Assessores do ministro Márcio Thomaz Bastos confirmam como foi a preparação. Palocci deverá ser indiciado pela Polícia FederalNa mais grave crise política que se abriu após a descoberta do “mensalão”, o governo Lula se vê cada vez mais acuado. Desta vez, o escândalo causado pela violação do sigilo bancário de Francenildo Costa, o caseiro que desmentiu Palocci, revela um governo capaz de fazer qualquer coisa para acobertar sua corrupção sistêmica.

Gangsters do Planalto
Na manhã do dia 2 de abril, dois assessores do primeiro escalão do Ministério da Justiça, diretamente subordinados ao ministro Márcio Thomaz Bastos, prestaram depoimento sigiloso à Polícia Federal. O chefe de gabinete do ministro, Cláudio Alencar, e o secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça, Daniel Goldberg, confessaram que a ordem para a violação do sigilo bancário veio de Palocci. Os dois afirmaram que foram convocados pelo ex-ministro para uma reunião às 23h do dia 16 de março, em sua própria residência, para articular a defesa de Palocci.

O ministro, na presença do então presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, consultou os assessores sobre as possibilidades de incriminar o caseiro, utilizando para isso tanto o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) quanto a própria Polícia Federal. O presidente da CEF já havia violado o sigilo do caseiro e entregado, na tarde do mesmo dia, o extrato de Francenildo à Palocci. Dias depois, a Polícia Federal abria um inquérito para investigar o caseiro com base em denúncia feita pelo Coaf.

Todos sabiam que ordem para violar o sigilo de Francenildo veio diretamente do ex-ministro da Fazenda. No entanto, a crise política se aprofundou devido à descoberta do envolvimento dos assessores de Thomaz Bastos no crime. Com isso, o ministro da Justiça, antes poupado pela oposição de direita, vai direto para o centro da fogueira do escândalo. Vai ser bem difícil para Bastos provar que “nada sabia” sobre a articulação governista para incriminar o caseiro.

Tiro sai pela culatra
O depoimento de Mattoso à PF, afirmando que o próprio Palocci lhe ordenou a quebra do sigilo de Francenildo, foi o estopim para a queda do ministro. Antes, o então ministro havia tentado convencer Mattoso a assumir sozinho a culpa. Segundo a revista Veja, o governo chegou a procurar um bode expiatório dentro da CEF ao preço de R$ 1 milhão.

Lula, por sua vez, tentou de todas as formas acobertar Palocci, demitindo-o somente quando todas as possibilidades foram esgotadas. Agora, revela-se o conjunto das instituições atreladas ao governo e agindo para encobrir suas atividades corruptas. Ministério da Justiça e da Fazenda e seus órgãos subordinados: Coaf, Polícia Federal, a própria direção da CEF. Até mesmo o Supremo Tribunal Federal, que impediu o depoimento de Francenildo à CPI dos Bingos. Na base de tudo isso, o Congresso Nacional e a CPI dos Correios, que poupam Lula e preparam uma enorme pizza para encerrar as investigações sobre o mensalão.

O indiciamento de Palocci pela PF, que deve ocorrer nos próximos dias, é, nesse contexto, uma tentativa desesperada da Polícia Federal resgatar sua credibilidade. O governo também, após as sucessivas denúncias, parece ter abandonado o ex-ministro à própria sorte.

Tensão eleitoral
Não é coincidência que esse escândalo estoure justamente quando os tucanos definem seu candidato às eleições. O bloco PSDB-PFL partiu para a ofensiva na tentativa de desgastar eleitoralmente Lula. É bastante provável que a oposição de direita esteja por trás dessas revelações. No entanto, junto com o governo Lula, as próprias instituições da democracia burguesa ficam cada vez mais desacreditadas.