Durante dois dias, a população da Bolívia saiu às ruas e enfrentou violentos choques com o Exército para exigir a renúncia do presidente Gonzalo Sánchez de Lozada e o fim do imposto sobre os salários

os dias 12 e 13 de fevereiro, a Bolívia foi palco de um banho de sangue, que terminou com 23 mortos e cerca de 80 feridos. O conflito começou na quarta-feira (12), após soldados do Exército terem disparado contra sete mil policiais em greve e milhares de civis que protestavam na capital, La Paz, contra o projeto do governo que estabelecia impostos sobre os salários.
Após sua eleição, há apenas seis meses, o presidente Gonzalo Sánchez de Lozada conseguiu uma trégua momentânea das direções camponesas e dos “cocaleros” (os plantadores de coca), que suspenderam a onda de mobilizações que atingiu a Bolívia no ano passado. Sentindo-se fortalecido, o governo tentou sanar seu enorme déficit atacando os setores assalariados. Porém, a reação saiu por onde menos se esperava: a polícia de La Paz começou um motim exigindo a anulação do aumento de impostos.
A revolta dos policiais foi seguida pela mobilização de milhares de trabalhadores, que foram às ruas para exigir a renúncia do governo. O Exército foi chamado para proteger o palácio do governo e atirou contra a população, matando 16 pessoas. As sedes da vice-presidência da República, do Ministério do Trabalho e dos partido governistas – MIR e MNR – foram incendiadas e manifestantes levantaram barricadas em La Paz e bloquearam estradas. Em Santa Cruz e Cochabamba também aconteceram conflitos violentos, com incêndio de prédios públicos e saques no comércio.
Ainda no final da tarde de quarta, Sánchez de Lozada, fez um pronunciamento e anunciou a revogação da proposta de imposto sobre os salários. Na madrugada do dia 13, o governo anunciou um acordo para pôr fim à greve da polícia, que incluía entre seus 19 pontos o pagamento de uma indenização de 10 mil dólares às famílias dos policiais mortos.
Mas as mobilizações continuaram. Durante o dia, o policiamento em La Paz foi feito apenas pelo Exército e uma grande passeata, organizada pela Central Operária Boliviana, cruzou o centro da cidade pedindo a renúncia do presidente. Franco-atiradores dispararam contra a multidão e mais sete pessoas morreram. O Exército usou bombas de gás e balas de borracha para tentar dispersar os manifestantes e impedir que se aproximassem do palácio do governo. Seguiram-se saques, em especial nas cidades de El Alto e Santa Cruz.
A COB iniciou uma greve geral e voltou a exigir a renúncia do presidente. Evo Moralez, dirigente dos plantadores de coca e ex-candidato a presidente, também pediu a saída imediata de Sánchez de Lozada e acusou o governo de promover ações repressivas aos indígenas.
Somente da na sexta-feira, dia 14, a greve geral foi suspensa e os policiais rebelados voltaram ao trabalho. Entretanto, continua a campanha das entidades sindicais, estudantis e dos cocaleros e indígenas pela renúncia de Sánchez de Lozada.

Entenda o Imposto

No início de fevereiro o governo boliviano apresentou ao poder legislativo um pacote de medidas econômicas, entre as quais um imposto sobre salário, recomendado diretamente pelo FMI.

Como é hoje
Os trabalhadores que recebem menos de 4 salários mínimos (1.760 pesos bolivianos ou 200 dólares) não pagam imposto sobre o salário. Os que recebem acima disso podem apresentar faturas de gastos para se livrarem do pagamento.

Como ficaria
Com o pacote do governo, os trabalhadores que recebessem acima de 100 dólares deveriam passar a pagar 13% de imposto sobre o salário. O objetivo do governo era reduzir o déficit fiscal de 8,5% para 5% do PIB.

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