigidas pela oposição e não se submetem à direção majoritária. Aprovaram que o Conselho Estadual de Representantes é quem vai decidir os regimentos das subsedes e não mais os RE´s (Representantes de Escolas) e professores nas regiões. Também aprovaram fazer credenciamento nas assembléias da APEOESP. Em assembléia de professores, todos são bem-vindos, porém, na hora de decidir quem deve votar são os professores. No entanto, o credenciamento tenta impedir que professores não sindicalizados possam participar de nossas assembleias, e isso é um absurdo. Quando fazemos luta, todos os professores participam independente de serem ou não sócios e todos devem poder decidir os rumos do movimento. Temos que filiar o maior número de professores ao nosso sindicato, porém, todos que estão em luta devem decidir, pois muitos que são sócios não aderem ao movimento e outros não sócios aderem.

Por que a Oposição se retirou do congresso?
Apesar de tantas barbaridades, acreditamos que nos congressos sindicais deve prevalecer o debate democrático das idéias e, após o debate, achamos correto votar e que se aprove a posição da maioria. Achamos legítimos que a maioria aplique e defenda sua política, porém não foi isso que ocorreu nesse congresso.

Em todos os congressos da APEOESP, o setor majoritário utiliza o expediente da tese-guia, que é aprovada integralmente e depois resta aos setores se oposição fazer emendas para tentar aprovar alguma mudança. Achamos esse método inadequado, porém sempre aceitamos apesar da diferença que temos. Nesse método de trabalho, quando se quer alterar o estatuto, a tese-guia sempre é o estatuto. Porém, a direção majoritária aprovou, de forma arbitrária, um ataque à autonomia das subsedes sem fazer esse debate em plenário e sem emendar o estatuto, alegando que ao aprovar a tese-guia já teria alterado o estatuto.

Essa metodologia foi adotada em desrespeito ao próprio regimento votado por eles mesmos. Fizemos essa ponderação e, sem nenhum debate, foi imposto pela mesa de forma autoritária e contra o regimento do congresso essa dinâmica. Após isso a mesa do congresso, ainda de forma autoritária, se recusou a colocar em votação outros temas alegando estarem superados pela aprovação da tese-guia, porém colocou em votação a necessidade do credenciamento nas assembléias.

Neste momento, haviam mudado a dinâmica novamente, pois como interessava a eles mudar o estatuto, agora podia votar. Quem conduziu essa mesa autoritária foi João Felício, dirigente da CUT e ex-presidente da APEOESP, que há muito tempo não aparece nas nossas lutas e greves, porém apareceu para burocratizar a entidade. Diante deste flagrante desrespeito ao regimento e às regras democráticas, a oposição anunciou que se retiraria do congresso. A truculência foi tanta que até a presidenta da APEOESP foi interrompida pelo João Felício.

Diante de tanto autoritarismo, a Oposição teve que se retirar do congresso. Cerca de 800 professores e professoras de todo o estado que se dispuseram a debater os problemas da categoria e apresentar propostas de luta deixaram a plenária, pelo impedimento de apresentar e debater propostas.

APEOESP fica mais fraca!
A direção majoritária (Bebel/CUT e CTB) faz com que a APEOESP fique mais fraca diante do governo, pois, usando a mesma lógica do Alckmin, divide nossa categoria de forma burocrática e autoritária para ampliar seu controle sobre a estrutura do sindicato. Os milhares de professores e professoras que todos os dias sofrem nas escolas querem um sindicato que organize sua luta para derrotar os ataques desse governo, e o XXIV Congresso, ao ter essa condução e obrigar a oposição a se retirar, só fortalece o governo e enfraquece nossa luta.

Unidade das Oposições para defender nossa categoria!
A fantasiosa propaganda que direção majoritária do sindicato faz sobre “vitórias” da categoria que não existem, as relações fraternais com a Secretaria de Educação e a defesa da política educacional do MEC que é privatista, meritocrática e precarizante, demonstra a falência da direção majoritária da APEOESP. Se houve algo de positivo nesse congresso é que todos os setores de oposição se uniram em defesa da democracia de nosso sindicato. Agora, é necessário que todos e todas que acreditamos na luta e na possibilidade de derrotar esse governo da dupla anti-educação Hermann-Alckmin, fazer que nossa unidade no congresso se estenda nas subsedes, na ida às escolas para organizar nossa luta e em uma única chapa de oposição na eleição da APEOESP em 2014.

Defendemos a construção de uma ampla unidade da oposição para derrotar os governistas na APEOESP, reunificar nossa categoria e enfrentar o governo de PSDB, e também os ataques do governo federal do PT. Por isso queremos realizar uma ampla convenção no início de 2014 que define o programa e nossa chapa para que a APEOESP volte para a mão do professorado e possa estar a altura da nova situação desse país.

“Mercenários” da APEOESP
Um pequeno setor de professores ligados ao PCO há muito tempo servem a ArtSind e à CUT para fazer o chamado trabalho sujo. Nesse congresso isso foi desmascarado, pois a tese 3 do PCO elegeu delegados/as em três subsedes, e em todas elas conseguiram se eleger votando na tese 1 da direção majoritária da APEOESP. Defenderam os mensaleiros em plenário e ainda ficaram no congresso para legitimar o golpe ao estatuto da APEOESP. Caiu a máscara! Também vale destaque o papel da corrente “O Trabalho” que não apenas ficou, como foram os autores da proposta de assembléias fechadas e com credenciamento.