Realizado entre os dias 23 e 26 de junho, na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRural-RJ), o Primeiro Congresso da ANEL é a consolidação definitiva de uma entidade de presença incontestável no movimento estudantil brasileiro. Expressão viva do processo de reorganização, a reunião de mais de 1.700 estudantes, de 23 estados do país, serve como impulso para a luta nas escolas e universidades, armando a resistência ao Plano Nacional de Educação (PNE) proposto pelo governo Dilma e chamando o movimento à unidade, para lutar pelos 10% do PIB, já, para a educação.

Não há palavra mais precisa que euforia para descrever o encerramento do congresso. Os gritos de “Não sou capacho do governo federal. Sou estudante livre da Assembleia Nacional” transpareciam a comoção dos que sabiam ter protagonizado um grande feito. A despeito das ilusões que existem entre os jovens e trabalhadores sobre o atual governo, os ativistas presentes saíram orgulhosos dessa que foi uma demonstração de força do movimento estudantil combativo. O congresso contou com a presença de representantes dos DCEs da UFRJ (Rio de Janeiro), UFRGS (Rio Grande do Sul), UFPA (Pará), UECE (Ceará), UNIFAP, do anfitrião UFRuralRJ, entre outros.

É o estudante no local!
“Quem é, quem é?”, perguntava o Cabo Daciolo, liderança da greve dos bombeiros do Rio, durante a mesa de abertura. “É o estudante no local!”, respondia um plenário agitado, que também mereceu outras importantes saudações. Do ANDES-SN aos funcionários das universidades federais em greve; do MTST aos operários da construção civil; dos professores ao MST, todos refletiram algumas das mais importantes lutas da atual conjuntura. A presença da CSP-Conlutas reafirmou a aliança fundamental entre os estudantes livres e os trabalhadores.

O Plano Nacional de Educação esteve nos centros dos debates, preparando os ativistas presentes para uma luta dura. Enquanto o governo propõe um projeto que perpetua o atraso histórico da educação pública no Brasil e incentiva a expansão do ensino privado, o Primeiro Congresso da ANEL enfileirou uma expressiva coluna de lutadores, que saem agora dispostos a defender um programa claro de defesa do ensino. Essa tarefa teve o incentivo da professora Amanda Gurgel, aclamada por um plenário lotado.

A luta do estudante é internacional
O internacionalismo também foi consagrado como princípio fundamental da entidade. Depois de ter enviado uma representante a uma conferência no Egito, a ANEL recebeu a presença de importantes convidados internacionais. Os delegados e delegadas presentes puderam ouvir relatos de lutas impressionantes, como o do estudante espanhol Adrian Ruiz Ibañez – que participou do movimento 15M e da ocupação da praça Puerta del Sol, em Madrid. O jovem Muhib, ativista palestino, representou uma das lutas antiimperialistas mais importantes do mundo. Estiveram presentes, ainda, representantes da Argentina, Suíça e Paraguai.

Uma demonstração de que, para a ANEL, a luta dos estudantes é internacional e que nos orgulhamos de convidar a juventude à ousadia de mudar o mundo. Vai no mesmo sentido a luta da entidade contra toda forma de opressão, uma marca impressionante do congresso. Além de uma expressiva delegação LGBT, também as mulheres e negros se expressaram nesse congresso. O governo Dilma, que recentemente recuou do kit anti-homofobia, vai agora ver as universidades tomadas por lutadores, cujo entusiasmo foi renovado por um congresso que valorizou os debates em torno à luta contra o preconceito e a discriminação.

Não bastasse a força política do congresso, uma série de debates e resoluções vão fortalecer a organização da ANEL. Os princípios da independência política e financeira, do classismo, da ação direta e da democracia foram reafirmados em meio a discussões que traçaram políticas para incrementar o funcionamento, as finanças e o trabalho de base da ANEL em todo o país.

Fortalecida uma alternativa à UNE
Um dos maiores êxitos desse congresso foi o de fortalecer e consolidar uma alternativa à União Nacional dos Estudantes. Após oito anos de fidelidade absoluta ao governo federal, a UNE também prepara agora mais um congresso. Afirmar que veremos no 52º CONUNE (Congresso Nacional da UNE), uma vez mais, um espetáculo de aclamação do governo Dilma não chega a ser um prognóstico dos mais ousados. Dessa forma, os lutadores presentes no Primeiro Congresso da ANEL sabiam bem que estavam consolidando uma alternativa à traição daquela que já foi a principal ferramenta de luta da juventude brasileira.

Em um momento como o que vivemos, em nível mundial, em que revoluções acontecem e a juventude vai à frente, cobrando seu lugar na história, é uma vitória para todo o movimento estudantil que uma entidade livre tenha se consolidado no Brasil. A ANEL, que lutou contra o ceticismo e venceu, mostrou – com o triunfo de seu Primeiro Congresso – que é possível lutar e ousar, sendo livre de qualquer amarra. Se aqui e no mundo o novo pede passagem, os estudantes devem saber que a ANEL já é parte do presente. E agora está pronta para as lutas que certamente virão. Viva a ANEL! Viva o movimento estudantil!

Post author Jorge Badauí, da Secretaria Nacional da Juventude do PSTU
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